Incidência de perda visual pós-operatória em cirurgias não oftalmológicas

Estudo avaliou a incidência, características e preditores do desenvolvimento de perda visual pós-operatória (PVPO) em pacientes submetidos a cirurgias não oculares.

A perda visual pós-operatória (PVPO) em cirurgias não oftalmológicas é uma complicação rara, porém muito grave, que acomete pacientes submetidos a determinados tipos de cirurgia como cirurgias de longa duração de cabeça e pescoço, coluna e cirurgias cardíacas, em posição prona e com grande probabilidade de sangramento. Existem alguns fatores que são inerentes ao próprio paciente, tornando essa complicação mais comum, como em casos de pacientes com história de diabetes, tabagismo, obesidade, glaucoma de ângulo fechado, doença trombótica, insuficiência renal e hipertensão arterial.

A causa mais comum de PVPO é a neuropatia óptica isquêmica, causada por períodos prolongados de hipotensão com baixa de volemia ou embolia, com diminuição do fluxo sanguíneo para o nervo óptico. Uma outra causa de PVPO, principalmente em pacientes que se submeteram a cirurgias de risco em decúbito ventral, causada pela compressão externa da órbita, seria a oclusão da artéria central da retina.

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O paciente que desenvolve PVPO apresenta no pós-operatório imediato, ainda na sala de cirurgia, após o despertar, queixa de diminuição da acuidade visual, usualmente unilateral, podendo apresentar alterações intraoculares como edema periorbital ou palpebral, proptose, ptose equimoses, perda de movimentos oculares, parestesia da região, entre outros. Pode ocorrer também hemorragia peripapilar e edema de disco óptico dependendo do tipo de lesão.

Alguns estudos avaliaram a incidência dessa complicação, porém o último dele foi realizado há mais de uma década e não diferenciaram a ocorrência da complicação entre pacientes com e sem alterações visuais no pré-operatório.

Esse estudo em questão visa avaliar a incidência, características e preditores do desenvolvimento de PVPO em pacientes submetidos a cirurgias não oculares.

Incidência de perda visual pós-operatória em cirurgias não oftalmológicas

Estudo

O estudo em questão foi uma revisão de todos os casos cirúrgicos realizados no ano de 2017 no estado da Flórida, sendo os dados coletados pelo 2017 Florida State Inpatient Database (SID) e o diagnóstico de PVPO foi realizado pela análise do CID em cirurgias não oculares.

Resultados

Em 2017 houve o total de 630.439 cirurgias não oftalmológicas no estado da Flórida. Desse total, 76 pacientes apresentaram PVPO, sendo 46 casos atribuídos a oclusão da artéria central da retina, 24 casos atribuídos a neuropatia óptica sistêmica e 6 casos de perda visual súbita. A maioria dos casos ocorreram em pacientes acima de 65 anos, do sexo masculinos e brancos. A incidência geral dos casos foi de 1,21 casos para cada 10.000 cirurgias não oculares.

A maioria dos casos estavam relacionados a cirurgias cardíacas ou de coluna vertebral e os pacientes apresentavam história de hipertensão ou hiperlipidemia prévia, fatores esses que estão intimamente relacionados a casos de PVPO.

Em comparação com outros estudos, a hiperlipidemia, que pode ser considerada como grande fator de risco para doença aterosclerótica, mostrou-se de alta significância para o desenvolvimento de PVPO.

Um outro estudo específico, que analisou casos de PVPO em cirurgias não cardíacas entre os anos de 1996 a 2005, evidenciou uma incidência de 2,5 casos para cada 10.000 cirurgias, sendo que casos de cegueira cortical também foram incluídos como PVPO, além de não diferenciar casos novos de pré-existentes. Porém, da mesma forma que o estudo atual, os pacientes mais idosos, do sexo masculino e submetidos a cirurgias cardíacas e ortopédicas de grande porte, foram os mais suscetíveis.

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Conclusão

Apesar do estudo mostrar algumas limitações, é correto afirmar que pacientes com quadro de hiperlipidemia, masculinos e idosos e que são submetidos a cirurgias cardíacas, ortopédicas ou de coluna de grande porte, formam um grupo de risco alto para o desenvolvimento de perda visual pós-operatória (PVPO), sendo necessário maiores cuidados pré, intra e pós-operatório, assim como diagnóstico precoce, e rápido início de tratamento a fim de mitigar os efeitos deletérios dessa complicação rara, porém grave. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Lin JC, French DD, Margo CE, Greenberg PB. Epidemiology of postoperative visual loss for non-ocular surgery in a cohort of inpatients. Eye (Lond). 2022 Jun;36(6):1323-1325. DOI: 10.1038/s41433-021-01791-9