“Quando nasce uma mãe, nasce a culpa”, frase dita por muitos e que, provavelmente, você já ouviu e/ou falou. Isso acontece porque desde o momento em que a mulher descobre estar grávida, surge o bebê imaginário, aquele que é idealizado em sonhos e pensamentos. Entretanto, quando o bebê real chega, ou seja, aquele que nasce, pode ser muito diferente ao da imaginação. Além disso, o cuidado com ele e seu desenvolvimento, inclusive, também podem ser diferentes daquilo que foi imaginado anteriormente.
Diante disso e das demandas geradas a partir da maternidade e da chegada de um novo membro da família, as puérperas podem desenvolver momentos de ansiedade, o que para Chemello, Levandowski e Donelli (2021, p.40), pode fazer parte da experiência materna, para algumas mães tais episódios podem se manifestar de forma exagerada, gerando “preocupações excessivas e/ou de um estado de tensão, insatisfação, insegurança, incerteza e medo diante da maternidade.”
Nesse sentido, uma situação que pode gerar quadro de ansiedade e, consequentemente, produzir insegurança para mulher, é a amamentação, tendo em vista que tal prática está permeada por muitos mitos, além de desinformação, conselhos não solicitados e opiniões diversas quanto ao ato de amamentar. Não é à toa que, em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou a Semana Mundial do Aleitamento Materno, cujo objetivo é incentivar a amamentação, o que corrobora para prevenção da mortalidade infantil.
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É notório que a intenção da mulher em realizar a amamentação é algo construído ao longo de sua vida, o que antecede até mesmo a gravidez. No entanto, quando ela se vê com o bebê real nos braços, permeada por diferentes obstáculos advindos dos primeiros dias do puerpério, emergem preocupações, inseguranças e incertezas quanto à decisão tomada. A puérpera percebe que amamentar um bebê não é instintivo como ocorre com outras espécies de mamíferos ou é compartilhado por diferentes meios de comunicação que veiculam propagandas de incentivo à amamentação. É importante salientar que algumas mídias digitais ou campanhas governamentais quando abordam o tema amamentação, apenas retratam a imagem de mulheres sorrindo, lindas, maquiadas, segurando seu bebê nos braços enquanto amamentam.
Questionamentos
No entanto, a mulher que vivencia problemas como: dor do pós-parto, baby blues, privação do sono, dificuldade de fazer a pega para o bebê mamar, fissura nos mamilos ou problemas para o ganho de peso de seu filho, pode começar a repensar sobre sua capacidade de amamentar ou ter questionamentos sobre a qualidade de seu leite (“Existe leite fraco?”, “Estou com produção suficiente?”, ‘Meu bebê está com fome?”). Assim, observa-se que a ansiedade e a insegurança ficam cada vez mais evidentes diante dos mitos e tabus que pairam a amamentação.
Nesse contexto, destaca-se a importância do profissional de enfermagem que desenvolve um papel fundamental para consolidação das políticas públicas e promoção do desenvolvimento humano com qualidade. Suas atividades são pautadas em preceitos éticos, legais, técnicos e científicos que valorizam o saber dos indivíduos na sociedade. Durante o pré-natal, tais profissionais buscam compreender os questionamentos que emergem sobre o processo de amamentação, a fim de promover orientações eficazes para empoderar a mulher e sua rede de apoio, haja vista que as tradições e mitos de cada família vão passando de geração em geração
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Neste cenário, é importante frisar que as orientações, ainda no período gestacional, devem englobar questões sobre como fazer uma boa pega, quais as posições possíveis para amamentar, o que é esperado nos primeiros dias de vida do bebê, os principais sinais e sintomas de alerta para que mulher e sua família saibam quando buscar ajuda profissional. Esse conjunto de ações assertivas fará com que a puérpera e sua rede de apoio conheçam o que está por vir, incluindo as sensações e sentimentos que podem surgir em decorrência da gestação, parto e puerpério.
Mensagem final
Desta forma, conclui-se que a acessibilidade ao conhecimento e o protagonismo que quem vivencia o processo possibilitam minimizar eventuais situações adversas, ao mesmo tempo que fortalece o ato de amamentar, minimizando, desta forma, as chances do surgimento de insegurança e ansiedade diante do medo do desconhecido.