D-dímero pode ser útil na pericardite aguda?

A pericardite aguda tem manifestações clínicas variáveis, casos assintomáticos, casos leves, autolimitados, e com mortalidade associadas.

A pericardite aguda é a doença inflamatória mais comum do coração. Geralmente é autolimitada, porém pode ter complicações graves, como tamponamento cardíaco e pericardite constritiva. A recorrência ocorre em 15% a 30% dos casos e quando frequente tem impacto em qualidade de vida.  

O reconhecimento precoce de pacientes com risco de complicações é de extrema importância e alguns escores foram propostos. Entretanto, não há ainda um marcador com bom poder preditivo. Baseado nisso, foi feito um estudo que avaliou o papel do d-dímero, produto de degradação da fibrina, em pacientes com pericardite aguda.  

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D-dímero pode ser útil na pericardite aguda?

D-dímero pode ser útil na pericardite aguda?

Métodos  

Foi estudo prospectivo que incluiu 256 pacientes internados por pericardite aguda entre os anos de 2010 e 2019. A internação na pericardite aguda é indicada apenas para casos de alto risco de complicações, porém para o estudo, todos os pacientes com o diagnóstico foram internados. Pacientes com um segundo evento, envolvimento do miocárdio (miopericardite), gestantes e pericardite tuberculosa foram excluídos. 

O diagnóstico era feito pela presença de pelo menos dois dos quatro critérios: dor torácica pleurítica, atrito pericárdico na ausculta, supradesnivelamento do segmento ST difuso e côncavo e/ou infradesnivelamento do segmento PR no eletrocardiograma e derrame pericárdico novo ou em piora. O d-dímero era coletado a partir da indicação do médico emergencista. 

Os pacientes eram tratados com anti-inflamatórios não esteroidais ou aspirina e, em caso de contraindicação, falha terapêutica ou intolerância, com corticoides. Colchicina era indicada para todos os pacientes por três meses. 

Os desfechos avaliados foram tamponamento cardíaco, fibrilação atrial, necessidade de pericardiocentese, recorrência, pericardite constritiva e morte. 

Resultados 

Dos 265 pacientes com pericardite aguda, 165 tinham exame de d-dímero coletado, sendo os níveis médios de 1456 ng/mL. Desses, 73,3% (121) tinham valores elevados (500-36581ng/mL) e 43,8% foram submetidos a angiotomografia (angioTC) para excluir embolia pulmonar ou dissecção de aorta, negativa em todos os casos.  

Pacientes com d-dímero aumentado tiveram maior prevalência de derrame pleural e pericárdico (poder discriminativo moderado) e valores mais altos do d-dímero tiveram relação com o tamanho do derrame pericárdico, níveis menores de hematócrito e níveis maiores de plaquetas e PCR.  

Não houve relação com FA, morte intra-hospitalar ou recorrência da doença, pericardite constritiva e mortalidade no seguimento médio de 51 meses. Porém houve uma tendência de maior ocorrência de tamponamento cardíaco quando o exame era aumentado. 

Considerações 

A pericardite aguda tem manifestações clínicas bastante variáveis, desde casos assintomáticos até casos leves, autolimitados, e graves, com mortalidade associada. A detecção de pacientes de alto risco de complicações é fundamental para evitar desfechos piores e o d-dímero, exame barato e facilmente obtido poderia ser um marcador de risco na emergência, auxiliando no diagnóstico e na detecção de pacientes de maior risco.  

Os resultados mostraram que grande parte dos pacientes (73,3%) tinham o exame alterado e os valores tinham relação linear com o PCR, sugerindo relação com inflamação. Anemia e aumento de plaquetas também têm relação com inflamação e foram achados evidenciados neste estudo.  

A tendência de aumento de tamponamento quando o d-dímero era mais alto faz sentido, já que este exame foi associado a derrames pericárdicos maiores. Não houve relação com os desfechos avaliados, o que sugere que o exame possa ser mais útil no diagnóstico e na avaliação de complicações na fase mais aguda e não no longo prazo. 

Importante ressaltar que este exame não é específico e se encontra aumentado em diversas situações, principalmente quando associado a doenças trombóticas. Ele é bastante útil para excluir doenças graves, como embolia pulmonar e dissecção de aorta, já que tem alto valor preditivo negativo.  

Conclusão 

Todos os pacientes com d-dímero aumentado que realizaram angioTC tiveram esse exame com resultado negativo, ou seja, pacientes com suspeita de pericardite aguda e d-dímero aumentado não devem realizar angioTC, exceto na alta suspeita de outras doenças, já que é exame caro, que utiliza radiação e contraste, podendo haver piora renal ainda mais importante pelo uso das medicações para tratamento da pericardite. 

Algumas considerações são que este estudo foi unicêntrico e pode ter havido viés de seleção, já que o centro em questão é referência para doenças do pericárdio, recebendo pacientes mais graves. Além disso, o d-dímero não é exame coletado de rotina na pericardite aguda e a coleta pode também ter sido enviesada por casos mais graves. 

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Mensagem prática 

Ainda não é possível recomendar a coleta do d-dímero para pacientes com suspeita de pericardite aguda de forma rotineira, porém é um exame que pode auxiliar no diagnóstico da doença e estratificação de risco dos pacientes, principalmente nos que tem dor torácica sem causa clara, já que funciona também como um marcador inflamatório. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Lazaros G, Vlachakis PK, Theofilis P, Dasoula FE, Imazio M, Lazarou E, Vlachopoulos C, Tsioufis C. D-dimer as a diagnostic and prognostic plasma biomarker in patients with a first episode of acute pericarditis. Eur J Intern Med. 2023 Jun 23:S0953-6205(23)00212-1.  DOI: 10.1016/j.ejim.2023.06.017. Epub ahead of print. PMID: 37357033.

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