Inibidores de transcriptase reversa e risco cardiovascular

Um estudo recente encontrou um aumento no risco cardiovascular entre os que iniciaram inibidores de integrase (INI).

Os inibidores de integrase (INI) fazem parte dos esquemas de primeira linha em muitas regiões do mundo. A alta eficácia, bom perfil de tolerabilidade e segurança e o baixo potencial de interações medicamentosas são alguns dos fatores que os tornam mais atraentes do que outras opções, como os inibidores de transcriptase reversa. 

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À medida que seu uso se amplia, entretanto, algumas preocupações em relação aos INIs vêm sendo levantadas, especialmente ganho de peso e aumento de incidência de hipertensão arterial e diabetes. 

Um estudo recente encontrou um aumento no risco cardiovascular entre os que iniciaram INI. Contudo, discutem-se que limitações metodológicas podem ter influenciado os resultados. Um trabalho suíço com dados populacionais procurou avaliar a associação entre essa classe de antirretrovirais e o risco de eventos cardiovasculares. 

estetoscópio ao lado de ECG de doença cardiovascular em mulher com menopausa

Materiais e métodos 

O estudo utilizou dados obtidos de pacientes da coorte SHCS, que inclui quase 80% dos indivíduos em uso de terapia antirretroviral (TARV) na Suíça. Informações sociodemográficas, clínicas, comportamentais e laboratoriais são registradas na entrada na coorte e a cada seis meses de forma padronizada. 

Foram incluídos os pacientes que eram virgens de tratamento após 1º de maio de 2008 e que iniciaram TARV após essa data. Consideraram-se como pertencentes ao grupo que começou INI todos os participantes que receberam um esquema com essa classe, independente dos outros componentes do esquema. 

Os participantes foram seguidos do início de TARV até o primeiro evento cardiovascular, perda de seguimento, morte ou última visita da coorte. Os desfechos de interesse foram tempo até o primeiro evento cardiovascular, incluindo infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e procedimentos cardiovasculares invasivos. 

Para identificar se os efeitos do tratamento variaram de acordo com grupos específicos, os autores realizaram análises de subgrupos de acordo com sexo, idade (< 65 ou ≥ 65 anos), e se o esquema de TARV incluiu abacavir (ABC) ou não. 

Resultados 

A população do estudo incluiu 5.362 indivíduos, com uma mediana de 38 anos. A maioria dos incluídos eram homens e 15% eram negros. No geral, 1.837 (34,3%) iniciaram um esquema contendo INI e 3.525 (65,7%), com outro esquema terapêutico. 

Os participantes que começaram INI eram menos prováveis de serem mulheres, menos prováveis de serem negros e tinham maior mediana de linfócitos T-CD4 do que indivíduos com outros esquemas. Também eram mais prováveis de terem disfunção renal (TFG < 60 mL/min) e de receberem ABC e TAF. Entre os que iniciaram TARV depois de 2012, os que receberam INI eram mais prováveis de possuírem hipertensão arterial, diabetes, história de evento cardiovascular e TFG < 90 mL/min. 

Durante o período de seguimento, que teve uma mediana de 4,9 anos, ocorreram 116 eventos cardiovasculares: 37 infartos do miocárdio, 36 acidentes vasculares cerebrais e 43 procedimentos cardiovasculares invasivos. A taxa de incidência não ajustada de eventos cardiovasculares foi de 6,16/1000 pessoas-ano (IC 95% = 4,64 – 8,17) para os que iniciaram INI e 3,54/1000 pessoas-ano (IC 95% = 2,79 – 4,49) para os que iniciaram outros esquemas de TARV, o que representa um HR = 1,88 (IC 95% = 1,24 – 2,84). Contudo, após ajuste para fatores de confundimento, o HR encontrado foi de 0,80 (IC 95% = 0,46 – 1,39). 

Os resultados foram consistentes entre os diferentes grupos etários e não variaram com o uso de ABC. O risco relativo para eventos cardiovasculares associado ao uso de INI comparado com outras classes de TARV pareceu ser menor entre mulheres, mas sem significância estatística. Em uma análise de sensibilidade, excluindo indivíduos com história prévia de evento cardiovascular, o HR ajustado para o desenvolvimento de um novo evento com INI comparado outras classes foi de 0,74 (IC 95% = 0,39 – 1,42). 

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Mensagens práticas 

Nesse estudo de coorte populacional, não foram observadas diferenças no risco de desenvolvimento de eventos cardiovasculares entre indivíduos que iniciaram TARV baseado em INI e os baseados em outras classes. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Surial B, Chammartin F, Damas J, Calmy A, Haerry D, Stöckle M, Schmid P, Bernasconi E, Fux CA, Tarr P, Günthard HF, Wandeler G, Rauch A; Swiss HIV Cohort Study. Impact of integrase inhibitors on cardiovascular disease events in people with HIV starting antiretroviral therapy. Clin Infect Dis. 2023 May 9:ciad286. DOI: 10.1093/cid/ciad286. Epub ahead of print. PMID: 37157869.