Destaques do 16º Congresso Mundial de Cuidados Paliativos da EAPC 2019

Ocorreu em Berlim, entre os dias 23 e 25 de maio, no Centro de Convenções Estrel com a temática: “Cuidados Paliativos Globais- moldando o futuro”. Saiba mais:

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Ocorreu em Berlim, entre os dias 23 e 25 de maio, no Centro de Convenções Estrel com a temática: “Cuidados Paliativos Globais- moldando o futuro” a 16ª edição do Congresso Mundial de Cuidados Paliativos da EAPC. O evento contou com a participação de grandes nomes do Cuidado Paliativo mundial como Rajagopal, Eduardo Bruera, Scott Murray, Sheila Payne, além de mais de 3 mil congressistas de diversos países.

No palpitante contexto mundial de grandes crises políticas, econômicas e humanitárias o congresso foi bem atual. Trouxe reflexões acerca de meios de garantir a equidade no desenvolvimento e acesso a cuidados paliativos em países de baixa e média renda, bem como para grupos marginalizados (população encarcerada, população de rua, refugiados, pessoas com deficiência intelectual, idosos, mulheres).

No primeiro dia de congresso, Dr. Lukas Radbruch, presidente da Associação Alemã de Medicina Paliativa, trouxe um cenário desafiador: 61 milhões de pessoas no mundo, sendo 83% em países de baixa e média renda, vivendo com graves problemas de saúde, anualmente. A dor é um desses problemas e a distribuição de morfina é desigual, assim como seu preço que pode variar entre 0 a 78 dólares. Sendo mais cara em países pobres devido a menor oferta.

Em seguida, Dr. Rajagopal, mais conhecido como o “pai dos cuidados paliativos na Índia”, indicado ao Nobel da Paz de 2018, brindou os participantes com uma das palestras mais emocionantes. Falou com simplicidade e profundidade sobre a saúde como um direito assegurado pela OMS, mas questionou a definição ainda restrita, não contemplando o lado espiritual das pessoas. Enfatizou como ainda é uma percepção apequenada de cuidados paliativos quando o interesse se concentra em cuidar de pacientes apenas na fase final de vida, ajudando-lhes a morrer bem. Reforçou a necessidade de saber como essas pessoas vivem, pois o cuidado está intrinsecamente relacionado a direitos básicos de saúde e dignidade, como a alimentação.

Na plenária da tarde, Dr. Scott Murray, presidente da Rede Internacional de Cuidados Paliativos Primários e desenvolvedor do SPICT (uma ferramenta validada para ajudar os médicos generalistas a identificar pacientes para cuidados paliativos) brilhou. Em sua palestra falou sobre os cinco desafios a serem enfrentados na próxima década em cuidados paliativos: que o cuidado paliativo seja para todas as doenças, em todos os momentos, em todas as dimensões (social, física, psicológica e espiritual), em todos os níveis de saúde, em todas as nações. Solicitou ainda, que os médicos especialistas em cuidados paliativos assumam um papel maior no treinamento e apoiem generalistas no desenvolvimento de habilidades de acordo com o nível de assistência.

Na mesma tarde, a enfermeira Paula Damaris Barrioso, enfermeira conteudista da PEBMED, para orgulho de nós brasileiros, apresentou brilhantemente sua tese de mestrado, sobre ações de enfermagem em cuidados paliativos para inserção na atenção primária.

No segundo dia, a enfermeira Merry Gott, da Nova Zelândia, abriu a plenária falando sobre o impacto das questões relacionadas ao gênero nas experiências das pessoas no fim da vida. Trouxe dados científicos contundentes que confirmam que vivemos em uma sociedade desigual e morremos da mesma maneira. Foram citados os seguintes exemplos: devido ao sexo, mulheres têm diagnóstico de câncer de bexiga e renal tardio; mulheres com dor tem maior probabilidade de receber sedativos que analgésicos; devido à carga de trabalho doméstico, mulheres com doença avançada têm mais fadiga comparada aos homens. Concluiu que há urgência em entender o gênero como um determinante social da morte.

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Dr. Cristian Ntizimira, secretário executivo da Organização de Cuidados Paliativos e Hospice de Ruanda encerrou o congresso na plenária em uma palestra inspiradora falando da construção de cuidados paliativos com recursos limitados, na era pós-genocídio de 1994. Nesse processo de estruturação compartilhou ensinamentos preciosos: ‘”O modo como as pessoas morrem pode refletir como a sociedade vive”; em Ruanda, “Quando você está bem, você pertence a si mesmo, mas quando você está doente, você pertence à sua família’”; por isso a necessidade de “Adaptar o que se aprende em vez de duplicar” bem como a filosofia Ubuntu. Dr Ntizimira asseverou que desde 2011 Ruanda conta com uma política de Cuidados Paliativos organizando-se em redes distritais de saúde, fabricação própria de morfina e distribuição gratuita do fármaco para quem precisa. Fechou o congresso com chave-de-ouro, provando que é possível construirmos o cuidado com medidas simples e efetivas adaptadas à realidade e cultura locais.

A mensagem do congresso é do Cuidado Paliativo em um sentido mais amplo, fomentado na participação da comunidade, na atenção primária, respeitado e adaptado às particularidades de cada povo, contemplando todos, principalmente àqueles marginalizados. A visão de cuidado para além da doença, para além dos sintomas, como um compromisso humanitário e social de todos.

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