Mortalidade por sepse em transplantados VS não transplantados: é maior no grupo que imaginamos?

Há carência de estudos que evidenciem se o transplante de órgãos consiste em um fator de risco para maior mortalidade por sepse.

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A sepse, uma complicação importante de infecções bacterianas e fúngicas, apresenta taxa de mortalidade entre 20 a 40% da população acometida por essa síndrome. Apesar de consistir em uma evolução esperada associada à imunossupressão em pacientes transplantados, há carência de estudos que evidenciem se o transplante de órgãos consiste em um fator de risco para maior mortalidade por sepse.

O que se sabe é que a sepse é uma das principais causas de morte em pacientes receptores de transplantes, e se espera um prognóstico pior devido a imunossupressão de base.

Porém, estudos recentes indicara que a pior progressão do quadro séptico poderia ser menor caso a imunossupressão estiver em curso, podendo ser considerado um fator benéfico.

Kalil e colaboradores (2015) avaliaram a hipótese se a mortalidade por sepse em receptores de transplante de órgão sólido seria equivalente àqueles não submetidos ao transplante. Para tal finalidade, os autores realizaram um estudo caso-controle com critérios de ajuste de propensão (case-control propensity-adjusted study).

A sepse foi definida como ≥ 2 critérios para SIRS e uma hemocultura bacteriana ou fúngica positiva, e as variáveis baseadas no escore Sepsis-related Organ Failure Assessment (SOFA). Foram incluídos 123 casos e 246 controles diagnosticados com sepse comprovada por hemocultura.

Veja também: ‘Como diagnosticar e tratar a sepse em 2017’

Os pacientes foram submetidos ao transplante de órgãos como rins (36,6%), fígado (34,1%), rim-pâncreas (13%), intestino delgado/fígado (7,3%), coração/pulmão (5,7%) e múltiplos órgãos (3,3%). A análise por regressão logística condicional demonstrou que diferentes fatores estavam mais associados com os pacientes transplantados:

  • Maior prevalência de comorbidades
  • Maior disfunção / falência de órgão associada a sepse
  • Presença de infecção hospitalar
  • Uso inicial correto do antimicrobiano adequado
  • Menor contagem de leucócitos

Por outro lado, após os ajustes na análise multivarianda de regressão de Cox para a apresentação clínica, gravidade da doença e tipos de infecção, foi observado que os pacientes transplantados apresentaram um MENOR RISCO de morte associada a sepse durante a internação.

Tais resultados indicam que a imunossupressão associada ao transplante de órgãos resulta em uma maior sobrevida para esses pacientes através da modulação da resposta inflamatória à sepse.

Outra hipótese que justifica essas observações é o fato que os pacientes transplantados apresentam maior período de internação resultando em maior contato com equipe multidisciplinar e maior vigilância para intercorrências ou sinais de alarme para infecção. Porém, os ajustes de análise multivariada de macthing minimizaram essas possibilidades de forma a melhor evidenciar os efeitos comparativos.

Os detalhes do estudo podem ser vistos no artigo original.

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Referências:

  • Kalil AC, Syed A, Rupp ME, Chambers H, Vargas L, Maskin A, Miles CD, Langnas A, Florescu DF. Is bacteremic sepsis associated with higher mortality in transplant recipients than in nontransplant patients? A matched case-control propensity-adjusted study. Clin Infect Dis. 2015 Jan 15;60(2):216-22.
  • Bahr NC, Beaudoin A, Drekonja D. Rapid access to comprehensive care may explain better outcomes in persons with sepsis with solid organ transplant versus those without solid organ transplant. Clin Infect Dis. 2015 Jun 15;60(12):1869-1870.
  • Donnelly JP, Locke JE, MacLennan PA, McGwin G Jr, Mannon RB, Safford MM, Baddley JW, Muntner P, Wang HE. Inpatient Mortality Among Solid Organ Transplant Recipients Hospitalized for Sepsis and Severe Sepsis. Clin Infect Dis. 2016 Jul 15; 63(2):186-194.
  • Kalil AC, Syed A, Rupp ME, Chambers H, Vargas L, Maskin A, Miles CD, Langnas A, Florescu DF. Is bacteremic sepsis associated with higher mortality in transplant recipients than in nontransplant patients? A matched case-control propensity-adjusted study. Clin Infect Dis. 2015 Jan 15;60(2):216-22.
  • Qiao B, Wu J, Wan Q, Zhang S, Ye Q. Factors influencing mortality in abdominal solid organ transplant recipients with multidrug-resistant gram-negative bacteremia. BMC Infect Dis. 2017 Feb 27;17(1):171.
  • Shen TC, Wang IK, Wei CC, Lin CL, Tsai CT, Hsia TC, Sung FC, Kao CH. The Risk of Septicemia in End-Stage Renal Disease With and Without Renal Transplantation: A Propensity-Matched Cohort Study. Medicine (Baltimore). 2015 Aug; 94(34):e1437.

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