Monkeypox no ciclo gravídico puerperal: o que precisamos saber no dia da gestante?

No dia da gestante, é importante falar sobre como prevenir a transmissão da monkeypox em mulheres no período gravídico-puerperal.

O dia da gestante, comemorado em 15 de agosto, faz referência a uma data em que a sociedade é lembrada de quais cuidados são necessários para uma gestação saudável, nesses últimos anos, além dos cuidados de rotina, como a realização de consultas e exames de pré-natal, tem se destacado as orientações de prevenção de doenças mediante o contexto pandêmico e epidêmico de doenças como covid-19 e Monkeypox (MPXV), conhecida como varíola dos macacos.

Em maio de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou um surto global da MPXV, uma doença zoonótica, causada por um vírus. Esse anúncio causou preocupação por todo o mundo, visto que os países ainda estão se reorganizando devido a todas as repercussões da pandemia de covid-19 e também, porque sabe-se que a varíola humana foi erradicada em 1980. Cabe destacar que na varíola humana as gestantes não vacinadas eram o grupo de maior risco para gravidade e óbito. Nesse contexto, é interessante a discussão acerca do MPXV, a sua incidência, o seu risco e o seu manejo mulheres no ciclo gravídico-puerperal.

Monkeypox no ciclo gravídico puerperal o que precisamos saber no dia da gestante

Cuidados e prevenção

Embora existam poucas publicações referentes a MPXV no período gestacional, a literatura existente demonstra grande probabilidade de abortos, óbitos fetais, prematuridades e outras alterações fetais. Nesse sentido, sugere-se medidas de proteção individual para prevenção da doença, tais como:

  • Uso de máscaras descartáveis;
  • Lavagem das mãos e técnicas de higiene;
  • Não manter contato com pessoas que apresentem lesões suspeitas;
  • Evitar múltiplos parceiros sexuais;
  • Uso de preservativo durante as relações sexuais (apesar do seu uso não evitar a transmissão do vírus, pois a lesão pode estar presente em áreas que não são protegidas pelo preservativo).

Além disso, é oportuno informar que não há recomendação da vacinação em massa para prevenção da doença, uma vez que ainda não existem dados suficientes sobre o uso de imunizantes no período gravídico puerperal e, portanto, nenhuma vacina contra a MPX está aprovada para esse grupo de risco.

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Nessa perspectiva, é importante destacar que, apesar das orientações referentes à prevenção da doença, é possível que haja contaminação de mulheres em período gravídico, uma vez que o vírus da MPXV pode contaminar qualquer indivíduo por contato direto com a lesão ou transmissão respiratória. Desse modo, gestantes, puérperas e lactantes com suspeita de exposição ao MPXV ー com ou sem manifestações clínicas ー poderão realizar a testagem de qPCR para MPXV.

Ademais, as mulheres grávidas possuem características clínicas da MPXV bem semelhantes às das não gestantes, no entanto, são consideradas um grupo de risco à doença devido a possibilidade de agravamento dos sintomas. Além disso, a OMS reconhece a possibilidade de transmissão vertical, através da placenta, intraútero, ou durante o parto, mas não há indicação de que este deva ser antecipado, ou de que há uma melhor via de parto que evite a transmissão (exceto nos casos em que há lesões genitais, então, para que não haja contato do bebê no canal de parto, a cesariana é indicada). E, em relação ao clampeamento do cordão umbilical, o recomendado é que este seja tardio, visto que não há evidências de estudos científicos que indiquem o aumento da transmissão viral nesse momento.

Ao considerar as gestantes com MPXV positivo, é indispensável a avaliação do score de gravidade preconizado pela OMS, que considera o quadro grave acima de 100 e 250 lesões. Concomitante a isso, deve ser avaliado os sinais vitais (temperatura corporal, pressão arterial e frequência cardíaca) de 3 a 4 vezes ao dia. O tratamento é baseado em sintomáticos, conforme outras doenças e agravos virais.

Falando especificamente do período puerperal, ainda não se sabe se o vírus ou anticorpos do MPXV podem ser encontrados no leite materno, dessa forma, os cuidados indicados são baseados no que hoje é conhecido: a transmissão ocorre devido ao contato próximo. Por isso, o recomendado é:

  • Não ter contato pele a pele entre mãe e recém-nascido (RN);
  • Fazer exame macroscópico do RN imediatamente após o nascimento;
  • Quando disponível, colher swab de garganta e de eventuais lesões cutâneas do RN;
  • Informar à mulher e a família sobre os riscos da infecção e da necessidade de manter mãe e filho em quartos separados durante a fase de isolamento;
  • Se não for possível o isolamento da mãe, as seguintes precauções são indicadas:
    • o RN deve estar totalmente vestido ou envolto por um cobertor e após o contato, a roupa ou cobertor devem ser imediatamente substituídos;
    • a mãe deve usar luvas e avental, deixando coberta toda área de pele abaixo do pescoço;
    • a mãe deve usar máscara cirúrgica bem ajustada à face.

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Ressalta-se que tais precauções devem ser mantidas até que os critérios para encerrar o isolamento tenham sido alcançados:

  1. Resolução de todas as lesões;
  2. Queda das crostas;
  3. Formação de uma nova camada de pele.

Contudo, se o resultado do teste feito no RN for positivo, pode ser cancelado o isolamento entre eles e permitindo a permanência da mãe com o bebê.

Diante do exposto, fica claro que o vírus do MPXV deve ser uma prioridade para o Ministério da Saúde do Brasil, instituição responsável pelo monitoramento da situação epidemiológica do vírus no país. Todavia, o enfermeiro deve manter o rastreamento de doenças infectocontagiosas comuns a rotina do pré-natal, tais como sífilis, hepatite B e C, e HIV, sobretudo manter-se atualizado e atento a possíveis novas infecções com base em cenários epidemiológicos desfavoráveis, como visto com a Zika, a covid-19 e a Monkeypox.

Autoria:

Isabelle Gaspar
Enfermeira – Residência em Saúde da Mulher (HESFA/UFRJ), Mestrado em Enfermagem (EEAN/UFRJ) e Especialização em Gênero e Sexualidade (CLAM/IMS/UERJ).

Mariana Marins
Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.

Hérica Correa
Enfermeira e coordenadora da Estratégia Saúde da Família. Mestranda em Cuidado Primário em Saúde na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Enfermeira obstetra pelo Hospital Sofia Feldman. Enfermeira pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ministério da Saúde (BR). NOTA TÉCNICA Nº 46/2022-CGPAM/DSMI/SAPS/MS. Nota Técnica de recomendações sobre Monkeypox no Ciclo Gravídico-puerperal. Brasília, 2022.
  • OMS, MANEJO CLÍNICO E PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÃO PARA VARÍOLA DOS MACACOS. Orientação provisória de resposta rápida. 10 de junho de 2022.
  • Falavina LP, et al. Tendência e distribuição espacial de doenças infecciosas em gestantes no estado do Paraná-Brasil. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 2019. 27: e3160.
  • Mbala PK, Huggins JW, Riu-Rovira T, Ahuka SM, Mulembakani P, Rimoin AW, Martin JW, Muyembe JT. Maternal and Fetal Outcomes Among Pregnant Women With Human Monkeypox Infection in the Democratic Republic of Congo. J Infect Dis. 2017 Oct 17;216(7):824-828.
  • Jamieson DJ, Jernigan DB, Ellis JE, Treadwell TA. Emerging infections and pregnancy: West Nile virus, monkeypox, severe acute respiratory syndrome, and bioterrorism. Clin Perinatol. 2005 Sep;32(3):765-76.
  • Jamieson DJ, Cono J, Richards CL, Treadwell TA. The role of the obstetrician-gynecologist in emerging infectious diseases: monkeypox and pregnancy. Obstet Gynecol. 2004 Apr;103(4):754-6

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