Monkeypox: novas características clínicas e apresentações

Monkeypox é uma doença viral que se tornou endêmica em diferentes regiões. Neste artigo, conheça informações atualizadas sobre o surto.

Em maio de 2022, o UK High Consequence Infectious Diseases (HCID) emitiu um alerta com relação a um indivíduo que havia retornado do oeste africano, infectado por monkeypox, uma doença viral causada por orthopoxvirus. Ao longo da semana, mais seis casos autóctones foram notificados e, até meados de julho, 1735 casos já haviam sido identificados. Pacientes em diversos outros países também foram reportados a partir de então.  

As características clínicas observadas no surto de monkeypox de 2022 diferem daquelas em relatos históricos. Um estudo inglês recente descreve uma série de casos com novas apresentações da doença que foram acompanhados em um centro no sul de Londres de 13 de maio a 1 de julho de 2022.

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O que sabíamos sobre Monkeypox até então?

O período de incubação gira em torno de 12 dias (5-24 dias). A descrição dos sintomas clássicos era de um curso clínico bifásico, com uma fase prodrômica caracterizada por febre, prostração, calafrios, adenopatias, cefaleia, seguida por erupções cutâneas em torno de dois a quatro dias depois.  

As lesões de pele seguiam um padrão típico de evolução: começavam como máculas e progrediam para pápulas, vesículas, pústulas, que formam crostas e descamam. Historicamente, as lesões aparecem e progridem simultaneamente, o que serve para diferenciá-la de outras doenças virais, como a varicela. As lesões se concentram predominantemente em face (95%), palmas das mãos e solas dos pés (75%), mucosas (70%), e mais raramente em região genital.

A maior parte das infecções eram autolimitadas, com acometimento leve a moderado, e sintomas com duração de 2-4 semanas. Manifestações graves incluíam encefalite, infecção secundária das lesões de pele, pneumonia e acometimento ocular que poderia levar à cegueira. As populações de risco se concentravam em neonatos, crianças e imunodeficientes. No entanto, as características do surto atual diferem da apresentação clássica, conforme descreve o estudo a seguir. 

O surto atual de Monkeypox

No trabalho em questão, foram acompanhados 197 pacientes, todos homens, com média de idade de 38 anos. Todos tinham o diagnóstico de Monkeypox confirmado por PCR. Desses, 196 participantes se identificavam como HSH (homens que fazem sexo com homens). A maior parte dos participantes apresentava lesões em mucosa, sendo 56,3% em região genital e 41,6% perianal. A predileção por essas áreas, somado ao histórico de 96% dos pacientes relatarem contato sexual recente, sugere que as lesões se iniciam no sítio de inoculação, seguidas pelos sintomas sistêmicos e, então, disseminação das lesões. 

Dos analisados, 35,5% tinham manifestações cutâneas em estágios diferentes de evolução, o que pode sugerir autoinoculação. No atendimento inicial, 47,2% dos pacientes apresentavam apenas manifestações mucocutâneas ou desenvolveram sintomas sistêmicos após o aparecimento das lesões. Outros 11,2% tiveram uma única lesão cutânea, manifestação que pode ser confundida com sífilis, granuloma venéreo ou foliculite. Setenta e um participantes (36%), apresentaram dor em reto ou dor para evacuar e, desses, oito foram internados, cinco tiveram proctite confirmada e um teve perfuração retal. Desses casos, 35,9% tinham infecção concomitante por HIV. 

Além dessas manifestações, 31 participantes (15,7%) apresentaram edema em pênis e, desses, cinco tiveram parafimose; 13,7% apresentavam lesões em orofaringe e 4,6% tinham eritema, pústula, edema ou abscesso. Além disso, 31,5% tinham concomitantemente uma infecção sexualmente transmissível (IST), sendo N. gonorrhoeae e C. trachomatis, em amostras de swab retal, os mais comuns, o que pode explicar a intensidade dos sintomas retais.  

Apenas um quarto dos pacientes positivos para monkeypox tinha contato com alguém sabidamente doente, o que suscita a possibilidade de transmissão por assintomáticos e oligossintomáticos. Dos pacientes que testaram negativo para Monkeypox, os diagnósticos mais comuns foram: sífilis, herpes simples, herpes zoster, N gonorrhoeae e C trachomatis. A infecção costuma ser autolimitada, com letalidade baixa. No estudo não foram reportados óbitos e os pacientes internados necessitaram apenas do controle de sintomas (principalmente dor retal e edema em pênis).   

O que ainda não sabemos?

Necessitamos de mais pesquisas para compreensão do modelo de transmissão, particularmente no que tange o contato sexual e a disseminação por assintomáticos. O aumento do número de pacientes acometidos favorece que a doença chegue às populações vulneráveis e as implicações disso ainda não estão claras.

Além disso, a transmissão nosocomial, ainda que infrequente, pode acontecer com um caso atípico não diagnosticado, podendo colocar em risco outros pacientes e a equipe de saúde.  

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Patel A, Bilinska J, Tam JCH, Da Silva Fontoura D, Mason CY, Daunt A, et al. Clinical features and novel presentations of human monkeypox in a central London centre during the 2022 outbreak: descriptive case series. BMJ. 28 de julho de 2022; 378:e072410.  
  • Mulka L, Cassell J. The changing face of monkeypox. BMJ. 10 de agosto de 2022; 378:o1990.