Miopia: o que o oftalmologista precisa saber?

A incidência do início da miopia está entre 7 e 15 anos na população chinesa. Aos 18 anos, 80% da população na área urbana já é míope.

A miopia é um dos temas mais cotados no meio oftalmológico atualmente. Se tornou uma questão de saúde pública, já que pode levar pacientes jovens a baixa visão principalmente por alterações da retina (em especial nas altas miopias). Sua prevalência tem aumentado globalmente, chegando a níveis epidêmicos na Ásia.

A primeira revisão baseada em evidência que falou sobre recomendações clínicas para controlar a progressão da miopia foi publicada em 2002, baseada nos 10 estudos clínicos randomizados da época. Depois disso, cerca de 170 artigos falando sobre controle de miopia foram publicados.  

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Casos de miopia em crianças e adolescentes crescem na capital paulista

Como definir e classificar a miopia? 

Miopia: Erro refrativo no qual os raios de luz que entram no olho paralelos ao eixo óptico formam um foco na frente da retina quando a acomodação está relaxada. Isso usualmente resulta de um alongamento do olho (miopia axial) mas pode ser causado também por um maior encurvamento da córnea (miopia refrativa), ou ambos. É considerada também a condição na qual o olho tem -0,50 ou menos quando a acomodação está relaxada. 

Pré-miopia: Estado refrativo <= + 0.75 D e > – 0.50 D em criança com combinação de refração base, idade e outros fatores de risco que concorram para o desenvolvimento futuro de miopia. 

Baixa miopia: Equivalente esférico entre -0,50D e -6,0 D 

Alta miopia: Equivalente esférico entre -6,0 D ou menor 

Miopia patológica: Miopia com alongamento axial excessivo associada a complicações estruturais da miopia do segmento posterior (estafiloma, maculopatia, neuropatia,etc) que podem levar a baixa visão. 

O que sabemos sobre o crescimento ocular e sobre a prevalência de miopia? 

A partir do nascimento o crescimento ocular acontece de forma contínua e o estado refrativo muda gradualmente na direção da emetropia. Nos primeiros 6 meses de vida, os bebês tipicamente tem uma hipermetropia em média de 2 dioptrias. Nos anos subsequentes a hipermetropia vai reduzindo e em torno de 5 a 7 anos a maioria das crianças terá uma hipermetropia mais baixa (de plano a +2.00D). A prevalência de miopia em crianças abaixo dos 6 anos é baixa. Mesmo na Ásia e Singapura onde a prevalência em adultos é muito alta, a prevalência em menores de 6 anos é menor que 5%. Estudos recentes mostram que a incidência nesses grupos tem aumentado (Hong Kong teve aumento de 2.3% para 6.3% em 10 anos).  

A incidência do início da miopia é relativamente constante entre 7 e 15 anos na população chinesa e aos 18 anos, 80% da população na área urbana já é míope. Uma revisão sistemática demonstrou um aumento de 23% na prevalência de miopia na última década entre asiáticos do leste. A maioria dos casos identificados em um estudo na Inglaterra é considerado de início tardio (16 anos ou mais). Populações africanas e espânicas tem uma tendência de menor prevalência que populações brancas do oeste, com asiáticos do sudeste, população negra não africana e populações africanas do norte, havaianos e índios americanos mostrando maior prevalência que a população branca, mas ainda menor que o leste asiático. 

O shift miópico e a aceleração do comprimento axial que precedem o início na miopia podem estar evidentes 4 anos antes. De acordo com Donovan et al. a progressão declina de em torno 1.12D/ ano em torno de 7 anos para 0.50D/ano aos 12 anos. Isso é variável entre os estudos, mas a progressão entre míopes de 7 a 12 anos é aparentemente em torno de 0.5 a 0.6D/ano. As maiores progressões de miopia são esperadas em crianças mais novas (0.50-1.00 D/ 6-9 anos) do que mais velhas (0.35 a 0.75 para os maiores de 10 anos). Chua et al descrevem que a idade de início da miopia é o preditor mais forte para alta miopia. A duração da progressão da miopia também é importante na predição da alta miopia.  

Para crianças com alta miopia aos 11 anos, existe 87% de chance de que elas tenham se tornado míopes com 7 anos ou menos e tenham uma duração da progressão de 4 anos ou mais. Outro autor encontrou que a idade de início somente contaria para 15% dos casos mais graves de miopia. Em um estudo britânico a maior parte dos casos eram tardios (16 anos ou mais). O cuidado maior nesses casos deve ser entender quais são os pacientes em maior risco para desenvolver altos graus de miopia já que mesmo começando tardiamente isso pode ocorrer. A miopia em geral estabiliza no adolescente em torno de 16 a 17 anos em média. A progressão anual na maioria dos pacientes vai diminuindo até estabilizar.  

Existem pacientes, porém em que a miopia continua progredindo até a fase adulta. Isso pode estar associado aqueles que fazem uso intenso da visão de perto e aqueles com maiores graus de miopia. O indicador clínico mais usado para risco genético é a história familia de miopia. A miopia parental interage com outros fatores de risco. Em um estudo com 1770 crianças chinesas com distância muito próxima de leitura e ambos os pais míopes tiveram 26x mais chance de miopia do que crianças com distância de leitura maior que 20cm e sem pais míopes. Em relação ao gênero, aos 18 anos mulheres brancas na Ásia lestes tem 2x mais chance de ter miopia do que homens brancos.  

Dois fatores ambientais principais influenciam o desenvolvimento da miopia: o tempo de atividade externa e o tempo de uso da visão de perto. A atividade externa é protetora contra o desenvolvimento da miopia. O maior tempo em atividades de perto está associado a maior chance de miopia, aumentando em torno de 2% para cada dioptria-hora de trabalho de perto por semana. A região onde vive também importa no desenvolvimento da miopia. Um estudo identificou que a prevalência de miopia em crianças chinesas de 6-7 anos é significativamente menor em Sydney, Austrlia (3.3%) do que em Singapura (29.1%).  

Além da região, a densidade populacional, tamanho da moradia e tipo de moradia são também significativamente associados com o erro refrativo e comprimento axial. Um estudo prospectivo recente mostrou que o tempo outdoor tem um efeito protetor na taxa de progressão. Dois estudos sugeriram que alguns aspectos da função binocular podem ser um fator de risco para a progressão. Além disso vários achados mostram a habilidade do olho de detectar o sinal de defocus retiniano (desfocagem periférica dos raios que entram na periferia) e disparar um mecanismo compensatório de crescimento ocular. O controle do crescimento ocular seria, portanto, comandado pela retina local.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Wolffsohn JS, Flitcroft DI, Gifford KL, et al. IMI – Myopia control reports overview and introduction. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2019;60:M1–M19. https://doi.org/10.1167/iovs.18-25980