Como a infusão intratecal de fármacos age no tratamento da dor crônica?

A infusão intratecal de fármacos é um procedimento útil no controle da dor crônica. O objetivo é oferecer uma dose menor com menor risco de efeitos adversos. Saiba mais:

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A infusão intratecal de fármacos (IIF) através de dispositivo implantado é um procedimento muito útil no controle de dores crônicas. A ideia principal é oferecer uma dosagem menor de medicamento com menor possibilidade de efeitos adversos do mesmo fármaco, por uma via de administração que esteja “mais próxima” ao alvo de ação das medicações analgésicas.

É uma técnica cirúrgica invasiva, e por isso, traz a atenção dos profissionais todos os cuidados que necessitam os procedimentos cirúrgicos. Entre os cuidados que requerem a atenção redobrada por parte do corpo clínico está um dos mais importantes: a seleção dos pacientes que serão submetidos ao procedimento. Em outras palavras, qual paciente tem a maior chance de se beneficiar dessa terapia? E justamente para tentar responder à pergunta iremos seguir diretrizes internacionais para aumentar as chances de sucesso e assim um controle e alívio na dor dos pacientes.

É importante informar que essa seleção dos pacientes que será descrita a seguir se trata de uma seleção de pacientes aptos para a realização de um teste chamado Trial, no qual há a administração dos medicamentos por via peridural ou intratecal. Isso quer dizer que mesmo se o paciente preencher esses critérios de seleção de forma muito clara, ele ainda precisará passar por um teste realizado com o paciente internado por alguns dias, para então decidir em conjunto com a equipe interdisciplinar e o próprio paciente sobre a implantação do dispositivo definitivo.

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Quando falamos na seleção de pacientes, além de avaliarmos dados técnicos, é imprescindível estabelecermos uma relação médico-paciente adequada, na qual o paciente se sinta seguro e veja o médico como alguém confiável para o qual ele possa contar de forma detalhada seus sintomas e suas expectativas com relação ao resultado do tratamento.

Entre os fatores que podemos citar, de forma resumida, como critério para seleção de pacientes estão:

1) Paciente demonstra boa resposta aos opioides

Condição inicial para se pensar em terapia de infusão intratecal de fármacos. Como a medicação padrão é a morfina, não há como tentar essa técnica de controle da dor se o paciente nem ao menos fez uso de opioide pela via sistêmica.

2) Alta doses de opioides sistêmicas evoluindo com efeitos adversos

É a indicação mais comum de IIF. Podemos exemplificar essa indicação quando o paciente já usa opioides para o tratamento de dores crônicas, porém, com o passar do tempo, há a necessidade de aumento da dose para o controle da dor.

Paciente vai necessitando cada vez de mais e mais aumento, e chega a altas doses que consequentemente propicia a um maior risco de reações adversas medicamentosas, quando se tornam intoleráveis chega-se ao ponto de ser uma boa indicação para o Teste para o uso de morfina intratecal.

Entre as reações adversas aos opioides podemos citar entre os mais comuns: sedação, náuseas, vômitos, cefaleia, constipação, rash cutâneo, prurido.

3) Falha a terapias menos invasivas

A dor precisa ser refratária a terapias menos invasivas. Entre o tipo se terapia podemos citar: medicações e associações de medicações, terapias físicas, bloqueios nervosos e métodos de neuromodulação.

4) Deve haver uma causa identificável da dor

É preciso que tenha, além de outras indicações para a realização do teste da IIF, a presença de alguma causa identificável consistente com a queixa de dor

Na avaliação geral através da historia clinica bem detalhada e um exame físico minucioso, deve se encontrar algo que esteja de acordo com as características da dor que o paciente relata. Essa condição é de suma importância para um bom resultado quanto ao tocante do teste e consequentemente da terapia definitiva.

5) Quando não há presença de contraindicações para o implante

Entre as contraindicações podemos citar :

a) Absolutas:

  • Infecção
  • Anemia Aplásica
  • Uso continuo de drogas injetáveis
  • Alergia a componentes do implante e a medicação
  • Coagulopatia
  • Expectativa de vida menor que três meses
  • Psicopatologias

b) Relativas

  • História de dificuldade em cicatrização
  • Massa corpórea insuficiente para o implante
  • Suporte familiar ou social ruim
  • Em reabilitação por uso de drogas injetáveis

6) Deve ter uma avaliação Psicológica e Psiquiátrica

Comorbidades psiquiátricas podem afetar negativamente a eficácia desse tipo de terapia. Sendo assim , faz-se necessária uma avaliação com psicologo e com psiquiatra, especializados em pacientes com dores crônicas, para a seleção de pacientes adequados ao tratamento.

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Referências:

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