O uso do fosfato de cloroquina e do sulfato de hidroxicloroquina foi liberado nos Estados Unidos para o tratamento de pacientes com casos graves da Covid-19, que estejam internados em hospitais. A decisão foi tomada em caráter emergencial para o combate à pandemia causada pelo novo coronavírus.
Apesar da liberação da agência norte-americana de vigilância sanitária (FDA), a eficácia das substâncias ainda não está comprovada em estudos clínicos de grande porte. Segundo a agência, os possíveis benefícios justificam os riscos em potencial. A FDA não apontou novos estudos para justificar a decisão.
Regras para uso nos Estados Unidos:
- Tanto o fosfato de cloroquina quanto o sulfato de hidroxicloroquina devem ser administrados por um profissional de saúde com uma receita médica;
- Os medicamentos somente podem ser utilizados no tratamento de adultos ou adolescentes com mais de 50 kg e em internação em decorrência da Covid-19;
- Deve-se usar o estoque estratégico disponibilizado para o tratamento específico da Covid-19.
Na prática, a medida libera o uso dos remédios para o combate ao coronavírus mesmo que não haja um registro da FDA oficial e permanente para a Covid-19, evitando problemas judiciais aos hospitais.
Por enquanto, não há um tratamento disponível e totalmente testado contra a doença causada pelo novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acompanha as pesquisas científicas sobre novos medicamentos com potenciais riscos ainda em estudo.
Uso de cloroquina no Brasil
O protocolo para uso do fármaco no Brasil restringe a sua utilização a pacientes graves internados em hospitais. O tratamento deve acontecer por apenas cinco dias, sob supervisão médica. O Ministério da Saúde anunciou a distribuição de 3,4 milhões de unidades do medicamento para os estados brasileiros.
Uma nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicada antes da liberação pontuava que o sucesso dos estudos pré-clínicos com o uso do medicamento justificava a pesquisa clínica em pacientes com a Covid-19. Nesse sentido, a agência destacava que dados de segurança e dados de ensaios clínicos de maior qualidade eram, portanto, urgentemente necessários.
Cabe lembrar que muitos especialistas de saúde criticam a decisão do Brasil e dos Estados Unidos por não haver evidências científicas concretas de que essas substâncias funcionem, uma vez que elas serão utilizadas em pacientes graves, possivelmente com alguma comorbidade – como diabetes e cardiopatias -, e que podem sofrer efeitos adversos significativos, com riscos sobretudo, para o coração e o fígado.
Projeto Coalizão Covid Brasil
Foi lançado recentemente o Projeto Coalizão Covid Brasil, liderado pelos hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês e HCor, além da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva, para, entre outros objetivos, realizar testes clínicos com a cloroquina e a hidroxicloroquina.
O objetivo é realizar testes em 70 hospitais pelo país em mais ou menos mil pessoas com diferentes quadros: dos leves aos mais graves, inclusive aqueles que estão na UTI. A pesquisa deve durar entre dois e três meses.
Leia também: Características clínicas de pneumonia refratária por Covid-19
A primeira fase da pesquisa envolverá pacientes de menor gravidade internados por Covid-19. Nestes pacientes será avaliado se a hidroxicloroquina é eficaz em melhorar o quadro respiratório. Também será avaliado se adicionar o medicamento azitromicina, que pode potencializar a ação da hidroxicloroquina, terá efeito benéfico adicional. Serão incluídos nesta primeira fase 630 pacientes.
A segunda fase da pesquisa envolverá casos mais graves, que necessitam de maior suporte respiratório. Nesta, todos os pacientes receberão hidroxicloroquina para verificar se a azitromicina tem efeito benéfico adicional, com potencial de melhorar os problemas respiratórios causados pelo novo coronavírus. Os centros participantes são os mesmos e serão incluídos em torno de 440 pacientes.
Já a terceira fase do estudo vai avaliar a efetividade da dexametasona, uma medicação com ação anti-inflamatória, para pacientes com insuficiência respiratória grave, que necessitam de suporte de aparelhos para respirar. Nesta pesquisa serão incluídos 284 pacientes.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- https://www.usnews.com/news/health-news/articles/2020-03-31/fda-approves-malaria-drugs-to-treat-covid-19-despite-little-proof-they-work
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-52067244
- https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/coalizao-covid-brasil-convida-medicos-pesquisadores-e-profissionais-da-saude-para-pesquisa-sobre-tratamento-de-coronavirus/
Acho que o momento e de esperança na cura e deveria tentar. Para uma melhor eficácia no tratamento.
A hidroxicloroquina deve ser administrada em conjunto com a azitromicina para ter resultados eficientes. Somente a cloroquina ou a hidroxicloroquina não conseguem atingir resultados satisfatórios.
Não entendo por que muitos médicos só falam da cloroquina e não mencionam o tratamento EM CONJUNTO com a azitromicina.
A cloroquina / hidroxicloroquina deve ser utilizada em pacientes que testem positivo para Covid -19 e que estejam em situação assintomátia ou paucissintomática (com pouco sintomas) pois, nesses casos, a viremia ainda não gerou reação inflamatória exacerbada, nem disfunção orgânica (p. ex., insuficiência respiratória). Quando esta última situação está estabelecida, significa que o vírus já produziu grande dano, que o corpo está deveras inflamado e que esta inflamação é mais problemática que o vírus em si. Então, não adianta administrar cloroquina e sucedâneos tardiamente, p. ex., quando o paciente está em franco desconforto respiratório, com lesões pulmonares visíveis aos exames radiológicos e com necessidade de ventilação mecânica. Então, em termos de saúde pública, o mais importante é testar o máximo possível de pessoas, mesmos as assintomáticas, para a detecção precoce do vírus com vistas ao uso precoce de hidroxicloroquina. Convém esclarecer que temos testado pouco e tarde (quando já há sintomas mais graves) e que isso resulta em subnotificação de casos totais e hiperestimação de letalidade. Para esclarecimento: a cloroquina atua subvertendo os receptores de superfície de membrana celular aos quais se acoplam vírus e imuneglobulinas, de tal sorte que os microorganismos e algumas proteínas não acham meios de se ligar às células para lhes causar danos (é como se trocássemos a fechadura de uma porta). Se essa medicação, então, for usada apenas quando os ‘invasores’ já, de fato, adentraram as células, de nada, ou pouco, adiantará.
Excelente comentário, Ronan. Estava procurando essa explicacao da ligação da hidrox com o vírus. como ela atua para evitar a proliferaçao viral
O sr tem como disponibilizar a fonte?
Só para registrar que a FDA também liberou o Remdesivir da poderosa Gilead e a precificação proposta está em cerca de 25.000 reas o tratamento de 10 dias.