Os corticosteroides têm indicação de uso na obstetrícia diante da ameaça de uma parto pré-termo, mais especificamente entre 24 e 34 semanas. Alguns estudos pré-clínicos em animais sugerem um efeito deletério sobre o sistema cardiovascular de fetos submetidos a corticoides quando intraútero. Esse efeito em humanos é desconhecido.
Uma revisão sistemática em humanos mostrou melhores resultados de neurodesenvolvimento (por exemplo, taxas mais baixas de paralisia cerebral) em crianças expostas, mas uma grande quantidade de dados em animais sugeriu uma associação entre a administração de corticoides e uma série de alterações neuroanatômicas e neurocomportamentais.
Uma revisão sistemática foi publicada recentemente no BJOG por um grupo de autores ingleses, cujo objetivo foi revisar na literatura os efeitos sobre a função cardiovascular de fetos do uso antenatal de corticoides. É sobre esssa revisão recente que trata esse artigo.
Métodos e resultados
Foram incluídos seis estudos, totalizando 1.921 pacientes, dos quais a maioria eram estudos de coorte de qualidade mista.
A idade gestacional da administração materna de corticosteroides não foi informada em 11 dos 26 estudos (42,3%). Os 15 estudos restantes relataram administração entre 22 e 36 semanas de gestação. A exposição em termos de preparação do medicamento utilizado, dose e número de doses variaram amplamente entre os estudos.
Em relação a idade gestacional no parto, a combinação de todos os estudos deu uma faixa de 23 a 41 semanas para as pacientes descritas. A idade em que o teste cardiovascular foi realizado variou de um dia a 36 anos.
O parâmetro mais comumente avaliado foi a pressão arterial (18 estudos), seguido por ecocardiografia (oito estudos), frequência cardíaca (cinco estudos), eletrocardiograma (ECG, três estudos) e ressonância magnética cardíaca (RMN, um estudo). Não houve efeitos clinicamente significativos da exposição antenatal de corticosteroides na pressão arterial da prole. No entanto, não havia estudos suficientes avaliando a estrutura e função cardíaca usando ecocardiografia ou ressonância magnética cardíaca para poder determinar um efeito.
Conclusões
Esta revisão sistemática mostrou que a administração de corticoide antenatal não está associada a efeitos de longo prazo sobre a pressão arterial em seres humanos. Os demais dados sobre outras consequências cardiovasculares adversas a longo prazo são insuficientes para excluir efeitos prejudiciais importantes.
Mensagem prática
Dadas as evidências de estudos em animais e humanos, a administração deve ser limitada a ambientes clínicos onde há um alto grau de certeza de que o parto prematuro é iminente, para reduzir o risco de que os efeitos adversos ainda pouco compreendidos possam superar os efeitos clínicos conhecidos.
11 abr. 2024 
4 min. 
