Monkeypox: coleta, armazenamento e transporte do material biológico

A Monkeypox, como toda doença viral de alta contaminação, precisa de atenção especial na hora de coletar e transportar o material biológico.

A Monkeypox, também conhecida como varíola do macaco ou varíola símia, é uma doença zoonótica viral, causada pelo vírus Monkeypox (MPXV), organismo composto de material genético DNA de fita dupla, pertencente ao gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae.

Diante do aumento do número de casos de Monkeypox observados em vários países, e da preocupação devido a possibilidade de uma nova pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com autoridades sanitárias mundiais, vem emitindo diversos alertas aos profissionais e serviços de saúde. 

Como a apresentação clínica de Monkeypox, notadamente no que se refere aos aspectos e evolução das erupções cutâneas, pode ser semelhante à outras doenças infecciosas mais comuns (ex.: varicela, sífilis secundária, herpes), o diagnóstico laboratorial, em conjunto com a história clínico-epidemiológica, é de fundamental importância. 

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monkeypox

Coleta e tipo de amostra biológica

De uma forma geral, a coleta do material das lesões cutâneas é o tipo de amostra de eleição para o diagnóstico laboratorial da varíola do macaco, que inclui:

  • Secreção vesicular: material com alta carga viral, ainda na fase aguda a doença. Deve-se utilizar swab estéril de nylon, poliéster, Rayon ou Dacron (não fazer uso de swab de algodão), esfregando-o vigorosamente na(s) lesões(s), a fim de obter material suficiente para os métodos moleculares. Se possível, coletar um swab da secreção vesicular em mais de uma lesão, em locais diferentes do corpo e/ou com aparência distinta; 
  • Crosta de lesão: material de uma fase um pouco mais tardia da infecção, quando as erupções cutâneas já estão secas. Coletar fragmentos ou crosta ressecada da lesão, dando preferência pelas crostas menos secas, em estágio menos avançado de cicatrização (maior probabilidade de detecção do material genético viral). Sugere-se coletar crostas em mais de uma lesão, em regiões diferentes.

Armazenamento e conservação 

Duas lesões do mesmo tipo devem ser armazenadas, de preferência, no mesmo tubo de transporte seco (sem adição de líquidos/meios de transporte), embora tubos com meios de transporte viral (VTM) também sejam admitidos (apenas para secreção vesicular e com, no máximo, 300 uL de líquido).  

Lesões crostosas devem ser armazenadas, obrigatoriamente, em tubos de transporte secos (sem meios conservantes), já que, nesse caso, o contato com qualquer tipo de meio de transporte diminui consideravelmente as chances de detecção viral. 

Todos os materiais devem, de rotina, ser congelados (- 20oC ou menos) em até uma hora após a coleta (dessa forma, essas amostras apresentam estabilidade por, pelo menos, 1 mês). Alternativamente, pode-se mantê-los refrigerados (2 a 8oC), por até 7 dias.  

Para períodos longos de armazenamento (> 60 dias após a coleta), sugere-se conservar o material em -70oC. Recomenda-se evitar ciclos repetidos de congelamento e descongelamento das amostras, sob pena de comprometimento da sua integridade. 

Os frascos de transporte necessitam estar corretamente identificados/rotulados, contendo o nome completo do paciente, data da coleta e tipo de material biológico.

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Transporte e acondicionamento 

Após a coleta, os materiais devem ser enviados ao Laboratório o mais rapidamente possível, acondicionados adequadamente em caixa de transporte de amostras biológicas (Categoria B UN/3373), com gelo reciclável.

Observações importantes: 

  • O profissional responsável pela coleta deverá utilizar EPIs apropriados, com precaução de contato, gotículas e aerossóis (este último para procedimentos geradores de aerossóis, como intubação traqueal, broncoscopia, VNI, RCP, etc.); 
  • Dentro do ambiente laboratorial, a manipulação das amostras (antes de serem inativadas) deve ser realizada em uma cabine de segurança biológica classe II; 
  • Como o período alto de viremia é anterior ao aparecimento das lesões cutâneas (período prodrômico), momento em que, geralmente, o paciente procura um serviço de saúde, a coleta de sangue para o isolamento do MPXV não é indicada de rotina; 
  • Os esfregaços de fluídos vesiculares e de crostas não devem ser misturados e colocados no mesmo tubo de transporte para envio; 
  • Alguns Laboratórios Clínicos privados do Brasil já começaram a disponibilizar exames moleculares para o diagnóstico da varíola do macaco. Todavia, algumas recomendações quanto à fase pré-analítica podem variar, de acordo com o protocolo utilizado e validado por cada laboratório; 
  • A depender do fluxograma, outros tipos de amostras biológicas adicionais, como o sangue ou esfregaço de orofaringe, podem ser utilizadas para realização de testes sorológicos e moleculares de apoio ao diagnóstico e investigação; 
  • Caso haja a necessidade da coleta de sangue total para diagnóstico sorológico diferencial (ex.: herpes, varicela), ele deve ser coletado em EDTA (tubo de coleta de tampa roxa) ou em tubo sem anticoagulante (tampa vermelha/amarela), para obtenção do plasma ou soro, respectivamente; 
  • Embora não habitualmente, coinfecções do vírus Monkeypox com outros agentes podem ocorrer e, dessa forma, no contexto de lesões cutâneas características, estas devem ser consideradas para testes diagnósticos diferenciais.

Mensagem final 

Para que se garanta a integridade da amostra biológica a qual será submetida às técnicas moleculares (PCR em Tempo Real e/ou Sequenciamento) para o diagnóstico da Monkeypox (MPXV) e, por conseguinte, que seus resultados sejam representativos, é de extrema importância que sejam seguidas e observadas todas as recomendações pré-analíticas do exame. 

Dessa maneira, a escolha da melhor fase da doença e do tipo de material biológico a ser obtido, a qualidade do procedimento de coleta, a adequada identificação, armazenamento, acondicionamento e transporte do material até o Laboratório, influenciam de maneira determinante na confiabilidade dos testes diagnósticos.

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