Corticosteroides orais em crianças associado a sangramento gastrointestinal, sepse e pneumonia

Estudo realizado em Taiwan concluiu que “explosões” corticosteroides orais em crianças estão associadas a diversas enfermidades. Saiba mais.

Um estudo realizado em Taiwan concluiu que “explosões” de corticosteroides orais em crianças, comumente prescritos em condições respiratórias e alérgicas, estão associadas a um risco 1,4 a 2,2 vezes maior de sangramento gastrointestinal (GI), sepse e pneumonia no primeiro mês após o uso. Os resultados foram publicados no jornal JAMA Pediatrics.

Os corticosteroides orais são a base do tratamento para várias doenças inflamatórias, como artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal e asma, conforme recomendado por diretrizes internacionais. Há mais de cinquenta anos, sabe-se que o uso de corticosteroides orais em longo prazo está associado a eventos adversos subsequentes, incluindo características cushingoides, sangramento GI, infecções, glaucoma, hiperglicemia, doenças cardiovasculares e osteoporose

corticosteroides orais em crianças e seus riscos

O estudo

Para quantificar as associações de “explosões” de corticosteroides orais em crianças com eventos adversos graves, incluindo sangramento GI, sepse, pneumonia e glaucoma em crianças, Yao e colaboradores conduziram um estudo de coorte que usou dados derivados do National Health Insurance Research Database em Taiwan no período entre 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017, incluindo crianças menores de 18 anos de idade e usando um projeto de série de casos autocontrolado. Os dados foram analisados de 1º de janeiro a 30 de julho de 2020.

A “explosão” foi definida como o uso de corticosteroides orais por 14 dias. Foram calculadas as taxas de incidência de quatro eventos adversos graves (sangramento GI, sepse, pneumonia e glaucoma) em crianças que receberam ou não doses de corticosteroides. A regressão de Poisson de efeito fixo condicional foi usada para estimar as razões de taxas de incidência (RTI) de eventos adversos graves dentro de 5 a 30 dias e 31 a 90 dias após o início do corticosteroide. 

Entre 4.542.623 crianças, 23% (1.064.587) receberam uma única dose de corticosteroide. Destes, 51,1% eram meninos e a idade média foi de 9,7 anos. As indicações mais comuns foram infecções agudas do trato respiratório e doenças alérgicas.

As diferenças na taxa de incidência por 1000 pessoas-ano entre crianças que receberam uma única dose de corticosteroide e aquelas que não receberam corticosteroides foram 0,60 (intervalo de confiança de 95% [IC 95%], 0,55-0,64) para sangramento GI, 0,03 (IC 95%, 0,02-0,05) para sepse, 9,35 (IC 95%, 9,19-9,51) para pneumonia e 0,01 (IC 95%, 0,01-0,03) para glaucoma. As RTI dentro de 5 a 30 dias após o início do corticosteroide em tempo superior a 14 dias foram 1,41 (IC 95%, 1,27-1,57) para sangramento GI, 2,02 (IC 95%, 1,55-2,64) para sepse, 2,19 (IC 95%, 2,13-2,25) para pneumonia e 0,98 (IC 95%, 0,85-1,13) para glaucoma; as RTI nos 31 a 90 dias subsequentes foram 1,10 (IC 95%, 1,02-1,19) para sangramento GI, 1,08 (IC 95%, 0,88-1,32) para sepse, 1,09 (IC 95%, 1,07-1,11) para pneumonia, e 0,95 (IC 95%, 0,85-1,06) para glaucoma.

Resultados do estudo sobre corticosteroides orais em crianças

Portanto, neste estudo de coorte de base populacional nacional em Taiwan, de 1.064.587 crianças que receberam uma única “explosão” de corticosteroide, houve associação a um risco 1,4 a 2,2 vezes maior de sangramento GI, sepse e pneumonia no primeiro mês após o início do medicamento.

Os pesquisadores salientaram que este estudo demonstrou que doses de corticosteroides orais em crianças são comumente prescritas em condições sem risco de vida, incluindo infecções agudas do trato respiratório e doenças alérgicas. Entretanto, esse estudo chama a atenção para a possibilidade de eventos adversos raros, mas potencialmente graves, associados ao uso de doses excessivas de corticosteroide em crianças, principalmente durante o primeiro mês após o início da terapia. Esses achados fornecem evidências para médicos e desenvolvedores de diretrizes para implementar estratégias com benefício ideal sobre taxas de risco, prevenindo danos evitáveis ​​do uso de doses de corticosteroide em pediatria.

Leia também: Choque séptico em pediatria: quais corticosteroides usar?

Conclusões

Vejo esse estudo como um reforço à necessidade de prescrição racional do uso de corticoides, avaliando-se sempre seus riscos e benefícios, considerando-se sempre a possibilidade de eventos adversos. Além disso, o pediatra deve sempre orientar os pais sobre a forma correta de uso. Na prática, presenciei muitos pais que administraram corticoide por tempo prolongado em quadros respiratórios leves infantis por considerar que o fármaco tinha ação expectorante semelhante a um xarope. 

Referências bibliográficas:

  • Yao TC, et al. Association of Oral Corticosteroid Bursts With Severe Adverse Events in Children [published online ahead of print, 2021 Apr 19]. JAMA Pediatr. 2021. doi: 10.1001/jamapediatrics.2021.0433

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.