Drenagem tubular do hemitórax ou aspiração para pneumotórax espontâneo primário?

O pneumotórax espontâneo primário ocorre em indivíduos sem nenhuma patologia pulmonar, com uma incidência maior em homens (16,7/100 mil) que em mulheres (5,8/100 mil).

Classicamente o pneumotórax primário é tratado com drenagem tubular do hemitórax acometido. No entanto, alguns trabalhos têm questionado se essa conduta, considerada padrão-ouro, deve ser considerada o tratamento de primeira linha. Até mesmo uma revisão sistemática da Cochrane não conseguiu determinar grande diferença entre outras condutas, devido a uma grande disparidade das amostras nos trabalhos encontrados. Para tentar chegar a uma resposta, foi criado um estudo aberto, EXPRED, que busca estudar a diferença da eficácia e não inferioridade da aspiração isolada.

Drenagem tubular do hemitórax ou aspiração para pneumotórax espontâneo primário?

Male And Female Nurse Working At Nurses Station

Métodos

Estudo multicêntrico, de janeiro de 2009 a março de 2015, comparou pacientes com pneumotórax primário espontâneo não hipertensivo. Os pacientes foram randomizados entre simples aspiração ou drenagem tradicional do tórax acometido.

No grupo aspiração, após a inserção do cateter de toracocentese era aplicada uma pressão negativa de 25 cm de H20 por 30 minutos. Após este período, os pacientes foram radiografados e, caso houvesse uma expansão completa do pneumotórax, o dispositivo era retirado e o paciente permanecia por mais 24h em observação. Caso não houvesse expansão completa após os 30 minutos, aplicava-se a pressão negativa por mais 30 minutos a radiografia. Neste segundo momento, em caso de insucesso, o cateter de toracocentese era substituído por uma drenagem convencional.

Para fim do estudo, todos os pacientes possuem telerradiografia de tórax com 24h, sete dias e um ano após a terapêutica inicial. O desfecho primário determinado foi a presença de pneumotórax após 24h de drenagem ou aspiração. Pneumotórax apicais até 02 cm, não eram considerados falhas. Os desfechos secundários avaliaram a taxa de pneumotórax sete dias após o procedimento, assim como recorrências no primeiro ano, aceitação dos pacientes ao método, entre outros. O objetivo do estudo foi determinar uma não inferioridade da técnica de aspiração quando comparada à drenagem convencional.

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Resultados

Foram recrutados 402 participantes, sendo que 200 foram incluídos no grupo aspiração e 202 no grupo drenagem. A idade média foi de 28 anos e ao final permaneceram 189 participantes no grupo aspiração e 190 no grupo drenagem. A maioria dos pacientes eram homens (82%). Destes 310 (83%) eram fumantes, 15(4%) com história de tabagismo. Os sintomas surgiram durante repouso em 304 casos (81%). Quanto ao desfecho primário foi identificado em 29% no grupo aspiração isolada e 18% no grupo drenagem. Na avaliação de pneumotórax após 7 dias ocorreram em 16% do grupo aspiração e 15% no grupo drenagem. A recorrência de pneumotórax global foi de 20%, sendo que no grupo drenagem foi de 27%.

Houve diferença quanto a tolerância à dor, sendo pior no grupo drenagem que no grupo aspiração, enquanto dispneia e ansiedade, não apresentou diferença nos resultados.

Discussão

A análise estatística deste trabalho demonstrou uma não inferioridade da aspiração, quando comparada à drenagem tradicional, apesar da aspiração isolada possuir uma maior falha terapêutica nas 24h e nos sete dias. No entanto, o grupo de aspiração apresentou uma melhor tolerância do paciente e uma menor recorrência com um ano de observação.

Na avaliação Cochrane, já havia demonstrado que a drenagem tubular possui uma melhor eficácia imediata, enquanto a aspiração isolada, associada a menores taxas de complicações, como enfisema de subcutâneo, obstrução do tubo e infecções.

Apesar da drenagem torácica ter apresentado melhores resultados, a aspiração isolada como primeira linha demonstrou uma melhora da tolerabilidade e segurança.

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Mensagem prática

O uso da aspiração isolada pode ser uma alternativa ao tratamento tradicional de drenagem torácica. No entanto, os pacientes devem ser acompanhados de perto, devido à sua taxa de recorrências. Como essa patologia ocorre em pacientes jovens e sem comorbidades, na maior parte dos casos, utilizar uma terapêutica que apresente melhor aceitação pelos pacientes pode ser uma estratégia positiva, visto que a falha terapêutica nessa população não representa grande ameaça à vida.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Marx T, Joly LM, Parmentier AL, et al. Simple Aspiration versus Drainage for Complete Pneumothorax: A Randomized Noninferiority Trial. Am J Respir Crit Care Med. 2023;207(11):1475-1485. DOI: 10.1164/rccm.202110-2409OC