Quando falamos em marcadores que ajudam no entendimento da perfusão de um paciente grave, não temos como não lembrar do lactato! Muito utilizado e fortemente recomendado pelas diretrizes do manejo da sepse e choque séptico.
O prof. Jan Bakker, um dos autores principais do ANDROMEDA-SHOCK trial, que fortaleceu o uso do lactato e do tempo de enchimento capilar no manejo de pacientes com alterações circulatórias pela sepse, abordou vários aspectos práticos deste marcador.
Uma das evidências citadas foi o paper “The ten pitfalls of lactate clearance in sepsis”, publicado na Intensive Care Medicine, pelo próprio Jan Bakker. Vamos então a alguns importantes tópicos neste assunto!
Qual o objetivo da utilização do lactato?
A complexidade do lactato como molécula, substrato, biomarcador, fonte de energia, componente de alguns fluidos intravenosos e importante modulador da bioenergética celular durante o estresse fisiológico é formidável.
Tal complexidade torna impossível definir qual objetivo ele deve ter: seja um marcador ou um alvo. Buscar reduzir os níveis de lactato (por qualquer meio, dadas os múltiplas eventos que regulam seus níveis sanguíneos) não tem credibilidade e nem lógica em termos de hemodinâmica, bioenergética ou proteção tecidual.
Na verdade, pode fazer mais sentido biológico ajudar o processo natural de utilização e geração de lactato durante a sepse ou outras situações de estresse fisiológico, administrando lactato!
Até que possamos definir os objetivos que desejamos alcançar ao manipular o lactato e ter meios de medir se atingimos ou não tais objetivos, a ideia de buscar diminuir o lactato aumentando seu “clearance” na sepse é tanto uma ilusão quanto uma “tolice”.
A concentração do lactato nos fluidos de ressuscitação promove algum impacto?
A administração intravenosa de Ringer lactato não parece aumentar as concentrações circulantes de lactato em adultos hemodinamicamente estáveis, nem piorar a acidose metabólica durante uma infusão de 1 L em 60 min. Somente quando infundindo grandes volumes (180 mL/kg/h), os níveis de lactato aumentam significativamente. Pelo contrário, o efeito tampão do Ringer pode ter um efeito positivo no pH sanguíneo.
Mensagens práticas pelo Prof. Jan Bakker
- O lactato é um produto normal do metabolismo da glicose;
- Se houver anormalidades metabólicas de base: os níveis de lactato não refletem a gravidade da falência circulatória;
- Na falência circulatória:
– As primeiras horas de tratamento refletem mudanças na perfusão tecidual que coincidem com mudanças no lactato!
– Isso geralmente não normaliza os níveis de lactato no choque séptico!
- Sem contexto, é difícil interpretar os níveis do lactato.