Efeito da covid-19 na qualidade de vida após um ano da hospitalização

O estudo Coalizão Covid-19 Brasil avaliou o impacto da doença grave pela covid-19 na qualidade de vida dos pacientes.

A pandemia pela covid-19 (Coronavirus Disease 2019) promoveu impacto global nos sistemas de saúde. A doença é causada pelo SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus type 2) e tem espectro variado de apresentações, desde pacientes assintomáticos a pacientes graves com necessidade de internação em unidades de terapia intensiva (UTI). No Brasil, até novembro de 2022, foram cerca de 35 milhões de casos da doença, com mais de 680 mil mortes. 

O espectro clínico encontrado em sobreviventes da doença aguda tem sido chamado de síndrome pós-covid” ou covid-19 longa. Tal condição é caracterizada por sintomas persistentes ou complicações a longo prazo. No entanto, não há uma definição clara até o momento na literatura.  

A importância da Pressão Arterial Invasiva no paciente crítico

VII Estudo Coalizão Covid-19 Brasil – impacto da doença grave pela covid-19 na qualidade de vida

O estudo de coorte multicêntrico e prospectivo “Association between acute disease severity and one‑year quality of life among post‑hospitalisation COVID‑19 patients: Coalition VII prospective cohort study” foi publicado em janeiro de 2023 na Intensive Care Medicine, pelo grupo de estudos Coalizão Covid-19 Brasil. Foram envolvidos 84 centros brasileiros no período de Março de 2020 a Março de 2022.  

A publicação atual integra uma série de estudos sobre o tratamento da covid-19, já publicados previamente pelo grupo. 

Objetivo principal 

Avaliar a associação entre a gravidade da doença aguda e a qualidade de vida após um ano da alta de pacientes hospitalizados pela covid-19.  

População 

A coorte foi formada pelos pacientes incluídos em cinco ensaios clínicos randomizados prévios do grupo Coalizão, que buscaram avaliar o efeito de intervenções farmacológicas específicas em pacientes covid-19. Em geral, pacientes adultos (≥ 18 anos) internados por infecção suspeita ou confirmada pelo SARS-CoV-2. Foram excluídos pacientes que evoluíram para óbito durante a internação, que não apresentavam contato telefônico ou que recusaram-se a participar.  

Métodos 

Os sobreviventes passaram por follow up de um ano, envolvendo entrevistas telefônicas em três, seis, nove e 12 meses após inclusão nos trials que compuseram a coorte. 

O escore utilizado para avaliação da qualidade de vida foi o EQ-5D-3L. Seu uso é crescente como medida dos “PROMs” (patient-reported outcome measures), uma forma de monitorar o real impacto da condição de saúde do paciente ao escutar sua perspectiva. Consiste em um sistema descritivo de cinco dimensões (mobilidade, autocuidado, atividades cotidianas, dor/desconforto e ansiedade/depressão). Cada dimensão tem três níveis de severidade (ausência de problemas, problemas moderados e problemas extremos). 

Escala de gravidade da doença aguda 

Escala ordinal de 6 pontos (WHO – covid-19) 

  1. Não hospitalizados 
  2. Hospitalizados mas sem demanda por O2 suplementar 
  3. Em uso de O2 suplementar 
  4. Em uso de cânula nasal de alto fluxo ou ventilação não-invasiva 
  5. Em uso de ventilação mecânica 
  6. Óbito

Pacientes classificados como 1 ou 6 não foram incluídos no estudo.

Resultados 

  • 1257 pacientes foram avaliados pelo follow up em um ano; 
  • 1156 pacientes tiveram resultados quanto ao desfecho primário 

– 1120 sobreviventes; 

– 36 óbitos 

Qualidade de vida (desfecho primário avaliado pelo escore de utilidade do questionário EQ-5D-3L):  

  • pacientes com maior gravidade (grau 5 – em uso de VM) apresentaram menor valor do EQ-5D-3L em 1 ano quando comparados aos pacientes com grau 2 (hospitalizados sem demanda de O2);
  • EQ-5D-3L escore de utilidade grau 2 vs grau 5 (0,7 vs 0,84, − 0.1 [IC 95% − 0.15 a − 0.06];

Pacientes que foram submetidos à ventilação mecânica também apresentaram menor valor de EQ-5D-3L em um ano

  • EQ-5D-3L escore de utilidade graus 2 a 4 (sem VM) vs. grau 5 (uso de VM) 0.7 vs. 0.8; − 0.07 [IC 95% − 0.11 a − 0.04];
  • Pacientes com gravidade grau 5 apresentaram também maior necessidade de suporte ventilatório domiciliar, maior incidência de novas incapacidades nas atividades de vida diária e transtorno de estresse pós-traumático, além de menor incidência de retorno ao trabalho ou estudos; 
  • Tal grupo de pacientes também apresentou maior taxa de mortalidade, eventos cardiovasculares maiores (AVC não-fatal, infarto agudo do miocárdio não-fatal e morte por causa cardiovascular) e reinternações. 

 Conclusões 

Pacientes internados por covid-19 que necessitaram de ventilação mecânica durante a hospitalização apresentaram menor qualidade de vida em relação aos pacientes que não demandaram ventilação mecânica.

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Mensagens práticas 

  • Pacientes covid-19 hospitalizados com necessidade de ventilação mecânica apresentaram menor qualidade de vida em um ano em relação à pacientes que foram hospitalizados por covid-19 e que não necessitaram de VM;
  • Os pacientes com maior gravidade apresentaram não só maior mortalidade como também maior necessidade de cuidados e assistência no pós-alta, assim como maior índice de reinternações; 
  • A prevalência de sintomas de estresse pós-traumático nos pacientes com covid-19 que foram submetidos à ventilação mecânica nessa coorte foi duas vezes maior que a prevalência na população geral no Brasil; 
  • O estudo corrobora que o impacto da covid-19 não se restringe apenas à doença aguda, acarretando maior morbimortalidade, mesmo a longo prazo.  

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Estudo atual: Rosa, R.G., Cavalcanti, A.B., Azevedo, L.C.P. et al. Association between acute disease severity and one-year quality of life among post-hospitalisation COVID-19 patients: Coalition VII prospective cohort study. Intensive Care Med (2023). https://doi.org/10.1007/s00134-022-06953-1
  • Coalizão I: Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG et al (2020) Hydroxychloroquine with or without azithromycin in mild-to-moderate covid-19. N Engl J Med. 383:2041–2052. https:// doi. org/ 10. 1056/ NEJMo a2019 014
  • Coalizão II: Furtado RHM, Berwanger O, Fonseca HA et al (2020) Azithromycin in addition to standard of care versus standard of care alone in the treatment of patients admitted to the hospital with severe COVID-19 in Brazil (COALITION II): a randomised clinical trial. Lancet 396:959–967. https://doi. org/ 10. 1016/ S0140-​6736(20) 31862-6
  • Coalizão III: Tomazini BM, Maia IS, Cavalcanti AB et al (2020) Effect of dexamethasone on days alive and ventilator-free in patients with moderate or severe acute respiratory distress syndrome and COVID-19: the CoDEX randomized clinical trial. JAMA 324:1307–1316. https:// doi. org/ 10. 1001/ jama. 2020. 17021
  • Coalizão IV: Lopes RD, de Barros ESPGM, Furtado RHM et al (2021) Therapeutic versus prophylactic anticoagulation for patients admitted to hospital with COVID-19 and elevated D-dimer concentration (ACTION): an open-label, multicentre, randomised, controlled trial. Lancet 397:2253–2263. https://doi. org/ 10. 1016/ S0140-​6736(21) 01203-4
  • Coalizão V: Veiga VC, Prats J, Farias DLC et al (2021) Effect of tocilizumab on clinical outcomes at 15 days in patients with severe or critical coronavirus disease 2019: randomised controlled trial. BMJ 372:n84. https:// doi. org/ 10.1136/ bmj. n84