A deficiência de vitamina B12 é um dos problemas nutricionais frequentes na prática clínica de médicos e nutricionistas. Indivíduos idosos e alcoolistas formam os grupos de risco tradicionais que, nos tempos mais recentes, somaram-se a outros, como vegetarianos, usuários de certos fármacos e pacientes que fizeram cirurgia bariátrica. Entretanto, muitas dúvidas persistem entre os clínicos sobre as formas de condução desse quadro, desde o diagnóstico até o tratamento, passando pela prevenção.

Recentemente, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) reuniu especialistas no assunto a fim de produzir um consenso com a finalidade de sugerir as melhores práticas, baseadas em evidências científicas, para a condução dos pacientes em risco ou já deficientes em vitamina B12.¹

Metodologia usada – Consenso

Os autores optaram por realizar uma revisão integrativa, consultando as bases mais respeitadas dentro do universo das publicações científicas, tais como Pubmed, Scielo, Scopus, Science Direct, Google Scholar, etc. Feito o levantamento, os dados obtidos foram organizados em tópicos e debatidos entre os membros da equipe de trabalho até que se chegassem a conclusões aceitas por todos. Dessa forma, uma série de definições foram obtidas e descritas no material publicado.¹ A seguir, um resumo das principais.

Grupo de risco

O Quadro 1 mostra os principais grupos de risco definidos pelo Consenso. Pode-se observar que houve cuidado na inclusão de todos os pacientes que potencialmente podem-se apresentar como candidatos a deficiência presente ou provável. Como em todas as doenças, a prevenção é sempre mais eficiente que o tratamento. Isso é particularmente relevante no tocante à vitamina B12, porque  o quadro de balanço negativo desse nutriente pode passar desapercebido por anos e as manifestações podem se apresentar de maneira súbita e, muitas vezes, graves. Dessa forma, a definição clara de grupos de risco permite que a maior parte dos pacientes sejam abordados ainda antes de se tornarem gravemente deficientes.

Encontre aqui o consenso na íntegra

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Quadro 1

Principais grupos de risco para deficiência de B12

Manifestações clínicas

O quadro 2 mostra as principais manifestações clínicas determinadas pelo consenso. É importante notar que os autores enfatizam que mesmo pacientes já deficientes podem se apresentar assintomáticos por muitos anos. Dessa forma, a história clínica pode apresentar dados que apontem para o risco bem antes de os sinais e sintomas apresentados no quadro 2 surgirem.

 Quadro 2

Manifestações clínicas da deficiência de vitamina B12

Diagnóstico

O consenso verificou que o diagnóstico da deficiência pode ser bastante desafiador, entretanto algumas definições puderam ser obtidas e estão resumidas no quadro 3.

Quadro 3

Diagnóstico da deficiência de vitamina B12

• Para se considerar a hipótese diagnóstica da deficiência de B12 em consultório, dados clínicos e epidemiológicos quase sempre são suficientes;
• A confirmação deve ser feita através da dosagem de vitamina B12 serica;
• Valores entre 200 e 300 pg/mL devem ser considerados limítrofes e exigem investigação de outros marcadores, como transcobalamina, ácido metilmalônico e homocisteína;
• Níveis abaixo de 200 pg/mL devem ser considerados como indicativos de deficiência inequívoca;
• Valores acima de 300 pg/mL devem ser considerados normais.

Profilaxia e tratamento

O novo consenso da ABRAN trouxe importantes definições relativas à profilaxia e ao tratamento da deficiência de vitamina B12. A extensa revisão da literatura científica que foi implementada permitiu que, pela primeira vez no Brasil, critérios terapêuticos fossem claramente determinados. As principais recomendações encontram-se no quadro 4.

Quadro 4

Recomendações do consenso da ABRAN para a profilaxia e o tratamento da deficiência de vitamina B12

• A suplementação profilática deve ser feita em todos os pacientes pertencentes aos grupos de risco (Quadro 1), independentemente de exames laboratoriais;
• Pacientes com deficiência instalada de B12 ou aqueles com indicação de suplementação profilática devem ser tratados com a maior rapidez possível e através de esquema terapêutico individualizado e que garanta a reversão do quadro;
• O uso da via oral está indicado apenas para aqueles pacientes em que não exista qualquer problema relativo à absorção no trato digestório e em que não exista urgência terapêutica;
• As vias parenteral e sublingual garantem a passagem da B12 diretamente para a via circulatória e, por esse motivo, são as vias preferenciais;
• Tanto a via parenteral como a sublingual são eficazes para corrigir e manter o estado nutricional de vitamina B12,_, mesmo em pacientes que apresentam problemas relativos à absorção no trato digestório;
• Considerando-se os riscos relativos à via parenteral e o conforto do paciente e, levando-se em conta a eficiência constatada na Literatura, o presente consenso considera que a via sublingual pode ser a escolha na maioria dos casos.

 Considerações finais

A publicação do novo Consenso da Associação Brasileira de Nutrologia sobre diagnóstico, profilaxia e tratamento da deficiência de vitamina B12¹ veio preencher uma lacuna importante no que diz respeito à padronização de condutas sobre o tema. A partir desse material, o clínico passa a contar com uma referência atualizada e baseada em evidências para auxiliá-lo na tomada de decisões diagnósticas e terapêuticas relativas a esse importante problema nutricional de saúde pública.

“Considerando-se os riscos relativos à via parenteral e o conforto do paciente e, levando-se em conta a eficiência constatada na Literatura, o presente consenso considera que a via sublingual pode ser a escolha na maioria dos casos.“

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