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O revestimento de poliuretano de implantes mamários mostrou reduzir a contratura capsular em estudos de seguimento a longo prazo. Embora o mecanismo exato que leva à contratura capsular seja desconhecido, vários fatores influenciam a incidência da contratura, incluindo biofilmes, infecções, hematoma, irradiação, tabagismo, superfície do implante, colocação subglandular, uso pós-operatório de sutiã cirúrgico e acesso periareolar.
Com base na análise multivariada de Kaplan-Meier, os dois fatores contribuintes mais fortes para a contratura capsular são implantes de superfície lisa e colocação subglandular. Além disso, o tamanho do dispositivo é inversamente proporcional ao risco de desenvolver contratura: o aumento do tamanho está associado a um menor risco de contratura capsular. As incisões inframamárias resultaram em taxas reduzidas de contratura, mas não são aconselháveis para formas de mama tubulares ou ptose graus I e II, mamas de tamanho inferior a 200 g ou quando o sulco inframamário é inexistente ou alto.
Estudos histológicos em torno de todos os tipos de implantes revelam que a contratura está associada a uma reação tipo corpo estranho em que os macrófagos são predominantes. Em implantes de camada lisa, uma monocamada densa de células inflamatórias envolve a superfície do corpo estranho. Ao longo do tempo, os macrófagos secretam substâncias que atraem fibroblastos e incentivam a proliferação destes. Os fibroblastos produzem colágeno, que por sua vez produz contratura circunferencial quando colocada sob tensão pelo tecido fibroso.
As análises microscópicas mostraram que o poliuretano produz um revestimento irregular e interligado que se assemelha a uma malha esponjosa, permitindo que a reação do corpo estranho preencha os espaços na malha. Em vez de criar uma única cápsula de colágeno longitudinal, como em implantes lisos, o colágeno deve ser depositado ao longo da forma esponjosa irregular do revestimento. A tensão do tecido fibroso é, portanto, espalhada ao redor do implante como um todo, em vez de se estender em uma direção linear, reduzindo a incidência de contratura.
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Outro fator que leva a uma menor incidência de contratura em implantes revestidos de poliuretano é a biodegradação do poliuretano, que faz com que ele se fragmente. Os fragmentos são fagocitados por macrófagos e produzem a mesma reação por corpo estranho descrita acima, formando microcápsulas. Cada microcápsula é individualmente envolvida em tecido fibrótico, impedindo o alinhamento organizado de miofibroblastos, o que, por sua vez, evita o alinhamento de vetores de força necessários para o desenvolvimento de contratura capsular.
Embora esta propriedade do revestimento de poliuretano contribua para a diminuição da incidência de contratura, também aumenta a taxa de degradação. Na maioria dos casos, o revestimento de espuma de poliuretano começa a desaparecer cerca de dois anos após a cirurgia.
Além da diminuição das taxas de contratura, esse tipo de implante fica muito aderido à capsula fibrosa sendo útil em mastopexias evitando a rotação do implante. Como desvantagem, a remoção do implante é sempre mais difícil justamente por essa aderência. A rotação do implante é incomum.
Caso Clínico:
Paciente de 41 anos, sexo feminino, submetida à mastopexia com inclusão de implantes de poliuretano 180cc em novembro de 2017. Cirurgia sem intercorrências. Em janeiro de 2018, 60 dias após a cirurgia, referiu que ao acordar percebeu mudança na forma da mama esquerda. Ao exame apresentava a mama acima referida com alteração da forma com perda do desenho do polo superior, semelhante a uma prateleira.
A Ressonância Magnética mostrou rotação superior da pastilha de fechamento da prótese sugerindo rotação. Como essas próteses são muito aderidas às cápsulas, o reposicionamento por manobra manual em consultório mostrou-se ineficaz.
A paciente foi, então, reoperada em 21 de fevereiro. No per-operatório, devido às características do implante, ao removê-lo, ele se rompeu. Foi avaliada a cápsula existente e a loja do implante compatíveis com o tamanho (180cc). Reimplantado, então, prótese idêntica. Embora rara, a rotação desse tipo de implante é de difícil tratamento ambulatorial necessitando reintervenção cirúrgica.
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