Diretrizes para o tratamento farmacológico da Covid-19

Diversos ensaios clínicos foram realizados no mundo objetivando o desenvolvimento de novas drogas que pudessem combater a Covid-19. Saiba mais.

Desde o início da pandemia causada pelo vírus Sars-Cov-19, milhares de registros de ensaios clínicos foram realizados no mundo objetivando o desenvolvimento de novas drogas que pudessem combater o vírus antes que houvesse na pessoa eventuais complicações. Os estudos in vitro que tiveram resultados satisfatórios não promoveram consenso da ciência frente a drogas que determinariam a diminuição da possibilidade de adoecer. O desafio dos países é imenso na busca por soluções, uma vez que a pandemia afetou a vida da população de maneira global. As perdas são incalculáveis e atualmente ainda não temos certeza sobre diversos medicamentos que são utilizados no sistema de saúde, trabalhado em algumas correntes, com a promessa de impedir o adoecimento ou sua complicação.

Muitos medicamentos já foram utilizados em humanos sem comprovação de eficácia. Da mesma velocidade que a pandemia chegou, muitos profissionais já buscaram a resolução para o problema, no entanto, não está sendo tão fácil buscar medicações que gerassem eficácia concreta no combate à Covid-19¹. Com exceção dos imunobiológicos, não tivemos consenso da ciência quanto aos chamados medicamentos “reposicionados”. Destes, os mais conhecidos no Brasil, fizeram parte inclusive do famoso Kit Covid. Alguns desses medicamentos ganharam a mídia e repercussão no cenário mundial, principalmente por fazer parte de uma estratégia governamental de cuidado. A defesa do “tratamento precoce”, baseado em cloroquina/hidroxicloroquina e outros medicamentos, tornou-se, no Brasil, símbolo do viés político no enfrentamento da epidemia. 

Saiba mais: Ministério da Saúde confirma ineficácia do “kit covid” no tratamento contra Covid-19

Diretrizes para o tratamento farmacológico da COVID-19.

Estudos sobre os medicamentos 

Diretrizes para o tratamento farmacológico da Covid-19 foram construídas no ano de 2020, em Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da sociedade brasileira de Pneumologia e tisiologia. O estudo publicado na revista brasileira de terapia intensiva, já trazia a análise de diversos estudos, afirmando a ineficácia de diversos medicamentos, até hoje tratados como possibilidade terapêutica, inclusive a nível governamental². Vamos discutir alguns resultados desse estudo, que traz informações relevantes sobre muitas medicações, que estão a todo tempo nas notícias e nas perguntas dos usuários do serviço da saúde frente aos profissionais de saúde. É importante compreender alguns passos do método proposto: 

As diretrizes foram elaboradas por um grupo composto por 27 membros, incluindo médicos especialistas em infectologia, medicina interna, pneumologia e terapia intensiva, além de farmacêuticos, epidemiologistas e especialistas em saúde pública.  Diversas bases de dados foram utilizadas para avaliar estudos que foram realizados em todo mundo comprovando ou não a eficácia dos medicamentos mais utilizados no Brasil. Os estudos foram avaliados na íntegra após seleção. “Para a avaliação da qualidade da evidência e a realização de recomendações, foi utilizado o sistema GRADE”. Após, o estudo classificou as evidências em alta, moderada, baixa e muito baixa. A seguir vamos resumir as recomendações construídas a partir das evidências, de acordo com quadro proposto pelo estudo:

Resumo das recomendações
Recomendação 1 Sugerimos não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência baixo)
Recomendação 2 Sugerimos não utilizar a combinação de hidroxicloroquina ou cloroquina e azitromicina de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 3 Recomendamos não utilizar oseltamivir no tratamento da Covid-19 em pacientes sem suspeita de infecção por influenza (recomendação forte, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 4 Sugerimos utilizar tratamento empírico com oseltamivir na suspeita de síndrome respiratória aguda grave ou em síndrome gripal com fatores de risco para complicações, na qual não se possa descartar o diagnóstico de influenza (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 5 Sugerimos não utilizar lopinavir/ritonavir de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência baixo)
Recomendação 6 Sugerimos não utilizar glicocorticosteroides de rotina em pacientes com Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 7 Sugerimos não utilizar tocilizumabe de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 8 Recomendamos utilizar profilaxia para tromboembolismo venoso de rotina em pacientes hospitalizados com Covid-19 (recomendação forte, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 9 Sugerimos não utilizar heparinas em dose terapêutica de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 10 Sugerimos não utilizar antibacterianos profilático em pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19 (recomendação fraca, Nível de Evidência muito baixo)
Recomendação 11 Recomendamos utilizar antibacterianos em pacientes com Covid-19, com suspeita de coinfecção bacteriana (recomendação não graduada)

Na época o artigo apresentou o entendimento que a diretriz clínica consiste em direcionamentos para a prática, não se aplicando a todos os usuários do serviço de saúde. A pouca referência não podia trazer maiores contribuições. Mas hoje, como será que estamos em relação a essas medicações? Será que houve modificação?  Hoje os estudos já apontam com segurança consenso de especialistas no Brasil sobre o uso de medicamentos compreendidos como “reposicionados” para a prevenção e tratamento do Covid-19. Cloroquina e Hidroxicloroquina continuam sendo referidos como sem benefício clínico. Houve uma problemática na divulgação da possível eficácia que revela a falta desses medicamentos nas farmácias, impossibilitando o tratamento de doenças para o qual estes são destinados. A defesa do “tratamento precoce”, sempre foi destinado ao uso de cloroquina/hidroxicloroquina, mas também havia outros medicamentos, os chamados kit Covid³. 

Estudo sobre a ivermectina

Estudos revelam que o consumo de medicamentos tidos como profiláticos aumentou demasiadamente. Medicamentos utilizados de forma indevida por profissionais e pela população são considerados suposto tratamento à população. Cabendo considerar que até o momento não há evidência científica conclusiva que possa determinar qualquer tratamento ou profilaxia contra o coronavírus(4). Outros estudos apresentam que: “os medicamentos utilizados até a atual conjuntura para o tratamento da Covid-19, ainda não possuem trabalhos científicos consolidados para provar seu verdadeiro potencial ao tratamento profilático da doença”(5). Uma revisão rápida (rapid review methodology) foi produzida pela Unidade de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (UATSHAOC) e Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital Sírio-Libanês (NATS-HSL), concluindo que outro dos fármacos mais utilizados pelos brasileiros a Ivermectina não possui comprovação científica para o uso(6). A Merck empresa farmacêutica que produz o medicamento declarou em nota que não há evidências científicas para uso do medicamento no tratamento ou profilaxia do Covid-19(7).

Leia também: Estudo preprint apoiando ivermectina na Covid-19 é retirado do ar

Antibacterianos possuem atualmente grande efeito no tratamento, dada a rápida afecção da doença, mas continua não sendo indicado na ação profilática. Esta é uma dúvida frequente de muitos profissionais da saúde. Azitromicina pode ser indicado em pacientes que testam positivo para Covid-19, mas não há consenso na literatura sobre tal questão.  O que se sabe é que esta pode ter efeito modulador e ação no combate a agente oportunista. Sua associação com hidroxicloroquina/cloroquina leva a efeitos adversos indesejáveis, principalmente os cardiopáticos.(8)

Referências bibliográficas:

  • Ferreira, Leonardo L. G. e Andricopulo, Adriano D.Medicamentos e tratamentos para a Covid-19. Estudos Avançados. 2020, 34, (100), pp. 7-27. 
  • Falavigna, Maicon et al. Diretrizes para o tratamento farmacológico da COVID-19. Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2020, v. 32, n. 2 [Acessado 2 Julho 2021] , pp. 166-196. Doi: https://doi.org/10.5935/0103-507X.20200039.
  • Santos-Pinto, et. al. O “kit-covid” e o Programa Farmácia Popular do Brasil. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2021, 37, (2). https://doi.org/10.1590/0102-311X00348020.
  • Oliveira  J. V. L. et.al.; Self-medication in the pandemic period of COVID-19: Integrative review. Research, Society and Development[S. l.]. 2021, 10, (3), p. e58610313762. DOI: 10.33448/rsd-v10i3.13762. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/13762. Acesso em: 2 jul. 2021.
  • HermesF. S., AlexandreJ. C. M., LucenaJ. M. B., SousaT. P. de, CardozaY. A. F., & GuimarãesM. C. M. (2021). Análise de tratamentos profilático para a COVID-19: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 2020, 13(5), e7167. https://doi.org/10.25248/reas.e7167.2021
  • Marra LP, et.al. Ivermectina para covid-19. Revisão sistemática rápida. Revisão sistemática rápida. 
  • MERCK. Merck Statement on Ivermectin use During the COVID-19 Pandemic. Disponível em https://www.merck.com/news/merck-statement-on-ivermectin-use-during-the-covid-19-pandemic/.
  • Moura J.M.de et,al. Brazilian Journal of Development, Curitiba, 2021, 7, (6), p. 56547-56556. DOI:10.34117/bjdv7n6-185

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