Fatores de risco cardiovasculares e trombofílicos: qual é a relação com as oclusões de veias retinianas?

A oclusão de veia retiniana (OVR) representa a segunda maior causa de doença vascular retiniana e a principal causa retiniana de perda visual.

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A oclusão de veia retiniana (OVR) representa a segunda maior causa de doença vascular retiniana e a principal causa retiniana de perda visual. Pode envolver a veia central ou um ramo. Fatores de risco cardiovasculares (hipertensão arterial sistêmica, diabetes, hiperlipidemia e tabagismo) são os mais comuns para a oclusão de veia. Em relação ao papel controverso da trombofilia, em estudos recentes mostraram que apenas a hiperhomocisteinemia e a presença de anticorpos anticardiolipina são consistentemente associados à OVR.

Foi publicado um estudo no jornal europeu de medicina interna com objetivo de avaliar o papel de fatores de risco cardiovasculares e trombofílicos de uma grande amostra de pacientes com OVR. Foram analisados os pacientes com OVR entre abril de 1997 e dezembro de 2010, divididos em OVR central e OVR de ramo. O grupo controle era formado por amigos dos pacientes com OVR, todos sem história de tromboses.

Pacientes e controles foram testados para trombofilia, o que incluiu a medida de anticorpos antifosfolipídios, fator VIII, homocisteína, etc. Os riscos cardiovasculares foram definidos como a presença de pelo menos um dos seguintes: hipertensão arterial, hiperlipidemia, diabetes e tabagismo. Foram excluídos os pacientes com glaucoma.

No total, 313 pacientes no primeiro episódio de OVR e 415 controles saudáveis foram incluídos. Sessenta e nove porcento dos pacientes tinha OVR central e 31% tinham OVR de ramo temporal. Anormalidades relacionadas à trombofilia foram encontradas em 29% dos pacientes e 16% dos controles e a hiperhomocisteinemia foi a alteração mais prevalente (13% dos pacientes e 6% dos controles).

Todos os fatores de risco cardiovasculares, exceto tabagismo, foram mais prevalentes nos pacientes que nos controles e o diabetes foi o menor frequente nos dois grupos (4% e 1%). Apenas a hiperhomocisteinemia (OR 2.37), aumento do fator VIII (OR 2.14) e os fatores de risco cardiovasculares (OR 1.49) foram associados de forma independente com o risco aumentado de OVR.

As deficiências de PC, PS e AT juntas foram associadas com risco 4 x aumentado de OVR, mas a raridade pode ter sido responsável pela falta de associação estatística. FVL, PT20210 e anticorpos antifosfolipídios não foram associados com risco aumentado de oclusão.

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A associação dos fatores foi mais forte nos pacientes com oclusão de ramo (deficiências de AT, PC e PS, OR 15.60; hiperhomocisteinemia, OR 3.22; fator VIII, OR 3.08; FVL, OR 2.93; fatores cardiovasculares, OR 1.79) do que para oclusão central (apenas hiperhomocisteinemia, OR 2.15 e altos níveis de fator VIII, OR 1.99). A hiperhomocisteinemia, aumento de fator VIII e riscos cardiovasculares foram associados com maior risco de OVR em pacientes com mais de 50 anos em comparação com pacientes mais jovens (OR 3.41 x OR 1.93), enquanto a trombofilia herdada (deficiência de AT, PC, PS; FVL e PT20210) foi mais prevalente em pacientes com menos de 50 anos.

O caso controle em questão mostra que as deficiências de AT, PC e PS, hiperhomocisteinemia, aumento de FVIII e fatores de risco cardiovasculares estão associados a um aumento de 2 a 4 vezes de oclusão de veia retiniana. Esse risco é particularmente alto (próximo de 16 vezes nas deficiências de AT, PS e PC) em pacientes com oclusão de ramo temporal.

Uma meta análise recente de 26 estudos sugeriu que entre os fatores de risco somente a hiperhomocisteinemia e anticardiolipina seriam associados independentemente à OVR. Já no estudo europeu em questão não foi confirmado o papel dos anticorpos atifosfolipídios. Uma das possibilidades que pode explicar é que neste último foram considerados todos os anticorpos antifosfolipídios juntos. Restringindo a análise à anticardiolipina, 6 pacientes e 1 controle foram positivos, sugerindo possível associação da mesma com a OVR.

Em relação aos fatores cardiovasculares, outros três grandes estudos encontraram associação particularmente da hipertensão arterial com OVR, principalmente em idosos e na oclusão de ramo, o que foi confirmado por esse estudo. Além disso, foi encontrada forte associação não somente na oclusão de ramo, mas em indivíduos acima de 50 anos, enquanto os fatores associados a trombofilia herdada foram mais comumente encontrados em grupos mais jovens.

Na oclusão central de veia, um fator de risco bem estabelecido é o glaucoma, já que o aumento da pressão intraocular pode causar compressão da veia central enquanto ela passa pela lâmina crivosa, resultando em fluxo turbilhonado e formação subsequente de trombo. A importância dos riscos cardiovasculares na OVR é reforçada pelos resultados de alguns estudos que encontraram uma incidência aumentada de infarto, acidente vascular encefálico e mortalidade cardiovascular depois de um episódio de OVR.

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Referências:

  • Thrombophilic and cardiovascular risk factors for retinal vein occlusion. Paolo Bucciarelli, Serena M. Passamonti, Francesca Gianniello, Andrea Artoni, Ida Martinelli. https://doi.org/10.1016/j.ejim.2017.06.022

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