Três anos depois, médicos e enfermeiros ainda sentem o peso da pandemia

A pandemia de covid-19 completou três anos aqui no Brasil. De lá para cá, quase 700 mil brasileiros vieram a óbito com o diagnóstico da enfermidade.

Mais de 1,3 mil das vítimas da pandemia de covid-19 eram profissionais de medicina e enfermagem. Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) apontou a presença intensa de quadros de exaustão, estresse, má qualidade de sono, sintomas depressivos e dores pelo corpo entre profissionais de saúde. Foram entrevistados 125 profissionais da rede pública, que responderam a questionários online ao longo dos últimos dois anos.

Três anos depois, médicos e enfermeiros ainda sentem o peso da pandemia

Achados

Os resultados mostram que 86% deles sofrem de síndrome de burnout com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes.

Cerca de 75% dos voluntários avaliaram negativamente as demandas emocionais ligadas ao trabalho, 61% criticaram o ritmo do serviço e 47% reprovaram a sua imprevisibilidade.

Dados relacionados a comportamentos ofensivos também foram avaliados: Cerca de 15% dos profissionais relataram terem sido afetados por atenção sexual indesejada, 26% foram ameaçados, 9% sofreram violência física e 17% reportaram bullying.

“No momento temos uma fotografia da situação, o que não nos permite afirmar que a pandemia é responsável pelos resultados encontrados, mas acreditamos que o impacto especialmente pesado da covid-19 no país contribuiu para índices tão ruins. E percebemos que a pandemia influenciou negativamente esses resultados. A sobrecarga no trabalho, as decisões difíceis e os dramas vivenciados afetaram consideravelmente os profissionais de saúde, especialmente os que atuaram na linha de frente”, contou a professora do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar, Tatiana de Oliveira Sato.

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“A maioria dos profissionais de saúde experimenta fatores psicossociais desfavoráveis, má qualidade do sono, sintomas musculoesqueléticos e sintomas depressivos. Esses achados destacam a necessidade de abordar o sofrimento psicológico e físico para melhorar o bem-estar pessoal e profissional dessa população trabalhadora brasileira. Considerando que a segurança e saúde dos trabalhadores é um problema sistêmico nas organizações, é urgente assumir a responsabilidade de promover melhores condições de trabalho, organização justa do trabalho e tomada de decisão horizontal, reduzir o desequilíbrio de poder e capacitar os trabalhadores para criar mudanças em seus processos diários de trabalho. É preciso ir além da gestão de riscos ocupacionais e pensar em como promover a felicidade e o bem-estar no trabalho em conjunto com trabalhadores, empregadores, pesquisadores e sociedade”, concluiu o artigo.

Relato de superação na pandemia

“Atuei na linha de frente como coordenadora das unidades de internação e plantonista em unidade de emergência para pacientes com covid-19. Peguei a doença uma vez e tive apenas sintomas leves. Sobre o ritmo e as minhas condições de trabalho, acho que tive o que era possível naquele momento dentro do cenário apresentado. Estávamos totalmente fora da zona de conforto e levamos um tempo para nos adaptar. Sempre me preocupava em continuar saudável para seguir trabalhando e para estar com meus amigos e família, assim que fosse possível. Não desenvolvi distúrbios, mas tive bastante ansiedade e angústia! Já fazia terapia e a mantive, o que me ajudou muito a lidar com o momento que estávamos vivendo. Agora sinto-me bem e tive muitos aprendizados dessa vivência. Aprendizado sobre a impermanência, a nossa finitude e saber dar valor ao que realmente importa”, disse chefe do serviço de clínica médica e coordenadora da emergência do Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF-RJ), Carla Quintão, em entrevista para o Portal de Notícias da PEBMED.

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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