Bebês de até um ano de idade nascidos durante a pandemia de covid-19 apresentam alguns déficits de desenvolvimento, conforme dados de um estudo irlandês denominado CORAL. Esse estudo descreveu uma redução nos marcos de comunicação social em bebês de até 12 meses nascidos na pandemia. No entanto, até o momento, não havia nenhum relato sobre esses desfechos aos 2 anos. Dessa forma, um novo estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a comunicação e outros marcos de desenvolvimento em crianças de dois anos que nasceram nos primeiros meses da pandemia e viveram o confinamento, comparando seus resultados com crianças da mesma idade que nasceram antes da pandemia se iniciar (utilizando outra coorte denominada BASELINE). Essa nova análise foi recentemente publicada no periódico Archives of Disease in Childhood.
Leia também: Pandemia de covid-19 e o uso de antimicrobianos
Metodologia
O CORAL é um estudo observacional prospectivo longitudinal de bebês nascidos na Irlanda nos primeiros três meses da pandemia de covid-19. Quando essas crianças completaram 24 meses de idade (2 anos), os pais preencheram dois questionários: Ages and Stages Developmental Questionnaire (ASQ24) e o Child Behavior Checklist (CBCL). As respostas foram então comparadas com as da coorte pré-pandêmica BASELINE (Babies After SCOPE: Evaluating the Longitudinal Impact Using Neurological and Nutritional Impact), cujos dados foram colhidos no período de 2008 a 2011. O CORAL envolveu pesquisadores do Royal College of Surgeons Ireland (RCSI), Children’s Health Ireland (CHI) e University College Cork, e foi financiado pela Temple Street Hospital Foundation (Dublin, Irlanda), e pela Clemens von Pirquet Foundation (Genebra, Suíça).
Resultados
Foram incluídos 917 bebês (sendo 312 do grupo CORAL e 605 do grupo BASELINE). Aos 24 meses, os pesquisadores não observaram diferenças significativas entre crianças nascidas na pandemia e crianças nascidas antes com relação ao desenvolvimento e comportamento no questionário ASQ24. No entanto, nessa idade, os bebês do grupo CORAL foram mais propensos a pontuar abaixo dos pontos de corte padronizados para preocupação com o desenvolvimento no domínio da comunicação (11,9% do grupo CORAL em versus 5,4% do grupo BASELINE, p < 0,01).
Saiba mais: Três anos depois, médicos e enfermeiros ainda sentem o peso da pandemia
Conclusões
No estudo CORAL, as crianças nascidas durante a pandemia tiveram pontuações de desenvolvimento e comportamento amplamente semelhantes em comparação com crianças nascidas antes, exceto no domínio do desenvolvimento da comunicação. Todavia, os pesquisadores descreveram que mais estudos são necessários para entender quais fatores sustentam as diferenças nos desfechos de comunicação entre crianças nascidas na pandemia e suas contrapartes pré-pandêmicas e, com o tempo, pós-pandêmicas, e o que isso pode significar para essas crianças quando atingirem a idade escolar.
Comentários
Estudo bem elaborado, porém há limitações ao comparar coortes de períodos tão distantes (mais de 10 anos). Além disso, foi conduzido em um país desenvolvido onde a saúde é privada (apenas uma pequena parcela da população irlandesa tem direito ao Medical Card: cidadãos europeus desempregados e que comprovam a impossibilidade de arcar com custos de saúde, aposentados e crianças com idade inferior a seis anos, em consulta com clínico geral). O país possui desempenho acima da média nos seguintes pontos: trabalho, educação, saúde, conexões sociais, segurança e satisfação com a vida. Os resultados encontrados no estudo, apesar de descritos pelos pesquisadores como reconfortantes, infelizmente não refletem a realidade de muitos outros locais e é possível que haja populações com resultados muito distintos, corroborando a necessidade de mais estudos para essa análise.
2 abr. 2024 
4 min. 
