O tabagismo contribui para o surgimento de diversas doenças circulatórias, metabólicas, autoimunes e cânceres. Entender a fisiopatologia das doenças e sua relação com o cigarro é fundamental para atuar da redução de riscos e melhoria dos tratamentos atualmente existentes. Durante os últimos anos, a potencial associação causal entre tabagismo e risco de diferentes doenças foi investigada usando a randomização mendeliana. Essa revisão se propôs a avaliar a interação genética com as exposições ao tabaco utilizando randomizações mendelianas.
Métodos
Foram incluídos estudos de randomização mendeliana considerando o tabagismo inicial ou de longa data, em relação ao sistema circulatório, sistema digestivo, sistema nervoso, sistema musculoesquelético, doenças endócrinas, metabólicas, oculares e neoplasias publicadas até fevereiro de 2022. A randomização mendeliana (RM) é um método que utiliza variantes genéticas associada a diferentes exposições como fator causal no desenvolvimento das doenças.
Resultados
Foram incluídos 29 estudos com RM. Os resultados mostraram que a responsabilidade genética associada ao cigarro (início do tabagismo ou tabagismo ao longo da vida) foi associada com risco aumentado de 13 doenças do sistema circulatório, várias doenças do sistema digestivo (incluindo doença diverticular, cálculos biliares, refluxo gastroesofágico e doença de Crohn, pancreatite aguda e periodontite), epilepsia, algumas doenças do sistema musculoesquelético (incluindo fratura, osteoartrite e artrite reumatóide), endócrinas (síndrome dos ovários policísticos), metabólicas (diabetes tipo 2) e doenças oculares (incluindo degeneração macular relacionada a idade e catarata senil), bem como câncer de pulmão, cabeça e pescoço, esôfago, pâncreas, bexiga, rim, colo do útero e ovários, e leucemia mielóide.
Leia também: Qual a relação entre a Covid-19, o tabagismo e uso de cigarros eletrônicos?
Esses resultados corroboram diversos estudos observacionais que relacionam o cigarro à várias doenças. Fumar pode aumentar o risco de doenças através de vários mecanismos biológicos, dos quais um mecanismo plausível central é a inflamação sistêmica. A queima de cigarros gera espécies reativas de oxigênio que podem ativar cascatas de sinalização intracelular de células epiteliais que levam a processos inflamatórios e ativação de genes, como o fator de necrose tumoral. Fumar pode também aumentar o risco dessas doenças, promovendo disfunção endotelial e trombogênese e por meio de efeitos sobre respostas imunes e composição microbiana, além dos efeitos da nicotina.
Mensagens práticas
- O cigarro é um fator de risco para inúmeras doenças, além de atuar na gênese de diversos cânceres, responsável pela morte de 10 milhões de pessoas em 2020 segundo a OMS.
- Entre as causas de mortes evitáveis conhecidas, o tabagismo é um dos principais agentes envolvidos.
- Documentar a relação genética com a exposição ambiental faz parte da tendência atual de medicina personalizada e propostas de tratamento nas vias de surgimento das doenças.