O novo método Eat, Sleep, Console na síndrome de abstinência neonatal a opioide

A síndrome de abstinência neonatal a opióide é frequente, sendo diagnosticada em pelo menos um neonato a cada 18 minutos nos Estados Unidos. 

A síndrome de abstinência neonatal envolve distúrbios gastrointestinais, irritabilidade, hipertonia e crises convulsivas. Para avaliar a gravidade dessa síndrome e estratificar seu tratamento, o escore de abstinência neonatal Finnegan ou sua versão modificada são os mais usados nos últimos 50 anos, mas parecem superestimar a necessidade de tratamento farmacológico.  

Em 2014, Grossman e colaboradores propuseram um novo método “Eat, Sleep, Console” (Comer, Dormir e Consolar) que avalia a gravidade da abstinência conforme a capacidade do neonato comer, dormir e ser consolado junto  com intervenções não farmacológicas como 1ª linha de tratamento (ex. ambiente de baixa estimulação, contato pele-a-pele, cuidados agrupados e amamentação), e a capacitação de famílias e cuidadores no cuidado de seus bebês. Houve rápida implementação e difusão de seu uso mundialmente, mas sem forte evidência sobre sua eficácia, segurança e generalização em diversas populações. Em abril de 2023, Young e colaboradores publicaram na New England Journal of Medicine um estudo multicêntrico envolvendo 26 hospitais norteamericanos, escalonado, randomizado por cluster e controlado que comparou o novo método com os cuidados habituais (incluindo o uso do escore Finnegan) para avaliar sua eficácia, segurança e generalização em diversas populações. Neste artigo, destacaremos como foi feito o estudo e suas principais contribuições. 

Saiba mais: Síndrome de abstinência neonatal e iatrogênica em neonatologia – diferenças e semelhanças

O novo método Eat, Sleep, Console na síndrome de abstinência neonatal a opioide

O novo método Eat, Sleep, Console na síndrome de abstinência neonatal a opioide

Metodologia 

O estudo incluiu hospitais universitários e hospitais comunitários em diferentes áreas geográficas nos Estados Unidos para permitir maior generalização dos dados. Incluiu neonatos a partir de 36 semanas de idade gestacional (IG) com exposição intrauterina a opioides ou tratados para abstinência a opioide, nascidos no hospital do estudo ou transferido para o hospital com até 60 horas do nascimento. O estudo seguiu as normas do Comitê de Ética e Pesquisa.  

O estudo teve três fases: a primeira avaliou o tratamento usual já ofertado nos hospitais incluindo o uso do escore Finnegan; a segunda fase foi o período de transição com treinamento do método “Eat, Sleep, Console” por três meses, na qual não houve recrutamento de pacientes; a terceira fase foi a de intervenção com o uso do método “Eat, Sleep, Console”. 

O desfecho primário analisado foi o tempo de prontidão para a alta hospitalar desde o nascimento conforme padrões publicados em 2012 pela Academia Americana de Pediatria: idade de pelo menos 96 horas com: pelo menos 48 horas sem receber opióide, pelo menos 24 horas sem suporte respiratório e com 100% de alimentação oral, 

e pelo menos 24 horas a partir do início da taxa calórica máxima. Os desfechos secundários incluíram o recebimento de tratamento farmacológico e tempo de internação hospitalar.  

Os resultados de segurança compostos/eventos adversos que foram avaliados durante os primeiros três meses de idade incluíram internação hospitalar social para segurança da criança, consultas médicas não programadas, trauma ou morte não acidental. 

Resultados 

Foram incluídos 1.305 neonatos. As características dos grupos eram semelhantes exceto pela maior proporção de mães hispânicas e a maior proporção de residentes em áreas metropolitanas no grupo de tratamento usual. Essa diferença foi levada em conta nos modelos ajustados.  Dos 1.305 neonatos, 837 neonatos atenderam à definição do estudo para prontidão para alta hospitalar, o número de dias desde o nascimento até a prontidão para alta hospitalar foi de 8,2 dias no grupo “Eat, Sleep, Console” e 14,9 dias o grupo de cuidados habituais (diferença média ajustada de 6,7 dias; Intervalo de confiança de 95% [IC] de 4,7 a 8,8 dias), para uma razão de taxas de 0,55 (IC de 95% 0,46 a 0,65; P<0,001). A proporção de bebês que receberam tratamento com opióides foi de 52% no grupo de cuidados habituais e 19,5% no grupo “Eat, Sleep, Console” (diferença absoluta de 32,5 %; risco relativo de, 0,38; IC de 95% 0,30 para 0,47) A incidência de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos. 

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Discussão e conclusão 

 O uso do novo método “Eat, Sleep e Console” diminuiu significativamente o número de dias de prontidão para alta hospitalar de neonatos com síndrome de abstinência neonatal assim como o tratamento com opióides, sem aumento especificado significativo de eventos adversos, em comparação com os cuidados habituais. É importante considerar que o treinamento da equipe de saúde, o reforço das intervenções não farmacológicas e o envolvimento dos familiares com maior proatividade destes parecem tornar o método “Eat, Sleep e Console” mais eficaz.   

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Young, LW, Ounpraseuth ST, Merhar SL, Hu Z, Simon AE, Bremer AA, Lee JY, Das A, Crawford MM, Greenberg RG, Smith B, Poindexter BB et al., for the ACT NOW Collaborative*. Eat, Sleep, Console Approach or Usual Care for Neonatal Opioid Withdrawal. April 30, 2023: The New England Journal of Medicine. DOI: 10.1056/NEJMoa2214470

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