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No Brasil, tradicionalmente, os médicos usam jalecos de mangas longas, existe até um certo preconceito com o de mangas curtas. Os jalecos são fonte de contaminação por patógenos, porém, nenhuma evidência mostra que o uso mangas curtas reduz o risco de transmissão de patógenos.
Neste contexto, a SHEA (Society for Healthcare of American) fez um ensaio randomizado para testar a seguinte hipótese: a transmissão de agentes patogênicos ocorre com menor frequência quando os profissionais usam jaleco de manga curta quando comparado ao de manga comprida.
MÉTODOS
Um grupo de 34 funcionários de saúde foi randomizado para usar um jaleco branco limpo de mangas curtas ou longas e luvas enquanto realizam um exame padronizado em manequim de uma cama de hospital com uma mesinha de cabeceira adjacente. O tórax e dorso do manequim estavam contaminados com 1 μg de DNA do vírus do mosaico da couve-flor. O exame incluiu palpação e percussão do tórax e abdômen e depois dorso e duraram aproximadamente 2 minutos.
Depois do primeiro exame, os participantes lavaram as mãos com sabão e água por 30 segundos e colocaram luvas limpas antes de realizarem um exame semelhante em um manequim não contaminado (lavagem e troca de luvas foram incluídas para eliminar a contaminação das mãos como fonte de transmissão). Os participantes usaram os mesmos jalecos durante os exames de ambos manequins.
Após o exame do segundo manequim, aplicadores esterilizados Fisherbrand Poliéster (Fisher, Waltham, MA) foram utilizados para testar os punhos, mangas dos jalecos e o segundo manequim, bem como superfícies adjacentes (ex: trilho de cama e mesa de cabeceira). Uma simulação idêntica foi conduzida enquanto o participante estava vestindo um jaleco branco com a manga alternativa. O teste exato de Fisher foi usado para comparar a frequência de transferência do marcador de DNA.
Para avaliar o potencial de transferência de agentes patogênicos pelas mangas de jalecos brancos em ambiente real, foram realizadas observações anônimas de grupos de médicos durante as rondas de trabalho. Avaliaram a frequência de contato entre as mangas de jalecos brancos e pacientes ou superfícies em salas de pacientes durante interações em que foram examinados.
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RESULTADOS
Durante exames simulados, os punhos de manga comprida de jalecos brancos frequentemente contataram tanto o primeiro quanto o segundo manequins (26 de 34, 77% e 23 de 34, 68% de simulações, respectivamente).
Contaminação com o marcador de DNA foi detectada significativamente mais frequentemente nas mangas e / ou punhos dos profissionais e em superfícies do ambiente adjacentes ao segundo manequim quando jalecos de manga longa foram usados. Embora as mãos sejam consideradas as principais fontes de transmissão de patógenos, formas de compartilhar os equipamentos portáteis também estão frequentemente direta ou indiretamente em contato com pacientes e podem contribuir para a transmissão de patógenos.
No estudo publicado, foram fornecidas evidências de que os punhos de jalecos brancos de mangas longas podem servir de vetor para a transmissão de patógenos. A transferência do marcador de DNA viral ocorreu significativamente mais frequentemente quando os jalecos de manga longa eram usados em relação aos de manga curta. Além disso, eles entraram em contato com os pacientes e as superfícies mais frequentemente.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos neste estudo ainda necessitam de complementação, mas fornecem suporte para recomendação de que os profissionais usem jalecos de mangas curtas.
Em 2007, o Reino Unido implementou a política de códigos de vestimenta dos cotovelos, recomendando que os profissionais usassem roupas de manga curta sem relógio de pulso ou jóias. Será que conseguiremos mudar a tradição de jaleco de manga longa no Brasil?
Referências:
- John, A., Alhmidi, H., Gonzalez-Orta, M., Cadnum, J., & Donskey, C. (2018). A Randomized Trial to Determine Whether Wearing Short-Sleeved White Coats Reduces the Risk for Pathogen Transmission. Infection Control & Hospital Epidemiology, 39(2), 233-234. doi:10.1017/ice.2017.264
E no inverno ….a manga das roupas nao seria pior
E a proteção do profissional de saúde? Se o paciente estivesse portando uma doença infecciosa e contagiosa? O ideal é que houvesse a troca de vestimenta ao examinar cada paciente, não descuidando das medidas de biossegurança, a fim de evitar a contaminação do profissional de saúde, do paciente e do ambiente.
Jaleco de mangas curtas podem até diminuir o risco de transmissão de patógenos, mas jamais poderemos deixar de nos atentar primeiramente com a segurança do paciente e do profissional. Depois, jamais devemos esquecer que o jaleco, mangas curtas ou não, não é o único meio de transmissão de doenças. Precisamos bater na tecla constantemente que existe um protocolo da VS, a NR32, que nos diz a proibição e o uso inadequado do jaleco em ambientes que não o de trabalho. Andam nas ruas, vão para casa vestindo o jaleco, usam como vestimenta de frio…pelo amor de Deus, total falta de ética!!!! cadê a consciência? Estamos cuidando de vidas!