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O sufocamento não intencional é a principal causa de morte por lesão em crianças menores de 1 ano nos Estados Unidos, sendo 82% atribuíveis a sufocamento acidental e estrangulamento no leito. De acordo com os registros de óbitos americanos, as taxas de mortes súbitas infantis nestas condições por 100.000 nascidos vivos aumentaram quase quatro vezes, de 6 mortes em 1999 para 23 mortes em 2015.
Este aumento é, pelo menos em parte, atribuído a mudanças no diagnóstico e a melhora nas investigações de morte súbita em lactentes. No entanto, estas mortes muitas vezes são evitáveis. A identificação dos fatores que contribuem para mortes por sufocamento durante o sono pode ajudar na elaboração de estratégias para que estes óbitos possam ser evitados.
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Lambert et al. analisaram os registros de morte súbita de lactentes do Sudden Unexpected Infant Death Case Registry (SUID) dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) entre os anos de 2011 a 2014. Os bebês incluídos no estudo tinham menos de 1 ano de idade. Os autores limitaram o estudo aos casos de óbitos classificados como sufocamento.
Os dados foram derivados dos Estados americanos participantes do SUID no momento do estudo, incluindo Arizona, Colorado, Geórgia, Louisiana, Michigan, Minnesota, New Hampshire, New Jersey, New Mexico e Wisconsin. O resultados desta pesquisa foram recentemente relatados no artigo Sleep-Related Infant Suffocation Deaths Attributable to Soft Bedding, Overlay, and Wedging, publicado na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics.
Os casos foram classificados como sufocamento quando todos os critérios a seguir foram atendidos:
- A causa relatada no atestado de óbito era uma das seguintes: desconhecida; indeterminada; morte infantil; morte súbita infantil; asfixia não intencional relacionada ao sono, sufocamento ou estrangulamento; sufocamento não especificado; parada cardíaca ou respiratória sem outras causas bem definidas; ou causas mal definidas com fatores potenciais para insegurança do sono. Homicídios intencionais foram excluídos;
- Havia umas investigação completa e documentada das circunstâncias do óbito (onde e como o bebê foi encontrado) e uma necropsia incluindo (no mínimo) toxicologia, exames de imagem e patologia;
- A criança foi encontrada sem nenhuma resposta em um ambiente de sono inseguro com uma testemunha confiável e não conflitante, descrevendo uma obstrução do nariz, da boca ou das vias aéreas devido a compressão do pescoço e/ou do tórax;
- Não havia quaisquer outras condições potencialmente fatais associadas, como sepse ou doenças congênitas.
Sufocamento por superfície macia foi atribuído quando a via aérea do lactente foi obstruída por colchão, cobertor, travesseiro, sofá ou almofada de adulto, ou outro objeto macio no ambiente de sono. Sufocamento por aprisionamento foi atribuído quando a via aérea do lactente foi obstruída como resultado do bebê estar comprimido entre objetos inanimados (por exemplo, entre o colchão e a parede). Sufocamento por sobreposição foi atribuído quando a via aérea da criança foi obstruída por sufocamento provocado pelo corpo de um adulto (exemplo, quando a mãe adormecia durante a amamentação).
Dos 1812 casos registrados de 2011 a 2014, 250 (14%) foram classificados como sufocamento. Estes casos foram mais frequentemente atribuídos a camas macias (69%), seguidos por sobreposição (19%) e aprisionamento (12%). A idade mediana na morte em meses variou de acordo com o mecanismo: 3 para cama macia, 2 para sobreposição e 6 para aprisionamento. As mortes por colchões moles ocorreram com maior frequência em uma cama de adulto (49%), em decúbito ventral (82%), e com um cobertor (ou cobertores) obstruindo a via aérea (34%).
As mortes por sobreposição ocorreram mais frequentemente em camas de adulto (71%), e as crianças foram sobrepostas pela mãe em 47% dos casos. Casos de morte ocorreram com maior frequência quando o bebê ficou preso entre um colchão e uma parede (48%).
Desde 1999, tem havido um dramático aumento no número de óbitos por sufocamento em lactentes nos Estados Unidos. Esse aumento pode não ser totalmente explicado pelo aumento da incidência mas pode, pelo menos em parte, ser atribuído a melhorias no diagnóstico e nas investigações sobre as causas dos óbitos. De qualquer forma, independentemente, as lesões por sufocamento não intencionais podem ser evitadas através de melhores práticas de segurança infantil.
A posição mais segura para um bebê dormir é a posição supina, em uma superfície firme não compartilhada, como um berço no quarto dos cuidadores sem objetos macios ao redor (sem cobertores, travesseiros e ursinhos de pelúcia, por exemplo). Ambientes seguros para o sono do bebê podem reduzir as mortes súbitas infantis por sufocamento. O conhecimento sobre as características destes óbitos pode ajudar a incrementar as estratégias de prevenção, visando grupos de maior risco.
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Autor:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências:
- LAMBERT, A. B. E. et al. Sleep-Related Infant Suffocation Deaths Attributable to Soft Bedding, Overlay, and Wedging. Pediatrics, v. 43, n. 5, p.e20183408, 2019.