Morte de um dos pais e desempenho escolar na infância

Um estudo concluiu que a morte de um dos pais na infância está associada a um pior desempenho escolar. Confira no Portal PEBMED.

Um estudo realizado na Suécia e publicado no JAMA Network Open concluiu que a morte de um dos pais na infância está associada a um pior desempenho escolar, e aqueles que experimentam essa perda podem se beneficiar de apoio, com o objetivo de evitar futuros desfechos adversos.

Perder um dos pais na infância é altamente estressante, estando o fato associado a problemas de saúde em longo prazo, com consequências físicas, comportamentais e sociais. Ademais, comportamentos de alto risco na adolescência e baixo nível socioeconômico na idade adulta são mecanismos subjacentes importantes. Algumas crianças enlutadas podem desenvolver luto complicado e estresse pós-traumático, baixa resiliência ao estresse, sintomas depressivos duradouros e uma sensação de falta de sentido para a vida. As crianças enlutadas também perdem o capital humano e social proporcionado pelo pai falecido, um importante recurso para o desenvolvimento infantil. Por fim, o luto do genitor remanescente pode reduzir ainda mais a capacidade parental de apoio e supervisão para a criança.

Para melhor apoiar as crianças com essa tão delicada experiência, é crucial entender se o óbito de um dos pais aumenta o risco de desfechos escolares adversos. Portanto, o objetivo do estudo “School Outcomes Among Children Following Death of a Parent” foi avaliar se a morte paternal está associada ao baixo desempenho escolar e piores desfechos, independentemente de fatores exclusivos da família, e se crianças de certas idades são particularmente vulneráveis ao óbito dos pais. A questão é: está a morte de um dos pais associada ao aumento do risco de desfechos adversos escolares após a contabilização de fatores de confusão familiares compartilhados entre irmãos?

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desempenho escolar

Metodologia

Os pesquisadores Liu e colaboradores conduziram um estudo de coorte de irmãos de base populacional, usando dados longitudinais baseados em registros nacionais suecos com ligação entre os membros da família. Os dados do registro foram coletados no período entre 1º de janeiro de 1990 e 31 de dezembro de 2016. As análises de dados foram realizadas em 14 de julho de 2021.

Todas as crianças nascidas na Suécia entre 1991 e 2000 foram identificadas por meio do “Registro Médico Sueco de Nascimento” (N = 1.008.973) e vinculadas aos dados de seus pais, por meio do identificador pessoal único e do “Registro Multigeração”. Os participantes foram todas as crianças nascidas entre 1991 e 2000 que moravam na Suécia antes de completar 17 anos (N = 908.064), sendo expostas ao óbito de um dos pais antes de finalizar a escolaridade obrigatória. Foram excluídas crianças adotadas, com dados faltantes de ambos os pais biológicos, que morreram ou tiveram um registro de emigração ou imigração antes de completar 17 anos, ou cujo pai/mãe teve um registro de emigração ou imigração antes que a criança completasse 17 anos. Também foram excluídas crianças que perderam ambos os pais durante o período de observação de 1990 a 2016 (n = 772).

O principal desfecho investigado foi a média das notas escolares (escores z específicos do ano) e a inelegibilidade para o ensino médio ao terminar a o período obrigatório escolar na idade de 15 a 16 anos.

Resultados

Foram incluídas, nas análises convencionais de base populacional, um total de 22.634 crianças enlutadas, sendo 11.553 meninos (51,0%), com idade média de 21 anos. As crianças enlutadas apresentaram menor média escolar no escore z (coeficiente β ajustado, -0,19; intervalo de confiança de 95% [IC 95%], -0,21 a -0,18; P <0,001) e um risco maior de inelegibilidade para o ensino médio do que as crianças não enlutadas (razão de risco ajustada [adjusted risk ratio – aRR], 1,36; IC 95%, 1,32 -1,41; P < 0,001).

Comparações entre irmãos usando modelos de efeitos fixos mostraram que a morte de um dos pais antes de terminar a escola obrigatória estava associada a pontuações z médias mais baixas da série escolar (-0,06; IC 95%, -0,10 a -0,01; P = 0,02), mas não com inelegibilidade para o ensino médio (RaR, 1,07; IC 95%, 0,93-1,23; P = 0,34). Independente da ordem de nascimento, perder um dos pais em uma idade mais jovem foi associado ao baixo desempenho escolar e notas mais baixas dentro de uma família.

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Conclusões

Esse relevante estudo mostra que, nesta análise de coorte de quase um milhão de crianças na coorte nacional sueca de nascimentos de 1991 a 2000, as crianças expostas à morte de um dos pais antes de terminar a escola obrigatória tiveram notas escolares mais baixas (com significância estatística), mas nenhuma diferença na inelegibilidade para o ensino secundário superior, em comparação com seus irmãos expostos à morte dos pais após o término da escolaridade obrigatória. Os achados deste estudo, portanto, indicam que a morte dos pais antes de terminar a escolaridade obrigatória esteve associada a notas mais baixas e baixo desempenho escolar, independentemente do confundimento familiar compartilhado entre irmãos.

Devemos ressaltar que crianças que perderam um dos pais (ou ambos) podem se beneficiar de apoio educacional adicional na escola. Dessa forma, mais pesquisas são necessárias para entender melhor os fatores mediadores dessa associação para apoiar adequadamente as crianças em risco para desafios escolares. Isso pode reduzir o risco de trajetórias socioeconômicas adultas adversas em crianças que perderam um dos pais antes de completar a escolaridade obrigatória.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Liu C, Grotta A, Hiyoshi A, Berg L, Rostila M. School Outcomes Among Children Following Death of a Parent. JAMA Netw Open. 2022;5(4):e223842. Published 2022 Apr 1. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2022.3842

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