Ganho de peso após cirurgia bariátrica: preditores, causas e tratamento

Atualmente há crescimento progressivo da realização de cirurgia bariátrica, com cerca de 600 mil cirurgias realizadas no mundo anualmente.

Na população brasileira, mais da metade dos adultos apresentam excesso de peso, o que torna a obesidade um dos principais problemas de saúde pública, principalmente porque sua presença está associada a doenças crônicas como diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertensão, dislipidemia, doenças cardiovasculares, doença hepática gordurosa não alcoólica, apneia obstrutiva do sono e aumento do risco de hospitalização por covid-19. Por isso a importância de estratégias efetivas na perda de peso e sua manutenção a longo prazo. Embora medidas como mudança de estilo de vida e uso de terapias farmacológicas antiobesidade sejam amplamente difundidas, a cirurgia bariátrica (CB) permanece como a ferramenta mais efetiva na redução sustentada de peso, diminuindo a incidência de comorbidades relacionadas e ocorrência de eventos cardiovasculares.

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Ganho de peso após cirurgia bariátrica preditores, causas e tratamento

Dados atuais sobre cirurgia bariátrica

A gastrectomia vertical (GV; 59%) e o bypass gástrico em Y de roux (BGYR; 18%) as principais técnicas de cirurgia bariátrica utilizadas. Embora essa seja uma ferramenta promissora, o follow-up de pacientes submetidos à CB tem mostrado que até 22% apresenta perda de peso subótima (PPS), caracterizada por redução inferior a 40-60% do excesso de IMC inicial em 1-2 anos, ou ainda reganho de peso (RP), que apresenta prevalência ainda mais alta na população pós-bariátrica, sendo definido como perda inicial satisfatória seguida de reganho. Estudos que consideraram RP como acréscimo de pelo menos 10% após perda máxima observaram incidência de até 72% de reganho em cinco anos de follow-up. Por isso, a compreensão das causas, preditores, assim como possíveis meios de prevenção e tratamento do RP são cruciais no acompanhamento do paciente pós-bariátrico.

Causas do ganho de peso pós cirurgia bariátrica

Dentre as causas, podemos ressaltar as anatômicas, como fístula gastro-gástrica, fundo gástrico dilatado, alargamento do pouch gástrico e migração da banda gástrica, assim como as comportamentais, como hábito de beliscar, perda de controle sobre a alimentação e transtorno de compulsão alimentar periódica. O impacto de causas comportamentais é comparativamente mais significativo, exemplificado pela incidência do hábito de beliscar, que ocorre em até 47% dos pacientes pós-bariátricos.

Preditores

Em relação aos preditores de RP, os seguintes fatores podem estar associados: anastomose gastrojejunal com dimensão elevada, volume gástrico residual elevado pós GV, DM2, transtornos alimentares, sedentarismo, transtorno depressivo, uso de álcool, estresse, além de disfunções hormonais como elevado nível de grelina pré-prandial e reduzido nível de GLP-1 pós prandial.

As opções terapêuticas para RP dependem das causas elencadas. Cirurgias revisionais são indicadas caso sejam observadas causas anatômicas, embora o aumento da morbidade inerente à reabordagem deva ser ponderado nessa decisão. Intervenções comportamentais ou de mudança de estilo de vida mostraram mínimo benefício no tratamento de RP, tendo a maioria dos pacientes apresentado perda de peso pouco expressiva quando tratados unicamente com essa estratégia. Opções farmacológicas como topiramato, fentermina e liraglutida têm sido usadas principalmente no contexto de PPS e ainda não há evidência suficiente de que sejam efetivas no RP.

Conclusão

Em resumo, embora a CB seja considerada o tratamento mais efetivo para obesidade, apresenta como fator limitante o RP, sendo esse afetado principalmente por fatores comportamentais. Ainda há muito a caminhar no que concerne ao tratamento desses pacientes, visto que as opções elencadas atualmente, como mudanças de estilo de vida e fármacos não têm demonstrado efetividade a longo prazo.

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Mensagem prática

A obesidade deve ser entendida como uma doença multifatorial, assim, sua abordagem deve ser realizada sob a mesma perspectiva. Por isso, além de indicação precisa da cirurgia bariátrica, é necessário realizar um preparo perioperatório efetivo, além de acompanhamento multidisciplinar a longo prazo, visando intervir principalmente na dimensão comportamental do paciente pós bariátrico.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Noria SF, et al. Weight regain after bariatric surgery: Scope of the problem, causes, prevention, and treatment. Current Diabetes Reports. 2023;23(3):31–42. DOI: 10.1007/s11892-023-01498-z.