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As políticas de isolamento social (IS) para mitigar a pandemia de Covid-19 em Massachusetts, nos Estados Unidos, resultaram em uma redução profunda no diagnóstico de doenças infecciosas comuns entre crianças, segundo o estudo Social Distancing for Covid-19 and Diagnoses of Other Infectious Diseases in Children publicado no jornal Pediatrics.
Hatoun e colaboradores procuraram determinar o efeito do IS sobre 12 doenças infecciosas comumente diagnosticadas na atenção primária pediátrica, que são contagiosas em vários graus: otite média aguda (OMA), bronquiolite, resfriado comum, crupe, gastroenterite, gripe, faringite não estreptocócica, faringite estreptocócica, pneumonia, sinusite, infecções cutâneas e de partes moles e infecção do trato urinário (ITU).
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Método
Utilizando dados de prontuários eletrônicos de uma grande rede de cuidados primários pediátricos de Massachusetts, onde são atendidos aproximadamente 375.000 pacientes pediátricos, os pesquisadores analisaram a incidência semanal de cada diagnóstico por meio de encontros presenciais durante a semana e por meio de telemedicina (exceto feriados) para crianças e adolescentes com idades entre 0 e 17 anos para o mesmo período em 2019 e 2020, com início em 1º de janeiro (correspondentes a períodos antes e depois da promulgação de IS e também de fechamento de escolas e serviços não essenciais). As taxas de diagnóstico observadas por 100.000 pacientes foram consideravelmente menores depois da implementação do distanciamento social: a prevalência de cada condição foi significativamente inferior no período pós-IS de 2020 do que seria esperado para todas as condições analisadas (p < 0,001 para todos os diagnósticos).
Possíveis causas
Para Hatoun e equipe, essa diminuição pode ser devido a um declínio na prevalência das doenças ou a uma escolha de não procurar atendimento quando as doenças ocorreram ou a ambos. Uma redução menos expressiva nos diagnósticos de ITU, uma doença infecciosa, mas geralmente não contagiosa, sugere que as mudanças no comportamento de busca de cuidados tiveram um efeito relativamente modesto nas outras quedas observadas. Os pesquisadores enfatizaram que, embora não seja surpreendente que a transmissão de doenças infecciosas diminua com o IS, esses dados demonstram até que ponto a transmissão de infecções pediátricas comuns pode ser alterada quando o contato próximo com outras crianças é eliminado. Gripe, crupe e bronquiolite notavelmente desapareceram essencialmente com o isolamento social.
Em relação à gripe, os diagnósticos em 2020 excederam os de 2019, conforme esperado a partir dos dados de vigilância nacional, mas a sua propagação parece ter terminado abruptamente com o isolamento social. Os pesquisadores comentaram que esse dado difere um pouco de um relatório recente do Japão, que evidenciou um declínio significativo, mas não tão dramático, nos casos de gripe coincidentes com o isolamento social. Os resultados diferentes podem estar relacionados ao momento do isolamento social dentro da temporada de gripe, diferentes abordagens para o isolamento social no 2 locais, ou o fato de que o estudo japonês incluiu pacientes de todas as idades, enquanto o estudo americano teve apenas a pediatria como alvo.
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Conclusão
Diante desses resultados, os pesquisadores concluíram que os riscos de doenças infecciosas pelo contato entre as pessoas sempre foram implicitamente pesados contra os benefícios da interação social. O experimento natural atual de isolamento social que ocorreu de forma abrupta e generalizada durante a pandemia de Covid-19 permitiu uma avaliação mais explícita da magnitude desses riscos em crianças e pode informar estratégias para mitigação do risco de doenças infecciosas à medida que a interação social aumenta no futuro.
Autor(a):
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências bibliográficas:
- Hatoun J, Correa ET, Donahue SMA, Vernacchio L. Social Distancing for Covid-19 and Diagnoses of Other Infectious Diseases in Children. Pediatrics. 2020 Sep 2:e2020006460. doi: 10.1542/peds.2020-006460. Epub ahead of print. PMID: 32879032.