Existe maior prevalência de doença cardiovascular vista por exames de imagem em pacientes com HIV?

Análise publicada este ano revisou 45 estudos sobre a prevalência de doença cardiovascular em pacientes com HIV vista por exames de imagem.

O uso de antirretrovirais fez com que o HIV se tornasse uma doença crônica, com queda importante de mortalidade em decorrência da infecção nos últimos anos, porém com aumento de mortalidade por doença cardiovascular, que representa atualmente a maior parte das causas de óbito nesta população nos países de alta renda.

Os mecanismos patogênicos relacionados ainda não são bem elucidados e a hipótese principal é relacionada a aterosclerose acelerada, porém parece haver um efeito direto do vírus que ocasiona cardiomiopatia.

Exames de imagem mais avançados podem auxiliar na elucidação desses mecanismos e baseado nisso foi feito um estudo com objetivos de avaliar a prevalência de patologia cardiovascular detectada a partir de exames de imagem em pacientes com HIV e tentar entender a associação entre infecção por HIV e doença cardiovascular a partir da comparação com um grupo de pacientes sem HIV.

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Existe maior prevalência de doença cardiovascular vista por exames de imagem em pacientes com HIV

Métodos do estudo

Esta análise foi feita a partir de busca nas principais bases de dados e incluiu estudos que realizaram angiotomografia (angioTC) de coronárias, ressonância magnética cardíaca (RMC) ou PET cardíaco ou vascular em pacientes com HIV e mais de 18 anos.

Os desfechos primários foram presença de doença coronária aterosclerótica moderada (estenose entre 50 e 70%) ou grave (estenose maior ou igual a 70%), presença de realce tardio pelo gadolíneo e captação de traçador no PET.

A qualidade dos estudos e risco de viés foram avaliadas por métodos específicos e a avaliação priorizada foi qualitativa e não quantitativa, devido a grande heterogeneidade entre os estudos, ou seja, foi um estudo basicamente descritivo.

Resultados

Na análise final foram incluídos 45 estudos, 16 que utilizaram angioTC (5107 participantes divididos entre 3.446 com HIV e 1.661 sem HIV), 16 que utilizaram RMC (1698 participantes divididos em 1203 com HIV e 495 sem HIV) e 10 que utilizaram PET vascular (681 pacientes, 435 com HIV e 246 sem HIV). Três estudos avaliaram tanto angioTC quanto PET vascular e nenhum estudo avaliou imagem de PET cardíaco.

Quanto às características dos estudos, 85% foram transversais, 13% de coorte prospectivos e 2% ensaios clínicos randomizados. O risco de viés foi baixo em 22%, moderado em 47% e alto em 31% e apenas dois terços dos estudos que compararam grupos fizeram ajustes das variáveis.

Em relação a população avaliada, 38 estudos foram realizados em países de alta renda e 7 em países de renda média alta. A idade média dos pacientes com HIV era 48,5 anos (22 a 63 anos, sendo a idade média maior que 50 em 51% dos estudos) e dos sem HIV 49,1 anos. As mulheres representaram apenas 24% dos pacientes com HIV.

Tabagismo teve alta prevalência, sendo encontrado em mais de 30% dos pacientes com HIV em 58% dos estudos. Quanto ao tratamento, 88% dos pacientes estava em uso de terapia antirretroviral e 67% tinham CD4 maior que 500 células/µL. Pacientes dos países de alta renda eram mais velhos (50,1 x 40,4 anos) e com CD4 mais alto (637 x 394).

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Em relação aos exames

  • AngioTC de coronárias: a prevalência de estenose moderada ou grave teve grande variação entre os estudos: 0 a 52% com estenose moderada e 0 a 37% com estenose grave. A heterogeneidade estatística teve grande variabilidade e não se atenuou mesmo com a exclusão de estudos com alto risco de viés. A prevalência de estenose moderada ou importante foi de 0 a 52% em pacientes com HIV e 0 a 27% nos sem HIV.
  • RMC: a prevalência de realce tardio variou de 5 a 84% e ao se considerar apenas estudos com risco baixo e intermediário de viés essa prevalência foi de 5 a 69%. Ao se avaliar pacientes de renda média alta a prevalência foi de 24 a 84% e nos de renda alta de 5 a 82%. Houve associação de menor CD4 com maior prevalência de realce tardio.
  • PET: 4 estudos demonstraram aumento de inflamação aórtica em pacientes com HIV comparado a não HIV, 2 não encontraram diferença e 1 mostrou diferença apenas em quem não usava estatina e tinha carga viral indetectável. A maioria desses estudos foi realizada em pacientes com doença bem controlada, CD4 mais alto e idade média maior que 50 anos.

Comentários e conclusão

Neste estudo, a prevalência de doença cardiovascular em pacientes com HIV foi muito variável e os estudos tiveram grande heterogeneidade estatística. Além disso, este estudo não incluiu pacientes de baixa renda, que podem ter um perfil diferente deste.

O fato de pacientes com HIV terem maior ocorrência de infarto agudo do miocárdio, como visto em estudos prévios nos Estados Unidos e Europa, pode decorrer do fato de esses pacientes terem alta prevalência de outros fatores de risco para doença coronária, como tabagismo. Além disso, pode ser que esses pacientes tenham maior ocorrência de infarto tipo 2, decorrente de desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio.

A fibrose miocárdica, vista por exame de ressonância, parece ser um mecanismo chave de morbimortalidade cardiovascular nesta população, porém pouco estudada. Já o papel da inflamação vascular permanece incerto.

Apesar de parecer haver maior prevalência de doença cardiovascular nesta população, a maioria dos estudos são observacionais, com muitos fatores confundidores e com muita heterogeneidade entre si. Mais estudos são necessários para melhor esclarecimento da fisiopatologia da doença cardiovascular nesta população.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Hudson JA, et al. Association of HIV Infection With Cardiovascular Pathology Based on Advanced Cardiovascular Imaging: A Systematic Review. JAMA. 2022;328(10):951-962. DOI: 10.1001/jama.2022.15078