Gripe aviária em humanos chegou ao Brasil? Como proceder se caso for confirmado?

As doenças humanas causadas por infecções por gripe aviária são raras e variam de assintomáticas a doença leve a grave, resultando em óbito.

O estado do Espírito Santo confirmou, nesta semana, que ainda investiga quatro casos suspeitos de gripe aviária em seres humanos. Outros casos já haviam sido relatados pelo mundo. O Chile, por exemplo, detectou o primeiro caso de gripe aviária em um ser humano no dia 29 de março, de acordo com o Ministério da Saúde do país, em um homem de 53 anos que apresentava sintomas graves de gripe.

A suspeita dos casos no Espírito Santo intensifica o alerta a respeito dos cuidados que pacientes e profissionais de saúde precisam ter. A chefe do Serviço de Vigilância em Saúde do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz), a médica pesquisadora Mayumi Duarte Wakimoto, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do INI/Fiocruz, falou sobre isso entrevista ao Portal de Notícias PEBMED.

Gripe aviária em humanos: como proceder quando a doença chegar ao Brasil?

Gripe aviária em humanos: como proceder quando a doença chegar ao Brasil?

A importância dos sistemas de vigilância  

O H5N1 é um tipo de vírus influenza que causa uma enfermidade respiratória grave e altamente infecciosa em aves.  

“Os vírus da gripe de origem zoonótica podem causar doenças em humanos e podem levar ao óbito. Casos humanos de influenza aviária H5N1 ocorrem ocasionalmente. Sendo assim, é importante destacar que – embora exista potencial para esses vírus causem infecções humanas – em geral, as infecções com vírus da gripe aviária são esporádicas e, quando ocorrem, não se espalham facilmente de pessoa para pessoa. Porém, se esse vírus H5N1 fosse modificado, seja por adaptação ou aquisição de certos genes de vírus humanos e se tornasse facilmente transmissível de pessoa para pessoa – mantendo a sua capacidade de causar doenças graves – as consequências para a saúde pública poderiam ser muito graves, com risco de iniciar uma epidemia ou uma potencial pandemia. Felizmente, este não é o cenário no momento”, explicou a entrevistada.  

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os países mantenham e fortaleçam os seus sistemas de vigilância, medidas de biossegurança nas fazendas e continuem com a notificação oportuna de surtos de gripe aviária em aves domésticas e espécies não aviárias (aves domésticas e/ou selvagem). A qualidade da vigilância é fundamental para a detecção e resposta precoce a potenciais ameaças para a saúde animal com impacto na saúde pública humana. 

“Quase todos os casos de infecção por H5N1 em pessoas foram associados a contato próximo com aves vivas ou mortas infectadas ou ambientes contaminados por H5N1. O vírus não infecta humanos facilmente e a transmissão de pessoa para pessoa parece ser incomum. Não há evidências de que a enfermidade possa ser transmitida às pessoas por meio de alimentos devidamente preparados e bem cozidos. Portanto, as medidas estão concentradas no controle da doença em animais para reduzir o risco ao ser humano. É recomendável a implementação de um programa abrangente de vigilância, incluindo aves selvagens e avicultura, tanto doméstica quanto comercial. Estratégias devem ser combinadas incluindo a vigilância baseada no risco com um reforço da vigilância geral”, alertou Mayumi Duarte Wakimoto.  

Principais sintomas, período de incubação e gravidade  

Segundo a pesquisadora, os sintomas da infecção por H5N1 podem incluir febre (geralmente febre alta, > 38°C) e mal-estar, tosse, dores musculares e de garganta. Outros sintomas iniciais podem incluir dor abdominal e no peito, além de diarreia.  

A infecção pode progredir rapidamente para doença respiratória grave, como dificuldade em respirar ou falta de ar, pneumonia, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e alterações neurológicas (estado mental alterado ou convulsões).  

Em pacientes com infecção respiratória aguda com história de febre ou febre medida ≥ 38 °C e tosse; com início nos últimos dez dias e requerendo hospitalização) – e para os quais descartou covid —, devem ser observados os seguintes critérios para a suspeita: 

  • não responde ao tratamento padrão ou apresenta deterioração clínica grave, e sem resultado laboratorial conclusivo; 
  • associado à exposição direta ou indireta a animais; 
  • histórico de viagem de 14 dias antes do início dos sintomas, para países onde vírus emergentes estão circulando;  
  • profissional de saúde que cuidou clinicamente de pacientes com doença respiratória aguda grave com contato ou exposição a animais; 

Leia também: Primeiro caso humano de gripe aviária H3N8 é anunciado na China

Gravidade, tratamento e vacina contra a gripe aviária

“A gripe aviária em humanos, em geral, evolui para uma enfermidade grave que deve ser tratada imediatamente no hospital e pode exigir cuidados intensivos, quando disponíveis. O medicamento antiviral Oseltamivir pode reduzir a gravidade da doença e prevenir o óbito, devendo ser usado em todos os casos. O tempo para a cura depende da resposta do paciente ao tratamento e de possíveis intercorrências clínicas, uma vez que a infecção por H5N1 em humanos pode causar doença grave e tem uma alta taxa de mortalidade (em torno de 60%)”, pontuou Mayumi Duarte Wakimoto.  

As doenças humanas causadas por infecções por gripe aviária são raras e variam de assintomáticas a doença leve a grave, resultando em óbito, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).  

A gripe aviária eliminou dezenas de milhões de aves no ano passado no país, que confirmou um primeiro caso humano em abril de 2022. Muitas das aves foram abatidas para impedir a propagação da enfermidade.  

Vale ressaltar que o vírus pode ser transmitido de aves ou mamíferos marinhos para humanos, mas não há transmissão conhecida de humano para humano.  

No Brasil, o Instituto Butantan está em fase de estudos pré-clínicos para o desenvolvimento de vacina contra a gripe aviária H5N1.  

Outros casos

Casos recentes em fazendas industriais levaram as autoridades a interromperem as exportações de aves. Casos industriais também foram detectados na Argentina, mas o Brasil, maior exportador mundial de aves, continua livre do contágio. 

Saiba mais: Gripe aviária: Governo de Israel sacrifica centenas de milhares de aves para tentar evitar nova epidemia

No dia 10 de janeiro, o Equador confirmou o seu primeiro caso de transmissão humana da gripe aviária em uma menina de 9 anos. O caso raro de infecção humana ocorreu um mês depois que o país declarou emergência sanitária. 

O Ministério da Saúde do Equador disse que humanos e animais na área onde a criança foi infectada, na província central de Bolívar, estão sendo monitorados de perto quanto à transmissão. A condição da paciente não foi informada.  

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

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