Doença infectocontagiosa de alta vigilância epidemiológica na atualidade, causada pelo vírus monkeypox, do gênero Orthopoxvirus (família Poxviridae). Este gênero inclui o vírus da varíola, da vaccinia e o vírus da varíola bovina.
Foi descoberta em uma colônia de macacos pela primeira vez, no Congo, em 1958. Daí o nome “monkeypox”. Entretanto, a doença não parece advir dos macacos e sim de roedores silvestres africanos. O primeiro caso relatado em humanos foi confirmado foi em 1970, quando o vírus foi isolado em uma criança na República Democrática do Congo com suspeita de varíola.
Em 2018, 3 pacientes no Reino Unido foram diagnosticados com varíola dos macacos, e a frequência e a distribuição geográfica dos casos na África Ocidental e Central foram se alastrando. O fato da maioria dos casos acometerem pacientes com idade inferior a 40 anos faz com que essa população não tenha imunidade cruzada da doença, pois a mesma foi considerada mundialmente erradicada, não sendo produzidas mais vacinas a partir de meados da década de 1970 (último caso em 1977).
Populações mais vulneráveis incluem pessoas imunocomprometidas, crianças menores de 8 anos, gestantes e lactantes, pessoas com uma ou mais complicações da doença.
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Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas incluem febre, prostração, linfadenopatia, dores musculares, calafrios, cefaleia e dores lombares. No período de 1 a 3 dias evoluem com lesões cutâneas: máculas, pápulas, vesículas, pústulas e úlceras. Parece durar de 2 a 4 semanas e, na África parece levar a óbito 1 em cada 10 pessoas.
Complicações: Sepse, perda da visão, pneumonia, cicatrizes na pele, encefalite, desidratação e morte.
Manejo Clínico
Antivirais podem ser utilizados, nem todos disponíveis no Brasil: Tecovirimat (TPOXX), Cidofovir (Vistide), Vaccinia Imunoglobulina Intravenosa (VIGIV), Brincidofovir (Tembexa).
Transmissão
A transmissão se dá por meio de contato direto com sangue, secreção e lesões de animais contaminados. A transmissão secundária de pessoa-pessoa pode se dar por gotículas (contato íntimo e prolongado a menos de 1 metro) e contato com sangue, secreções, lesões, roupas e itens pessoais com a pessoa infectada. A transmissão vertical ou com contato próximo após o parto também pode ocorrer. Foram descritos casos de transmissão entre parceiros sexuais, mas ainda não há certeza se a doença é transmitida por contágio sexual, necessitando de mais estudos para elucidação acerca desta via de transmissão (em maio de 2022).
Medidas de Precaução
Vacina: Existe uma vacina disponível nos Estados Unidos que parece conferir proteção contra varíola, levando à ocorrência de casos menos graves de varíola dos macacos. Imvamune ou Imvanex é a vacina que terá novas recomendações pelo CDC e FDA caso haja novo surto americano da doença e necessidade de vacinação da população em massa, pois a mesma não está disponível atualmente para o público em geral.
Profissionais de saúde: A transmissão em ambientes de assistência à saúde não parece ser comum. Ocorre mais em ambientes domiciliares e contatos íntimos de pessoa-pessoa (por fômites, roupas de cama, copos e talheres), por gotículas, sangue, lesões e exposição a secreções respiratórias.
Visitantes e acompanhantes: Deve ser restrito nos serviços.
Precauções: Contato, Gotículas e aerossóis (quando for necessário em procedimento gerador de aerossol)
EPIS: Luvas, avental, máscara cirúrgica e N-95 ou PFF-2 em procedimentos geradores de aerossóis. O paciente deve ser mantido, preferencialmente em quarto privativo.
Roupas: Devem ser retiradas do paciente de forma contida em sacos sinalizados sem sacudir ou jogar no ambiente.
Limpeza ambiental: A limpeza ambiental é padrão, úmida e o descarte de resíduos deve ser feito sob a forma de resíduo classe 4 (alto risco individual e para a comunidade) — uso de saco vermelho com símbolo de substância infectante. Os sacos devem estar contidos em recipientes de materiais laváveis, resistentes à perfuração, rasgos, vazamentos, com cantos arredondados e sem contato manual.
Amostras laboratoriais: Devem ser transportadas com alto rigor e EPI
Duração das precauções: Até o fim das lesões em forma de crosta.
Preparo do corpo: Usar saco plástico com zíper, vedação para fluidos e EPIS: avental, luvas, máscara N-95 (risco de dispersão de aerossóis), faceshield e touca. Higienizar as mãos de forma rigorosa com água e sabão ou álcool a 70% antes e após a retirada dos EPIS.
Medidas para gestantes com suspeita ou infectadas
Em relação ao curso clínico da doença em gestantes, há descrição de um estudo de 1988, onde uma mulher com idade gestacional de 24 semanas desenvolveu quadro de febre, seguida de erupção cutânea. O bebê nasceu com 30 semanas, com 1.500 g, e erupção cutânea generalizada, semelhante à varíola de macacos. Em estudo mais recente de 2017 com descrição de 4 casos, evidenciou que é comum a infecção aumentar complicações como aborto espontâneo, natimorto, e parto prematuro. Além disso, parece que as gestantes têm maior risco de desenvolver varíola hemorrágica em relação a mulheres não gestantes.
Dentre os estudos, ressalta-se que a quarentena, rastreamento de contatos e vacinação contribuíram para a erradicação global da varíola. No entanto, não houve novos investimentos em vacinas, que não fossem de vírus vivos para a imunização de públicos com comprometimento do sistema imunológico, como as gestantes, já que as vacinas de segunda e terceira geração seriam fabricadas apenas por um risco teórico, até então.
Em 2004, foi recomendado pelo American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) que fosse realizada a vacinação de gestantes, mesmo que com imunobiológicos com vírus vivo inativado, em situações emergenciais. Além disso, a cesariana deveria ser escolhida como via de parto para mulheres com varíola ativa, considerando que não havia conhecimento sobre o assunto e que em situações virais ativas como herpes e HIV essa conduta é adotada.
Todavia, na literatura científica existem poucos estudos relacionados ao Monkeypox e à gestação. Por isso, os cuidados básicos de precaução de contato devem ser seguidos rigidamente, a fim de evitar possíveis complicações e para estudar novas soluções para lidar com a situação.
Autoria:
Priscilla Paiva
Enfermeira Especialista em Controle de Infecção Hospitalar. Professora da Universidade Estácio de Sá e UFF. Enfermeira CIH do IFF/FIOCRUZ e Hospital Rio Mar Rede D’Or (HRM).
Adriana Reis.
Doutora e Mestre em Enfermagem. Especialista em Neonatologia, Pediatria e Gestão Hospitalar. Atua atualmente com temas Controle de Infecção e Segurança do Paciente. Docente da UERJ, IFF e convidada em outras instituições. Atua também em consultoria de Controle de Infecção, Qualidade e Segurança do Paciente.