Medicamentos supressores de ácido (MSA) e o risco de alergia em crianças

Artigo investigou a relação do uso de medicamentos supressores de ácido (MSA) e o risco de alergia na infância.

Devido ao aumento mundial de doenças alérgicas especialmente entre crianças e adolescentes, há grande interesse em entender possíveis fatores envolvidos. Dentre os esforços nesse sentido, há a suspeita de que a exposição pré-natal ou na infância a medicamentos supressores de ácido (MSA) possa ser um destes fatores. Os dois principais argumentos na defesa dessa hipótese são que a ausência de um meio ácido no estômago pode interferir na digestão de proteínas alimentares, gerando sensibilização alérgica e que estas medicações possam se relacionar à disbiose, um preditor de atopia já conhecido.

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Até então, havia apenas estudos observacionais sobre o assunto, sem que fosse dada a devida atenção a possíveis fatores confundidores. O artigo recente da JAMA Pediatrics se trata de um estudo de coortes que incluiu centenas de milhares de pacientes e levou em consideração dados de 13 anos, visando um olhar mais objetivo sobre o tema.

Medicamentos supressores de ácido e risco de alergia em crianças

Metodologia

Os pesquisadores conduziram um estudo de coortes com pacientes da Coreia do Sul a partir de um banco de dados que engloba toda a população do país, conhecido por NHIS (National Health Insurance Service). Os dados disponíveis incluem informações socioeconômicas, atendimento hospitalar e ambulatorial em saúde (diagnósticos, prescrições etc.), além de exames complementares. Foram coletados dados de primeiro de janeiro de 2007 até 31 de dezembro de 2020.

Foram criadas duas coortes principais, sendo a primeira incluindo pacientes com exposição pré-natal à MSA e a segunda considerando apenas pacientes expostos nos primeiros 6 meses de vida. Os grupos foram pareados, de forma a reduzir possíveis vieses relacionados a covariantes, como ano e estação de nascimento, via de parto, local de residência (rural x urbano) e uso de outras medicações.

Também com o objetivo de reduzir fatores confundidores, os autores construíram coortes adicionais pareando irmãos de pacientes incluídos no estudo desde que o status desses fosse discordante em relação à exposição aos supressores de ácido.

O desfecho primário avaliado foi a presença de doença alérgica (asma, rinite alérgica, dermatite atópica ou alergia alimentar) e como desfechos secundários, foram avaliados os componentes individuais do desfecho primário.

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Resultados

Foram incluídos 3.904.536 pacientes na coorte da exposição pré-natal, sendo 22,6% expostos a MSA. Após pareamento, 808.067 pares de mulheres entre expostas e não expostas fizeram parte do estudo. A taxa de incidência de doenças alérgicas foi 306,1 vs 300,7 por 1.000 pessoas-ano nos expostos vs não expostos. O risco relativo nas coortes pareadas foi de 1,01 (intervalo de confiança – IC – 95%, 1,01-1,02) para doenças alérgicas de forma geral, 1,02 (IC 95%, 1,01-1,03) para asma, 1,02 (IC 95%, 1,01-1,02) para rinite alérgica, 1,02 (IC 95%, 1,01- 1,02) para dermatite atópica, e 1,03 (IC 95%, 0,98-1,07) para alergia alimentar nos expostos vs não expostos.

Os pesquisadores incluíram 3.506.031 pacientes na coorte da exposição nos primeiros 6 meses de vida, sendo 2,4% de pacientes expostos. Por fim, após pareamento, restaram 84.263 pares de bebês entre expostos e não expostos. A taxa de incidência de doenças alérgicas foi 218,1 vs 205,2 por 1.000 pessoas-ano em crianças expostas a MAS vs aquelas não expostas. No entanto, o risco relativo de asma (1,16; IC 95%, 1,14-1,18) e alergia alimentar (1,28; IC 95%, 1,10-1,49) aumentaram moderadamente, mas não substancialmente para alergia doenças em geral (1,06; IC 95%, 1,04-1,07), rinite alérgica (1,02; IC 95%, 1,01-1,03) ou dermatite atópica (1,05; IC 95%, 1,02-1,08) em crianças expostos a MAS durante a infância vs aquelas não expostos.

Conclusões

Os achados sugerem não haver relação entre uso pré-natal de MSA e aumento do risco de doenças alérgicas. Com relação ao uso dessa classe de medicamentos nos 6 primeiros meses de vida, parece haver aumento do risco para asma, embora a magnitude desse aumento seja menor do que anteriormente descrito. Ainda assim, os autores alertam que o uso de MSA deve ser muito bem ponderado especialmente em crianças pequenas e que, quando o uso for necessário, essas crianças devem ser monitoradas para sinais clínico de asma.

Comentários

Estudo interessante, bem construído e com um n que possibilita que sejam feitas as considerações necessárias.

Apesar de não ter sido demonstrada importante relação de risco para doenças alérgicas, o uso deste grupo de medicamentos em crianças pequenas, que tem sido crescente, deve ser evitado como primeira escolha de tratamento devido aos possíveis efeitos adversos e pelo fato de muitas das vezes as queixas tratarem-se de sintomas autolimitados e que não trazem prejuízo significativo para o paciente.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Noh Y, et al. Prenatal and Infant Exposure to Acid-Suppressive Medications and Risk of Allergic Diseases in Children JAMA Pediatr. 2023;177(3):267-277. DOI: 10.1001/jamapediatrics.2022.5193

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