Intervenções comportamentais funcionam para cessar o tabagismo?

O tabagismo é responsável por milhões de mortes todos os anos. Em média, o fumante tem expectativa de vida reduzida em 10 anos se comparado a não-fumantes.

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O tabagismo é responsável por milhões de mortes todos os anos. Em média, o tabagista tem sua expectativa de vida reduzida em 10 anos quando comparado a indivíduos que nunca fumaram. Direta ou indiretamente, o fumo é um fator de risco modificável de diversas condições em saúde. Mas, em grande parte por ações comportamentais, o hábito de fumar pode ser abandonado.

As intervenções comportamentais para o tabagismo são bem conhecidas. No Brasil, em especial, os famosos “grupos de cessação do tabagismo” ou simplesmente “grupos de tabagismo” são bastante divulgados nos cenários de atenção básica. O Ministério da Saúde e algumas Secretarias Estaduais de Saúde, como a do estado de São Paulo, possuem treinamentos e protocolos específicos para auxílio na cessação do tabagismo, baseando-se em estratégias de intervenções comportamentais em grupo.

Essas ações com contrapartidas governamentais visam atuação de programas em massa, com impacto em indicadores de saúde pública com base em ações custo-efetivas; em termos práticos, medidas que sejam eficientes em relação ao investimento realizado para que elas aconteçam com vistas a um impacto populacional. Contudo, disso surgem algumas dúvidas: essas são as únicas intervenções possíveis? Apenas essas medidas são efetivas? Além delas, há algo que possa ser feito em locais cuja estrutura seja a presença única do profissional em seu consultório?

Além da terapia farmacológica, existem as abordagens breves (que consistem em aconselhamentos pontuais, entrevistas motivacionais eventuais, panfletos informativos e educação sobre as consequências do tabagismo) – muitas dessas ações podem ser realizadas dentro do próprio consultório – e intervenções comportamentais estruturadas, que demandam profissionais treinados e que podem ser realizadas em grupo (como os grupos padronizados pelo Ministério da Saúde) ou individualmente no consultório.

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As evidências mostram em números quais são as opções mais eficazes. A cada 100 fumantes submetidos à intervenção breve apenas sete conseguem parar de fumar em um seguimento de seis meses. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) aplicada por um profissional treinado é capaz de ampliar ainda mais essa margem para entre 10 e 12 pacientes a cada 100 fumantes (Nível A de evidência). Para farmacoterapia exclusiva, 11 pacientes a cada 100 tabagistas conseguem deixar o cigarro. O uso combinado de TCC e farmacoterapia consegue aumentar essa margem para 16 em cada 100 pacientes (Nível B de evidência).

Uma revisão da Cochrane incluindo 49 estudos randomizados e controlados combinou diversos resultados de pesquisas, totalizando 19 mil indivíduos participantes em vários cenários (ambulatoriais, hospitalares, pré-cirúrgicos, clínicas de reabilitação). Todos os estudos compararam sessões estruturadas mínimas de 10 minutos versus suporte mínimo com campanhas educativas e aconselhamento habitual. Os seguimentos variaram em média de três a seis meses. A TCC individual aumentou o tempo de permanência em abstinência dos pacientes durante o follow-up (NNT = 25, intervalo de confiança de 95% de 22 a 33).

Dentre os estudos incluídos, um levantamento com 755 afroamericanos considerados tabagistas leves (até 10 cigarros/dia) demonstrou que pessoas que receberam medidas de intervenção com educação em saúde (aconselhamento semiestruturado com informações sobre potencial de adicção da nicotina, consequências do tabagismo para desfechos em saúde e benefícios da cessação de tabagismo, além de estratégias para detecção de disparadores do consumo de tabaco e estabelecimento de plano para deixar o tabaco) conseguem ter melhor resposta para largar o fumo do que indivíduos que recebem entrevista motivacional como intervenção (16,7% versus 8,5% de taxa de sucesso, respectivamente, p<0,001).

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Referências:

  • Lancaster T, Stead LF. Individual behavioural counselling for smoking cessation. Cochrane Database Syst Rev. 2017; (3):CD001292.
  • Jha P, Ramasundarahettige M, Landsman V, et al. 21st-century hazards of smoking and benefits of cessation in the United States. N Engl J Med. 2013;368(4):341-350.
  • Larzelere MM, Williams DE. Promoting smoking cessation. Am Fam Physician. 2012;85(6):591-598.
  • Ahluwalia JS, Okuyemi K, Nollen N, et al. The effects of nicotine gum and counseling among African American light smokers: a 2 x 2 factorial design. Addiction. 2006; 101(6): 883-891.
  • Fiore MC, Jaén CR, Baker TB, et al. Treating Tobacco Use and Dependence: 2008 Update. Clinical practice guideline. Rockville, Md.: U.S. Department of Health and Human Services, Public Health Service; 2008

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