Fostemsavir é uma opção para pacientes com infecção por HIV-1 multirresistente

Estudo em pacientes com infecção por HIV-1 multirresistente, que não possuíam outra opção terapêutica viável, analisou 48 semanas do uso de fostemsavir.

Apesar de a terapia antirretroviral ter alterado a história natural da infecção pelo vírus HIV, o desenvolvimento de mutações de resistência é um fator que pode limitar as opções terapêuticas de alguns indivíduos.

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Nesse sentido, tem-se buscado por novas classes de antirretrovirais que possam ser usados como terapia de resgate. O fostemsavir é um inibidor de fusão que se liga diretamente à glicoproteína 120 (gp120) localizada no envelope viral, impedindo a mudança conformacional necessária para sua interação com os receptores de superfície das células CD4. Essa molécula não apresenta resistência cruzada com outras classes de antirretrovirais e apresenta um perfil favorável de eventos adversos, sendo com isso uma opção promissora.

O estudo BRIGHTE apresenta os resultados da análise de 48 semanas do uso de fostemsavir em pacientes com infecção por HIV-1 multirresistente.

Fostemsavir é uma opção para pacientes com infecção por HIV-1 multirresistente

Materiais e métodos

O estudo incluiu indivíduos adultos com infecção pelo vírus HIV-1, com falha ao tratamento antirretroviral atual (definida como uma carga viral ≥ 440 cópias/ml) e que não possuíam outra opção terapêutica viável.

O ensaio clínico foi conduzido em 23 países e contou com duas coortes. A primeira coorte era composta pelos indivíduos que tinham uma ou duas opões de classes de antirretrovirais totalmente ativas. Esses indivíduos foram randomizados para receber fostemsavir ou placebo junto com o esquema antirretroviral que usavam dos dias 1 a 8. Após o dia 8, todos os participantes passaram a receber fostemsavir com terapia antirretroviral otimizada guiada por genotipagem. A segunda coorte foi composta por indivíduos sem opções terapêuticas e receberam fostemsavir junto com esquema antirretroviral otimizado desde o dia 1.

Todos os desfechos foram avaliados na primeira coorte (coorte randomizada). O desfecho primário foi a mudança na mediana nos níveis de carga viral dos dias 1 a 8. Os desfechos secundários foram a porcentagem de pacientes com redução de carga viral de mais de 0,5 log10 e 1,0 log10 cópias/mL no dia 8, resposta virológica nas semanas 24, 48 e 96, mediana de alteração na contagem de células T-CD4 na semana 96, desenvolvimento de resistência ao temsavir nos que apresentaram falha virológica, frequência de eventos adversos graves, eventos adversos que levaram à descontinuação, anormalidades lacboratoriais graus 3 e 4, eventos definidores de AIDS e óbito.

Resultados do uso de Fostemsavir

Foram incluídos 371 participantes, sendo 272 na coorte randomizada e 99 na coorte não randomizada. Na coorte randomizada, os grupos que receberam fostemsavir ou placebo foram semelhantes. Nessa coorte, 83% receberam pelo menos 5 esquemas antirretrovirais antes do início do estudo, 85% tinham diagnóstico de AIDS, 26% tinham uma contagem basal de células T-CD4 < 20 células/ml e 29% tinham uma carga viral de pelo menos 100.000 cópias/ml. Na coorte não randomizada, os participantes eram mais velhos e eram mais imunossuprimidos do que os da coorte randomizada, com 90% com diagnóstico de AIDS.

Em relação ao desfecho primário no dia 8, a mediana de redução de carga viral foi de 0,79 ± 0,05 log10 cópias/ml no grupo que recebeu fostemsavir e 0,17 ± 0,08 log10 cópias/ml no grupo que recebeu placebo, uma diferença que foi estatisticamente significativa.

Na coorte randomizada, a taxa de resposta virológica foi de 53% na semana 24 e de 54% na semana 48. As taxas de resposta foram semelhantes em praticamente todos os subgrupos pré-especificados, sendo numericamente mais altos nos com mais de 50 anos, mulheres, negros e nos com pelo menos um antirretroviral na terapia otimizada inicial. Os participantes que inicialmente tinham maiores níveis de carga viral ou menor contagem de células T-CD4 tiveram menores taxas de resposta virológica. A contagem de linfócitos T-CD4 aumentou de forma estável ao longo do tempo, alcançando uma mediana de aumento de 139 ± 135 células/ml. A mediana de aumento foi semelhante entre os que tinham uma contagem basal de < 20 células/ml e os que cuja contagem basal ≥ 200 células/ml.

Na coorte não randomizada, a taxa de resposta virológica foi de 37% na semana 24 e 38% na semana 48. A contagem de células T-CD4 continuou a aumentar com o tempo, com uma mediana de aumento de 63,5 células/ml do início do estudo até a semana 48.

Em relação aos eventos adversos, a frequência foi semelhante entre os dois grupos na coorte randomizada. Na semana 48, 92% dos voluntários relataram pelo menos um evento adverso. Mais indivíduos na coorte não randomizada do que na coorte randomizada relataram eventos graus 3 ou 4 e eventos adversos graves. A maioria destes foi relacionada a infecções ou complicações associadas a AIDS. Os eventos adversos relacionados a droga mais comuns foram náuseas e diarreia.

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Mensagens práticas

  • Fostemsavir teve uma eficácia significativamente melhor do que placebo depois de 8 dias como monoterapia funcional em adultos com opções terapêuticas limitadas.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Kozal M, Aberg J, Pialoux G, Cahn P, Thompson M, Molina JM, Grinsztejn B, Diaz R, Castagna A, Kumar P, Latiff G, DeJesus E, Gummel M, Gartland M, Pierce A, Ackerman P, Llamoso C, Lataillade M; BRIGHTE Trial Team. Fostemsavir in Adults with Multidrug-Resistant HIV-1 Infection. N Engl J Med. 2020 Mar 26;382(13):1232-1243. DOI: 10.1056/NEJMoa1902493.  

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