Distúrbios de interação do eixo cérebro-intestino em crianças com TEA

Saiba mais sobre a relação entre os transtornos da interação cérebro-intestino e sintomas gastrointestinais em crianças com TEA.

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social, associado a  comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos.  Em pacientes com TEA, a presença de sintomas gastrointestinais é bastante prevalente, com uma variação entre 9-91%. Diante de tal relevância do tema, durante o XXIV Congresso Latino-americano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica  (LASPGHAN), que aconteceu no Rio de Janeiro em Outubro de 2023, foi discutido pelo Dr. Fernandez Sobreira Julian, a relação entre os transtornos da interação cérebro-intestino e sintomas gastrointestinais em crianças com TEA.

Os pacientes pediátricos com TEA possuem, de forma geral, uma maior preferência por alimentos processados e ricos em hidratos de carbono, como batata e arroz, apresentando muitas vezes uma alimentação pouco diversa ou, em alguns casos, seletividade alimentar.  Cada vez mais tem-se reconhecido que os problemas gastrointestinais em crianças com TEA podem estar relacionados a esses distúrbios alimentares, por estarem ligados a perturbação da microbiota intestinal e consequente disbiose, representando um desequilíbrio no eixo cérebro-intestino.

Com o objetivo de avaliar o perfil do paciente latino-americano com TEA em relação aos transtornos funcionais gastrointestinais (TFGI), resultantes da perturbação do eixo cérebro-intestino, o Dr. Fernandez apresentou um trabalho multicêntrico, com participação de centros da Argentina, Colômbia, Panamá, El Salvador, Costa Rica e México. A pesquisa foi realizada por meio de um questionário com base nos critérios de Roma IV, incluindo variáveis socioeconômicas, clínicas, nutricionais e familiares. Um total de 402 crianças com TEA fizeram parte deste estudo. A prevalência de TFGIs encontrada foi de 60,4%,  sendo 2,5 vezes maior que a prevalência mundial em pacientes sem o diagnóstico de TEA. Dentre as condições mais prevalentes, a constipação intestinal funcional correspondeu a cerca de 27% dos diagnósticos, seguida de dispepsia funcional com 22% e dor abdominal funcional com 4,8%.

Após a apresentação dos resultados da América Latina, o gastropediatra argentino trouxe possíveis vias que poderiam explicar essa alta prevalência de alguns TFGI em crianças com TEA.  Em relação a constipação intestinal funcional, destacou-se a baixa ingesta de fibras alimentares, a falta de atividade física e uma possível alteração de motilidade gastrointestinal. Já a dor abdominal funcional estaria relacionada à intolerâncias alimentares, disbiose, constipação e gastrite.

Modulação intestinal é um potencial tratamento para pacientes com TEA e TFGI?

Após apresentar os principais dados sobre diagnóstico e a manifestação clínica dos TFGI em pacientes com TEA, o Dr. Fernandez trouxe um aspecto prático e esperado por todos: o potencial uso dos probióticos para o manejo dos sintomas gastrointestinais em tais pacientes.  Vale relembrar que os probióticos são definidos como microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Já os prebióticos são ingredientes fermentados que permitem alterações tanto na composição quanto na atividade da microbiota intestinal, conferindo benefícios ao bem-estar e à saúde do hospedeiro. Quando combinados de forma potencialmente sinérgica, os probióticos e prebióticos, são chamados de  simbióticos.

As evidências apresentadas apontam que existem diferenças consideráveis na microbiota intestinal de crianças autistas e de crianças com desenvolvimento típico.  Do ponto de vista prático, o tratamento com o uso de L. rhamnosus GG, L. reuteri DSM 17938, foi associado à melhora dos sintomas (sintomas globais, dor abdominal, distensão abdominal e flatulência) em crianças com SII, o que poderia ser aplicado para pacientes com TEA.  A partir das conclusões apresentadas, acredita-se que os probióticos tenham um impacto positivo na microbiota intestinal e alterem os níveis de metabólitos específicos potencialmente prejudiciais em crianças com TEA.

Mensagem final

  • O sintomas gastrointestinais são prevalentes em pacientes com TEA;
  • Os distúrbios gastrointestinais em crianças com TEA podem estar associados a distúrbios alimentares, como seletividade alimentar;
  • Estudo realizado na América Latina evidenciou uma alta prevalência de TFGI em pacientes com TEA, sendo 2,5 vezes maior que dados de literatura mundial para crianças sem TEA;
  • A microbiota intestinal de pacientes com TEA é alterada e diferente da de crianças típicas;
  • O uso de probióticos pode ser discutido como alternativa para manejo de TFGI em pacientes com TEA.

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