Noradrenalina: você sabe qual dose está administrando?

A dose de noradrenalina, descrita em mcg/kg/min, é um marcador independente de desfechos brutos entre doentes críticos.

A noradrenalina, também conhecida pelo sinônimo norepinefrina, é o agente vasopressor catecolaminérgico de escolha para o manejo da maioria dos cenários de choque, incluindo o séptico, sendo a principal droga vasoativa empregada nos centros de terapia intensiva (CTIs).  

Veja também: Sintomas autorrelatados por pacientes internados em terapia intensiva

A dose de noradrenalina, descrita em mcg/kg/min, é um marcador independente de desfechos brutos entre doentes críticos, sendo um parâmetro para tomadas de decisão, como buscamos exemplificar abaixo:  

Condição clínica  Dose de noradrenalina base (mcg/kg/min) 
Choque refratário  > 0,8 a 1  
Gatilho para introdução de 2° agente vasopressor (vasopressina) e hidrocortisona na sepse  > 0,25 a 0,5 por pelo menos 4 horas (sugestão do Surviving Sepsis Campaign) 
Marcador de pior prognóstico na sepse  > 0,1 (+1 ponto no escore SOFA) 
Avaliação para a liberação da ECMO venoarterial  < 0,06 

Dessa forma, entendemos que, por mais que a dose de noradrenalina seja orientada por metas, como alvos de pressão arterial média acima de 65 mmHg, a dose demandada para alcançá-las traz reflexos prognósticos.  

Ao contrário do que muitos profissionais de saúde trazem como conceito estabelecido, há muita heterogeneidade no que se refere às formulações da noradrenalina, e isso pode ser entendido a partir de um fato relativamente simples: a noradrenalina em seu estado puro não é hidrossolúvel, e seu emprego clínico demanda capacidade de se disseminar pelos fluidos corporais. Essa inconsistência foi resolvida pela farmacologia a partir da diluição em meios ácidos e formação de sais, entre os quais os principais trazemos na sequência.   

Sais conjugado  de noradrenalina  Formulação da dose do sal  Equivalência da molécula de base 
Cloridrato  1,22 mg  1 mg 
Bitartarato  1,89 mg  1 mg 
Tartarato  2 mg  1 mg 

Logo, é fundamental que os emergencistas e intensivistas conheçam as formulações que estão disponíveis em suas instituições, a fim de manter a precisão nos escores prognósticos e de tomar decisões com base na dose correta de noradrenalina base infundida. Além da esfera assistencial, é importante que exista uma padronização das apresentações, valendo-se da equivalência da molécula de base, para evitar a heterogeneidade de dados em estudos, que podem desencadear conclusões precipitadas.   

Deixamos aqui um exemplo prático de como calcular a dose de noradrenalina do seu paciente crítico:   

  • Idade: 60 anos.  
  • Peso: 70 kg.  
  • Indicação: choque séptico.  
  • Sal de noradrenalina disponível: hemitartarato de noradrenalina. 
  • Apresentação: ampola de 4 mL (2 mg/mL de hemitartarato de noradrenalina ou 1 mg/mL de noradrenalina base). 
  • Diluição utilizada: 5 ampolas (20 mL) em 230 mL de soro glicosado a 5% (solução total: 250 mL).  
  • Concentração da solução: 40 mg/250 mL (hemitartarato de noradrenalina) ou 20 mg/250 mL (noradrenalina base).  
  • Vazão assinalada na bomba de infusão contínua: 20 mL/h. 

Com os dados apresentados temos que a dose de noradrenalina base é de 0,38 mcg/kg/min e de hemitartarato de noradrenalina é de 0,76 mcg/kg/min.  

Qual dos registros é o clinicamente relevante para as tomadas de decisão e análises prognósticas? É a dose de noradrenalina base: 0,38 mcg/kg/min!     

Para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema, basta conferir o posicionamento da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva que abaixo referenciamos.   

Saiba mais: Lesão pulmonar induzida pelo ventilador (VILI)

noradrenalina

Conclusão e mensagens práticas  

  • As doses de noradrenalina devem sempre ser convertidas a mcg/kg/min.  
  • As variadas formulações de noradrenalina devem sempre ser convertidas à dose de noradrenalina base; 
  • A partir do cálculo adequado da dose de noradrenalina base infundida, são extraídos dados prognósticos e importantes decisões clínicas são tomadas. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Wieruszewski, Patrick M. PharmD, BCCCP1,2; Leone, Marc MD, PhD3; Kaas-Hansen, Benjamin Skov MD, MSc, PhD4; Dugar, Siddharth MD, FCCP, FCCM, FASE5,6; Legrand, Matthieu MD, PhD7; McKenzie, Cathrine A. BPharm, PhD8; Bissell Turpin, Brittany D. BCCCP, PharmD, PhD, FCCM9,10; Messina, Antonio MD, PhD11,12; Nasa, Prashant MD, EDIC13; Schorr, Christa A. DNP, MSN, RN, FCCM14,15; De Waele, Jan J. MD, PhD16,17; Khanna, Ashish K. MD, MS, FCCP, FASA, FCCM18,19. Position Paper on the Reporting of Norepinephrine Formulations in Critical Care from the Society of Critical Care Medicine and European Society of Intensive Care Medicine Joint Task Force. Critical Care Medicine ():10.1097/CCM.0000000000006176, January 19, 2024. | DOI: 10.1097/CCM.0000000000006176.