O tratamento para trombose venosa profunda (TVP) é a anticoagulação. Ainda há dúvidas em relação aos diversos aspectos do tratamento em pacientes com câncer, incluindo sua duração ideal, já que a maioria dos estudos exclui esse grupo de pacientes.
Assim, no ultimo dia do Congresso Europeu de Cardiologia, foram apresentados os resultados do estudo ONCO DVT, o primeiro estudo randomizado que avaliou duração de tratamento de TVP em pacientes com câncer tratados com edoxabana.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo multicêntrico japonês, randomizado, aberto, de superioridade, que comparou tratamento de TVP distal com edoxabana por 12 ou 3 meses. A medicação era administrada via oral, na dose de 60 mg 1x ao dia. Pacientes com clearence de creatinina entre 30 e 50 mL/minuto, peso menor ou igual a 60 kg ou uso concomitante de inibidores da glicoproteína P recebiam dose de 30 mg 1x ao dia.
Os critérios de inclusão eram presença de câncer ativo e TVP distal isolada recém diagnosticada, confirmada por ultrassonografia. Foram excluídos os que estavam usando anticoagulantes na randomização, que tinham contraindicação a edoxabana, sobrevida esperada menor que 3 meses ou embolia pulmonar.
O desfecho primário era recorrência sintomática de TVP ou morte relacionada a TVP em 12 meses e o desfecho secundário era sangramento maior em 12 meses.
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Resultados
Foram incluídos 604 pacientes com idade média de 70,8 anos, sendo 72% do sexo feminino. Os cânceres mais frequentes eram de ovário (14%), útero (13%), pulmão (11%), cólon (9%) e pâncreas (8%). Os outros eram estômago, hematológicos e de mama. Pouco mais de 20% tinham doença metastática e mais de 70% fizeram uso de edoxabana em dose reduzida, geralmente por conta de peso reduzido.
O desfecho primário ocorreu em 1% no grupo anticoagulado por 12 meses e em 7,2% no anticoagulado por 3 meses (OR 0,13; IC95% 0,03-0,44) e a ocorrência de sangramento maior foi semelhante entre os grupos. Não houve diferença nos subgrupos de acordo com idade, sexo, peso e função renal, presença de anemia, número de plaquetas, história de sangramento maior ou presença de metástases.
Importante o dado que em 3 meses, pouco mais de 20% dos pacientes do grupo anticoagulação haviam suspendido a medicação, seja por sangramento ou progressão de doença.
Comentários e conclusão
Pacientes com TVP distal isolada parecem ter benefício de anticoagulação por tempo mais prolongado, já que há redução de recorrência de TVP e morte relacionada a trombose, sem diferença na ocorrência de sangramento.
Este foi o primeiro estudo randomizado que avaliou tempo de anticoagulação em pacientes com câncer e TVP distal isolada e deve ter impacto na prática clínica. Porém, ainda é necessário entender se este estudo é generalizável para pacientes com diferentes tipos de câncer e com risco de sangramento mais alto.
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