O transtorno do espectro do autista (TEA) é um transtorno relacionado ao desenvolvimento neurológico. Sua caracterização é feita pelos sinais e sintomas apresentados pela pessoa, que compreendem dificuldade em se comunicar, dificuldade de interação social e por interesses ou movimentos repetidos realizados pela pessoa. A gravidade é variável podendo haver peculiaridades de acordo com a subjetividade da pessoa. O prognóstico é de acordo com possíveis intervenções, por isso, profissionais e familiares devem estar preparados para realizar intervenções corretas objetivando autonomia.
Transtorno do espectro autista (TEA)
Inicia-se nos primeiros anos de vida e apenas em alguns casos os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Na maioria dos casos a doença apenas é identificada após o primeiro ano de vida, período no qual há maior exigência da comunicação, nas relações sociais, no manuseio de objetos. O diagnóstico evita uma série de problemas para a criança. Normalmente o atraso no desenvolvimento motor e a regressão de habilidades já desenvolvidas sinalizam o aparecimento da doença, assim como apresentar dificuldade na relação com sons, ruídos e vozes em dado ambiente.
Característica importantes devem ser levadas em consideração. Em muitos casos, a criança não apresenta sorriso social, apresentando baixo contato ocular e demonstrar maior interesse por objetos a pessoas. O toque e a verbalização diminuída ou ausente podem ainda ser sintomas comuns na criança com autismo. Sendo necessário observar distúrbios do sono que muitas vezes pode ser um quadro grave e dificuldade de permanecer no colo da mãe com pouca resposta durante a amamentação. Essa avaliação pode contribuir para identificar o autismo ainda quando a criança não completou um ano.
Os casos de autismo aumentaram muito no mundo. Nos Estados Unidos da América entre 2000 e 2002, a cada 150 crianças 1 criança apresentava o transtorno. Já no ano de 2014 1 a cada 58 crianças apresentaram autismo no mesmo local de estudo. A prevalência é maior em meninos e 1/3 das crianças diagnosticadas apresentam deficiência intelectual. Ainda há relação do TEA com outros transtornos psíquicos e problemas motores.
Não são claros os avanços epidemiológicos da doença, mas fatores ambientais, sociais e genéticos já foram considerados, bem como idade dos país na concepção, negligência infantil, exposição medicamentosa ou a drogas no período pré-natal, pelo fator teratogênico, baixo peso e prematuridade.
Leia também: Animais de estimação robóticos no tratamento de crianças com autismo e idosos
Sinais de alerta
- Seis meses: poucas expressões faciais, baixo contato ocular, ausência de sorriso social e pouco engajamento sociocomunicativo;
- Nove meses: não faz parte de turno participativo, não balbucia, não olha quando chamado, não olha pra onde o adulto aponta, imitação pouca ou ausente;
- 12 meses: ausência de balbucios, não apresenta gestos convencionais como abanar para dar tchau, não fala mamãe ou papai, ausência de atenção compartilhada;
- Em qualquer idade: perdeu habilidades.
Síndrome de Asperger
A síndrome de Asperger está classificada dentro do TEA. Pessoas com esse diagnóstico apresentam sintomas mais tardios, uma vez que esses sintomas excluem problemas iniciais com a linguagem verbal e cognição. Geralmente apresentam dificuldade de sustentar o olhar e poucas expressões faciais. Habilidades supranormais podem ser identificadas em muitos dessas crianças.
Crianças que apresentem qualquer sintoma relacionada ao TEA e que apresente comprovado atraso psicomotor deve ser encaminhada para avaliação por profissionais especializados.
Triagem MCHAT-R
A identificação precoce do autismo é muito importante. Os sinais clínicos podem ser identificados após o primeiro ano de vida. Para tal proposição um famoso instrumento foi criado. O instrumento de triagem MCHAT-R (Modifield Checklist for Autism in Toddlers) serve para identificar possíveis problemas relacionados e servir de orientação para os pais, quanto a estimulação correta. Esse instrumento é um teste de triagem, não sendo um teste diagnóstico. O objetivo do teste é identificar sinais precoces de autismo.
Quando o MCHAT-R se apresenta alterado, a estimulação adequada deve ser realizada evitando problemas futuros. Medidas como maior interação entre pais-criança, orientação quanto a sons e ruídos no lar, contato afetivo, condições do sono, tempo de exposição a instrumentos tecnológicos, alimentação e atividades ao ar livre devem ser avaliados.
O instrumento deve ser acionado durante a consulta do profissional e o objetivo é a busca de suspeita de TAE. Um resultado positivo não quer dizer que o mesmo tenha o diagnóstico de TAE, mas o teste pode indicar outros transtornos do desenvolvimento. O questionário é online e totalmente autoexplicativo e fácil de ser utilizado. São 20 questões claras com respostas objetivas (sim/não). Ao final um resultado será revelado indicando o baixo risco, o risco moderado ou alto risco.
Mais do autor: Enfermagem estética: normatização e atuação
A seguir podemos compreender melhor a pontuação do instrumento:
- Risco baixo: pontuação no valor total de 0-2 em crianças menores de 24 meses deve-se repetir o processo em até 24 meses, com a exceção de a criança apresentar outros sinais clínicos no período;
- Risco moderado: pontuação entre 3-7, realizar teste adicional denominado MCHAT- R/F, para coletar informações adicionais sobre risco de TAE. Se o MCHAT-R/F se a pontuação permanecer igual ou maior que 2, a criança possui evidencias positivas para TEA, mas se for inferior (0-1) a pontuação será negativo na triagem de TEA. Em outras consultas a criança deve repetir o exame;
- Risco alto: A pontuação para esse tipo de teste é entre 8-20, necessitando de encaminhar a criança para avaliação e possível diagnóstico, necessitando de intervenção.
Quadro 1: M-CHAT-R. Para triagem, as perguntas abaixo devem ser respondidas. Em caso de o comportamento ter acontecido algumas vezes (por exemplo, uma ou duas vezes), mas não for habitual, a resposta deve ser “não”.
1. |
Se você apontar para qualquer coisa do outro lado do cômodo, sua criança olha para o que você está apontando? (Por exemplo: se você apontar para um brinquedo ou um animal, sua criança olha para o brinquedo ou animal?) | Sim | Não |
2. | Alguma vez você já se perguntou se sua criança poderia ser surda? | Sim | Não |
3. | Sua criança brinca de faz-de-conta? (Por exemplo, finge que está bebendo em um copo vazio ou falando ao telefone, ou finge que dá comida a uma boneca ou a um bicho de pelúcia?) | Sim | Não |
4. | Sua criança gosta de subir nas coisas? (Por exemplo, móveis, brinquedos de parque ou escadas) | Sim | Não |
5. | Sua criança faz movimentos incomuns com os dedos perto dos olhos? (Por exemplo, abana os dedos perto dos olhos?) | Sim | Não |
6. | Sua criança aponta com o dedo para pedir algo ou para conseguir ajuda? (Por exemplo, aponta para um alimento ou brinquedo que está fora do seu alcance?) | Sim | Não |
7. | Sua criança aponta com o dedo para lhe mostrar algo interessante? (Por exemplo, aponta para um avião no céu ou um caminhão grande na estrada?) | Sim | Não |
8. | Sua criança interessa-se por outras crianças? (Por exemplo, sua criança observa outras crianças, sorri para elas ou aproxima-se delas?) | Sim | Não |
9. | Sua criança mostra-lhe coisas, trazendo-as ou segurando-as para que você as veja – não para obter ajuda, mas apenas para compartilhar com você? (Por exemplo, mostra uma flor, um bicho de pelúcia ou um caminhão de brinquedo?) | Sim | Não |
10. | Sua criança responde quando você a chama pelo nome? (Por exemplo, olha, fala ou balbucia ou para o que está fazendo, quando você a chama pelo nome?) | Sim | Não |
11. | Quando você sorri para sua criança, ela sorri de volta para você? | Sim | Não |
12. | Sua criança fica incomodada com os ruídos do dia a dia? (Por exemplo, sua criança grita ou chora com barulhos como o do aspirador ou de música alta?) | Sim | Não |
13. | Sua criança já anda? | Sim | Não |
14. | Sua criança olha você nos olhos quando você fala com ela, brinca com ela ou veste-a? | Sim | Não |
15. | Sua criança tenta imitar aquilo que você faz? (Por exemplo, dá tchau, bate palmas ou faz sons engraçados quando você os faz?) | Sim | Não |
16. | Se você virar a sua cabeça para olhar para alguma coisa, sua criança olha em volta para ver o que é que você está olhando? | Sim | Não |
17. | Sua criança busca que você preste atenção nela? (Por exemplo, sua criança olha para você para receber um elogio ou lhe diz “olha” ou “olha para mim”?) | Sim | Não |
18. | Sua criança compreende quando você lhe diz para fazer alguma coisa? (Por exemplo, se você não apontar, ela consegue compreender “ponha o livro na cadeira” ou “traga o cobertor”?) | Sim | Não |
19. | Quando alguma coisa nova acontece, sua criança olha para o seu rosto para ver sua reação? (Por exemplo, se ela ouve um barulho estranho ou engraçado, ou vê um brinquedo novo, ela olha para o seu rosto?) | Sim | Não |
20. | Sua criança gosta de atividades com movimento? (Por exemplo, ser balançada ou pular nos seus joelhos?) | Sim | Não |
MCHAT-R/F
O MCHAT-R/F é construído para ser utilizado com o MCHAT-R, a ideia é utilizar para rastreio em crianças entre 16 e 30 meses ou nos casos de pontuação entre 3-7 do MCHAT-R. O MCHAT R-F possui os mesmos itens do MCHAT-R no entanto, as respostas devem ser passa ou falha, não sendo apenas sim ou não. Nos itens em que a criança falhou deve ser feita a entrevista completa encontrada neste link!
Se a entrevista tiver resultado positivo, encontrando falhas em qualquer item na entrevista de seguimento então deve a família ser encaminhada para consulta com especialista e já orientada sobre estimulação diária à criança. Os profissionais e os pais que permanecerem na dúvida de qualquer resultado do teste devem buscar outros tipos de avaliação. A utilização dos instrumentos devem ser realizadas acompanhados de uma avaliação clínica. Todas as informações trazidas pelos familiares devem ser consideradas.
Quer saber mais sobre condutas em enfermagem? Baixe grátis o aplicativo Nursebook, agora disponível em Android e iOS.
Referências bibliográficas:
- American Psychiatric Association. Manual de diagnóstico e estatistico de transtornos mentais: DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. 848 p.
- Grinker RR. Autismo um mundo obscuro e conturbado. São Paulo: Larrousse do Brasil; 2010. 320 p.
- Ribeiro TC, Casella CB, Polanczyk GV. Transtorno do Espectro do Autismo. In: Miotto E, Lucia M, Scaff M, editors. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca; 2017.
- Robins D, Fein D, Barton M, Resegue RM (Trad. Questionário Modificado para a Triagem do Autismo em Crianças entre 16 e 30 meses, Revisado, com Entrevista de Seguimento (M-CHAT-F/F)TM [Internet]. 2009 Available from: http://www.mchatscreen.com. [cited 2020 Jan 22].
- SPB. Sociedade Brasileira de Pediatria. Transtorno do espectro autista. Manual de orientação. Departamento de pediatria do desenvolvimento e comportamento. Nº5, 2019.
Muito interessante e explicativo seu artigo . Gostei do teste.
Obrigada.