O Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) publicou recentemente a atualização em seu guideline de abortamento recorrente (Recurrent Miscarriage). A publicação foi realizada na revista BJOG, atualizando o guideline publicado em 2011.
O objetivo desta diretriz é fornecer orientações sobre a investigação e atendimento de mulheres e pessoas com abortamento recorrente.
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Definições
O aborto espontâneo é definido como a perda espontânea da gravidez antes que o feto atinja a viabilidade. O termo, portanto, inclui todas as perdas gestacionais desde o momento da concepção até 24 semanas de gestação.
Existem dois tipos de aborto espontâneo: esporádico e recorrente. O aborto recorrente tem sido tradicionalmente definido como três ou mais abortos espontâneos.
Principais recomendações de conduta
Nesta diretriz, o aborto recorrente foi definido como três ou mais abortos espontâneos no primeiro trimestre, de acordo com as diretrizes anteriores do RCOG. No entanto, os médicos são encorajados a usar seu critério clínico para recomendar uma avaliação extensa após dois abortos espontâneos no primeiro trimestre, se houver suspeita de que os abortos espontâneos são de natureza patológica e não esporádica.
As principais recomendações e investigações para aborto recorrente no primeiro trimestre e uma ou mais perda gestação no segundo trimestre são:
- Trombofilias
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- Adquiridas:
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- Mulheres com aborto recorrente devem fazer testes para trombofilia adquirida, particularmente para anticoagulante lúpico e anticorpos anticardiolipina, antes da gravidez
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- Hereditárias:
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- Mulheres com aborto espontâneo no segundo trimestre podem receber testagem para mutação do Fator V de Leiden, mutação do gene da protrombina e deficiência de proteína S. Entretanto, deve-se orientá-las que atualmente há evidências limitadas de que o tratamento altera os resultados reprodutivos.
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- Alterações genéticas:
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- A análise citogenética do produto conceptual deve ser oferecida a partir do terceiro aborto do primeiro trimestre e em qualquer aborto espontâneo do segundo trimestre.
- No aborto recorrente, o cariótipo do sangue periférico dos pais deve ser realizado para casais nos quais o teste do tecido da gravidez relata uma anormalidade cromossômica estrutural desequilibrada.
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- Quando a análise citogenética é indicada, mas o teste do tecido da gravidez não é bem-sucedido ou não há tecido da gravidez disponível para teste, o cariótipo parental deve ser oferecido.
- Anomalias uterinas estruturais:
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- Mulheres com aborto recorrente devem ser avaliadas para anomalias uterinas congênitas, idealmente com ultrassom 3D.
- Endocrinopatias:
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- Mulheres com abortos recorrentes devem fazer testes de função tireoidiana e avaliação para anticorpos da tireoide peroxidase (TPO).
- Alterações imunológicas:
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- Mulheres com abortos recorrentes não devem receber triagem imunológica de rotina (como testes de HLA, citocinas e células NK), fora de um contexto de pesquisa
- Infecções:
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- Mulheres com abortos recorrentes não devem receber triagem de infecção rotineiramente fora do contexto da pesquisa.
- Fatores masculinos:
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- Casais com abortos recorrentes não devem receber testes de DNA de esperma rotineiramente fora do contexto da pesquisa.
As principais recomendações para abordagem terapêutica no aborto recorrente no primeiro trimestre e uma ou mais perda gestação no segundo trimestre são:
- Mudanças de estilo de vida:
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- As mulheres com aborto recorrente devem ser aconselhadas a manter um IMC entre 19 kg/m2 e 25 kg/m2, parar de fumar, limitar o consumo de álcool e limitar a cafeína a menos de 200 mg/dia.
- Tromboflias:
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- Aspirina e heparina devem ser oferecidos a mulheres com SAAF.
- A decisão de tratar mulheres com aborto recorrente ou perda no segundo trimestre e trombofilias hereditárias pode ser individualizada e deve envolver uma discussão com a mulher, levando em consideração fatores de risco adicionais, como risco materno de trombose ou evidência de trombose placentária prévia.
- Aspirina e/ou heparina não devem ser administrados a mulheres com aborto recorrente inexplicável.
- Endocrinopatias:
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- A suplementação de tiroxina não é recomendada rotineiramente para mulheres eutireoidianas com anti-TPO positivo e histórico de aborto espontâneo.
- A suplementação de tiroxina pode ser considerada para mulheres com TSH superior a 4 mIU/l, mas não é recomendada rotineiramente para mulheres com TSH superior a 2,5 mIU/l, independentemente do status de TPO.
- A suplementação de progestagênio deve ser considerada em mulheres com abortos recorrentes que apresentam sangramento no início da gravidez.
- A suplementação de progesterona de rotina deve ser usada com cautela em mulheres assintomáticas com abortamento recorrente inexplicado