As alergias alimentares são um importante problema de saúde, tanto em crianças quanto em adultos. A alergia ao amendoim, particularmente, pode causar vários transtornos ao paciente, com altas taxas de anafilaxia e grande redução da qualidade de vida dos pacientes alérgicos. Estatísticas sugerem que 1% a 2% das crianças europeias apresentam alergia ao amendoim.
Alguns protocolos recentes têm sugerido a introdução precoce do amendoim na alimentação do lactente, o que levaria a uma redução na prevalência de alergia ao amendoim em crianças maiores. Esses protocolos, no entanto, geralmente seguem a opinião de especialistas, com pouca evidência na área. Além disso, estudos recentes na população australiana não demonstraram redução da prevalência de alergia ao amendoim após o aumento da exposição ao alimento durante a introdução alimentar.
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Os dados relacionados ao tema, porém, são conflitantes; o trial The Learning Early About Peanut Allergy (LEAP) randomizou 640 crianças entre 4 e 11 meses de idade com eczema grave e/ou alergia ao ovo para exposição precoce ou não ao amendoim, com resultados sugerindo que a exposição precoce ao amendoim pode sim prevenir a alergia ao alimento.
Uma deficiência deste estudo diz respeito à avaliação da introdução precoce de amendoim na alimentação de crianças pequenas que não apresentem indícios prévios de atopia, como eczema ou alergia a outros alimentos, uma vez que esses pacientes não foram selecionados para o estudo.
Novo estudo
Um estudo publicado em dezembro de 2022 na revista Journal of Allergy and Clinical Immunology trouxe um modelo produzido a partir de dados de outros grandes estudos que avaliaram a introdução precoce de amendoim na alimentação das crianças e sua relação com a prevenção de alergia a esse alimento. Os trials utilizados para a produção desse modelo foram: o LEAP Prevention Trial, o PAS Study e o EAT Trial. O artigo também trouxe uma análise combinada dos resultados desses estudos.
Quando avaliados os resultados combinados dos estudos, os pesquisadores encontraram uma redução de alergia a amendoim após a exposição precoce de 52%, diferente do resultado de redução de 81% quando analisados dados com pacientes selecionados sem teste cutâneo (“prick test”) muito intenso. Isso porque provavelmente nos dados combinados, estão incluídos também pacientes que já apresentam alergia ao amendoim no período de exposição, o que reduziria a eficácia da medida.
Além disso, os pesquisadores encontraram como importantes fatores de risco para a sensibilização ao amendoim os seguintes: gravidade e duração do eczema, idade maior e raça não branca. Por fim, os dados sugerem que a maioria das crianças que desenvolvem alergia ao amendoim com 5 anos de idade desenvolvem essa alergia até os 12 meses de idade, sendo que nenhuma criança menor de 5 meses de idade apresentou sensibilização ao alimento.
A partir desses dados, os autores puderam realizar um modelo de regressão logística ordinário para estimar a prevalência de alergia a amendoim aos 5 anos de idade. O modelo também levou em consideração os fatores de risco para a alergia ao amendoim citados acima.
Resultados
O modelo criado pelos pesquisadores sugeriu benefícios na prevenção da alergia ao amendoim quando esse alimento é introduzido precocemente na alimentação das crianças. Para a população geral, incluindo crianças com ou sem eczema, a prevalência esperada de alergia ao amendoim a partir da introdução precoce reduziria de 2,5% a 0,29% (considerando que houvesse uma boa aderência a prática).
Quando avaliadas as diferenças dependendo da idade de introdução do amendoim, os pesquisadores observaram que quanto mais precoce a introdução do alimento, maior é o benefício, sendo a redução da prevalência de alergia dependente do grupo estudado. Assim, os pesquisadores observaram através de seu modelo que a introdução do amendoim em crianças de 4 meses com ou sem eczema levaria a uma redução relativa em 82% na prevalência de alergia aos 5 anos de idade; que a introdução do amendoim em crianças de 4 meses com eczema ou de crianças com 6 meses sem eczema levaria a uma redução de risco de 77%; e que a introdução do alimento em crianças de 4 meses com eczema e de 12 meses sem eczema levaria uma redução do risco relativo de 58%.
Os resultados desse estudo são bastante interessantes uma vez que mostram que a maioria das crianças que apresentam alergia a amendoim já se apresentam com essa alergia aos 12 meses de idade, e que a introdução do alimento apenas nesse período não teria um grande benefício na prevenção do quadro. Além disso, o estudo sugere que os efeitos da introdução precoce de amendoim na alimentação das crianças têm um benefício maior quando aplicado para a população geral e não apenas para a população que apresente um risco aumentado para doenças alérgicas (eczema, alergias alimentares etc.).
Também é importante considerar que quanto mais precoce for a introdução desse elemento, maior é o benefício para a prevenção das alergias ao amendoim. Isso porque quanto mais precocemente se introduzir o alimento, maior é a chance de estar expondo a criança a proteínas alergênicas do amendoim antes que ela desenvolva efetivamente a alergia.
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Novas recomendações
O artigo então sugere a introdução de amendoim na alimentação infantil a partir dos 4 meses de idade em crianças com eczema, e dos 6 meses em crianças sem eczema, oferecendo a exposição a proteína nesta janela única de oportunidade para a prevenção da alergia ao amendoim.
Os autores ressaltam sobre a importância de se esclarecer aos pais sobre a melhor maneira de oferecer o amendoim para crianças pequenas. Não se deve oferecer o amendoim inteiro, devido aos riscos de aspiração do alimento, mas pode-se iniciar o amendoim na introdução alimentar de crianças pequenas através de pasta de amendoim, por exemplo.
4 abr. 2024 
6 min. 
