ESC 2023: Há benefício de ECMO-VA precoce no choque cardiogênico por infarto?

Um estudo teve o intuito de avaliar o efeito da ECMO-VA na mortalidade de pacientes com choque cardiogênico consequente a IAM.

Choque cardiogênico é a principal causa de mortalidade em pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e, apesar dos avanços no tratamento, até 40-50% dos pacientes morrem em 30 dias.  

Na tentativa de estabilizar o paciente até sua recuperação ou decisão por outro tipo de tratamento, tem-se utilizado cada vez mais o suporte circulatório mecânico, principalmente a membrana de oxigenação extracorpórea venoarterial (ECMO-VA), que fornece suporte circulatório e respiratório. 

Até o momento não há grandes estudos para confirmar o benefício do dispositivo, apenas alguns estudos observacionais e três estudos randomizados pequenos. Ainda, o risco de complicações como sangramento, acidente vascular cerebral (AVC), isquemia de extremidades e hemólise é alto. 

Foi feito então o estudo ECLS-SHOK, apresentado no European Society of Cardiology (ESC 2023), no intuito de avaliar o efeito da ECMO-VA na mortalidade de pacientes com choque cardiogênico consequente a IAM. Também foi publicada uma metanálise com a avaliação dos pacientes dos três estudos randomizados prévios e o estudo atual. 

ESC 2023: Terapia natriurética guiada na insuficiência cardíaca aguda

ESC 2023: Terapia natriurética guiada na insuficiência cardíaca aguda

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo randomizado, controlado, multicêntrico, que incluiu pacientes com IAM e choque cardiogênico (confirmado com lactato ≥ 3mmol/L) submetidos a revascularização miocárdica. Os pacientes foram randomizados para ECMO—VA e tratamento padrão ou apenas tratamento padrão e o desfecho primário foi mortalidade por todas as causas em 30 dias. 

Resultados 

Foram incluídos 420 pacientes com idade média de 63 anos, sendo 19% do sexo feminino. Os pacientes deste estudo eram mais graves que de estudos prévios, sendo que 77% receberam ressuscitação cardiopulmonar antes da randomização. A maioria teve a colocação do dispositivo antes ou depois da revascularização, que na quase totalidade dos casos foi percutânea.  

No grupo ECMO-VA, o desfecho primário ocorreu em 47,8% e no grupo tratamento padrão em 49% (RR 0,98, IC95% 0,80-1,19; p = 0.,81). Não houve diferença significativa nos desfechos secundários, com clearence de lactato, função renal e SAPS II semelhante entre os grupos.  

Houve maior ocorrência de sangramento moderado ou grave no grupo ECMO-VA (23,4% x 9,6%) comparado ao controle, assim como maior ocorrência de complicações vasculares periféricas com necessidade de intervenção (11% x 3,8%). 

Comentários e conclusão 

Apesar de bastante utilizado na prática clínica, esse estudo mostrou que a utilização de ECMO-VA de forma precoce não levou a redução de mortalidade em 30 dias e levou a maior ocorrência de complicações. A metanálise realizada com os quatro estudos confirmou esses resultados, que devem influenciar a prática clínica, com menor indicação de ECMO-VA de forma rotineira em casos de IAM seguido de choque cardiogênico. Ainda é necessário definir se existe algum subgrupo de pacientes que se beneficia do procedimento.

O ESC 2023 traz atualizações de diretrizes e resultados de grandes estudos da cardiologia. Fique por dentro!

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.