Diabetes tipo 2: até que ponto o excesso de risco pode ser reduzido?

Ainda não está claro até que ponto o excesso de risco do diabetes tipo 2 pode ser reduzido. Uma pesquisa tentou responder esse questionamento. Leia na íntegra:

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O Diabetes tipo 2 (DM2) é uma doença complexa que exige cuidados médicos contínuos com estratégias abrangentes e multifatoriais para reduzir o risco de complicações. Pacientes com DM2 correm um risco duas a quatro vezes maior de sofrer eventos cardiovasculares e morte que a população geral.

Ainda não está claro até que ponto o excesso de risco associado ao DM 2 pode ser reduzido, ou potencialmente eliminado, através da intervenção sobre diferentes fatores de risco. Para tentar responder a essa pergunta um estudo de coorte foi realizado com dados do Registro Nacional Sueco de Diabetes, incluindo cerca de 271.000 pacientes com DM2 e mais de 1.350.000 controles sem DM2 (pareados por idade, sexo e condado de origem).

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Os autores investigaram a associação entre o excesso de risco de morte e desfechos cardiovasculares entre pacientes com DM 2 de acordo com o número de ​​fatores de risco dentro das metas recomentadas pelas diretrizes atuais, em comparação com os controles.

A média de idade dos pacientes foi de 60,6 anos, e 49,4%dos pacientes eram mulheres. Um total de 37.825 pacientes com diabetes (13,9%) e 137.520 controles (10,1%) morreram durante o período do estudo (1998 a 2012).
A tabela abaixo traz os parâmetros utilizados para as principais variáveis analisadas durante o estudo.

Variável analisada Valor considerado dentro da meta
Hemoglobina glicada (A1C) <7%
Colesterol LDL 97mg/dL
Albuminúria Presença de micro ou macroalbuminúria
Tabagismo Ausente
Pressão arterial (PA) 140mmHg para PA sistólica

80mmHg para PA diastólica

diabetes

Resultados

Entre os pacientes com DM 2, o excesso de risco diminuiu gradualmente para cada variável de fator de risco dentro do intervalo alvo.

Entre os pacientes com DM2 que tinham todas as cinco variáveis ​​dentro dos limites, a razão de risco para morte por qualquer causa, em comparação com os controles, foi de 1,06 (95% intervalo de confiança [IC], 1,00 a 1,12), a taxa de risco para IAM foi de 0,84 (IC 95%, 0,75 a 0,93), e a taxa de risco para AVC foi de 0,95 (IC 95%, 0,84 a 1,07).

O risco de hospitalização por insuficiência cardíaca foi consistentemente maior entre os pacientes com DM2 do que entre os controles (HR 1,45; IC95%, 1,34 a 1,57), mesmo naqueles que tinham todas as variáveis ​​dentro da meta.

Os resultados mostraram um aumento gradativo nas razões de risco para cada variável adicional que não estava dentro do alvo entre os pacientes com DM2, e o excesso de risco de eventos cardiovasculares e morte associados ao DM2 diminuiu progressivamente dos grupos mais jovens para os de idade avançada. Pacientes com diabetes com 80 anos de idade ou mais na linha de base tiveram o menor incremento no risco de eventos cardiovasculares e morte em comparação com os controles.

Os resultados sugerem que pode haver maior benefício de tratamento mais agressivo em pacientes mais jovens com diabetes.

Excesso de mortalidade de acordo com a categoria de idade e número de fatores de risco fora da meta em pacientes com DM2 em comparação com controles.

Discussão

Estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados trazem evidências inconsistentes quanto à relação entre níveis de A1C <7% e eventos cardiovasculares e morte. O presente estudo sugere que A1C>7% foi um forte preditor para todos os desfechos, especialmente para eventos aterotrombóticos, o que mostra a importância da disglicemia em relação a essas complicações.

Os fatores de risco assinalados na tabela abaixo foram considerados como os mais fortes preditores de desfechos como morte e eventos cardiovasculares, conforme segue:

Variável analisada Desfechos
Morte IAM AVC Internação IC
Hemoglobina glicada

x

x

x

x

Colesterol LDL

x

Uso de estatinas

x

Tabagismo

x

x

Pressão arterial Sistólica

x

x

Sedentarismo

x

x

x

Duração do diabetes

x

Fibrilação atrial

x

x

IMC elevado

x

Estado civil

x

Taxa de filtração glomerular ↓

x

*IAM: Infarto agudo do miocárdio; AVC: Acidente vascular cerebral; ICC: Insuficiência cardíaca

Em pacientes com DM 2, um nível de A1C fora do intervalo alvo foi o mais forte preditor de AVC e IAM, e o tabagismo foi o mais forte preditor de mortalidade.

Hemoglobina glicada em níveis mais baixos do que os atualmente recomendados pelas diretrizes foram associadas a um menor risco de morte. Além disso, os níveis de A1C, pressão arterial sistólica e Colesterol LDL que eram mais baixos do que os níveis alvo estavam associados a menores riscos de IAM e AVC.

Uma limitação do estudo é que sua natureza observacional não permite associar os efeitos do tratamento dos fatores de risco com os desfechos. Além disso, não há distinção entre pacientes com todas ou algumas variáveis ​​dentro do intervalo alvo sem qualquer intervenção específica e aqueles que haviam sido medicados para atingir o alvo. Os autores também reconhecem que não é possível afastar completamente fatores de confusão e causalidade reversa.

Conclusão

O estudo sugere que pacientes com diabetes tipo 2 com cinco fatores de risco dentro do alvo parecem ter pouco ou nenhum excesso de risco de morte, IAM ou AVC em comparação com a população em geral.

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Referências:

  • Rawshani et al. Risk Factors, Mortality, and Cardiovascular Outcomes in Patients with Type 2 Diabetes. New England Journal of Medicine. 379:633-644. Aug. 2018.
    DOI: 10.1056/NEJMoa1800256

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