Observações iniciais em crianças americanas com Covid-19

Segundo estudo publicado no jornal Hospital Pediatrics, a maioria das crianças positivas para Covid-19 não tinha doença respiratória.

Segundo um estudo publicado no jornal Hospital Pediatrics, a maioria das crianças com teste positivo para o vírus SARS-CoV-2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) não tinha doença respiratória.

Até o momento, as crianças representam menos de 5% dos casos de Covid-19 nos Estados Unidos. Embora alguns dados epidemiológicos gerais sobre a doença em crianças tenham sido publicados, os relatos sobre a apresentação clínica real são limitados. Dessa forma, pesquisadores do Maimonides Children’s Hospital, em Nova Iorque, realizaram um estudo com 22 pacientes pediátricos que se apresentaram à essa instituição durante os estágios iniciais da pandemia de Covid-19 para fornecer uma melhor compreensão da apresentação da doença e dos resultados nessa faixa etária.

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Metodologia

Os pesquisadores realizaram uma revisão retrospectiva de dados de pacientes pediátricos com idades entre 0 a 18 anos, internados no período de 18 de março a 15 de abril de 2020. Esses pacientes apresentaram teste positivo por PCR (reação em cadeia da polimerase) para SARS-CoV-2 em uma amostra nasofaríngea. Os pacientes foram identificados usando o registro diário do hospital que listava todos os resultados dos testes institucionais para SARS-CoV-2.

Segundo os pesquisadores, a estratégia inicial para a realização dos testes estava de acordo com as diretrizes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), recomendando testes somente se houvesse sintomas de febre, tosse e dispneia, história de viagens para países de alto risco ou contato próximo com um caso confirmado. Com o aumento da incidência de infecção, na segunda metade do estudo, o teste de PCR foi implementado para todos os pacientes internados, independentemente da sintomatologia (isso ocorreu de 27 de março em diante).

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Resultados

  • Vinte e dois pacientes com teste positivo foram incluídos no estudo. Destes, 55% eram do sexo masculino.
  • A idade dos pacientes variou de 11 dias a 18 anos. As crianças com menos de um ano de idade representaram 45% das internações.
  • Nenhum paciente teve histórico de viagens e 6/22 (27%) confirmaram a exposição à SARS-CoV-2.
  • Seis pacientes apresentavam comorbidades subjacentes:
    • Malignidade — 3. Um apresentava odinofagia leve e febre. O segundo era assintomático e foi internado para quimioterapia de rotina. O terceiro paciente era adolescente e apresentou pneumonite bilateral e hipóxia, necessitando de oxigenoterapia por 3 dias.
    • Doença pulmonar crônica — 2. Um era adolescente portador de bronquiectasia e o outro era um bebê de 1 ano com doença pulmonar crônica devido à prematuridade.
    • Doença cardíaca — 1.
  • A maioria dos pacientes 18/22 (82%) foi internada no hospital 3 dias após o início dos sintomas.
  • A apresentação clínica mais comum foi febre sem foco em bebês saudáveis 5/22 (23%), faixa etária 11-35 dias. Todos esses cinco bebês foram avaliados como sepse, incluindo análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), receberam antibióticos empíricos e tiveram alta para casa assim que as culturas bacterianas foram negativas em 48-72 horas.
  • Apenas 9 (41%) pacientes apresentaram doença respiratória. Outros sintomas apresentados foram fadiga (6), convulsões (2) e cefaleia (1).
  • Sete (32%) pacientes necessitaram de suporte ventilatório. Quatro evoluíram para ventilação mecânica (VM).
    • Dois tinham doença pulmonar de base. Ambos evoluíram, dentro de um período de 6-72 horas, do uso de cateter nasal de alto fluxo para admissão na unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP) e intubação.
    • Dos outros dois pacientes que necessitaram de intubação, um era portador de paralisia cerebral e estado de mal epiléptico e a segunda criança era previamente saudável, mas apresentou parada cardíaca.
  • A maioria dos pacientes com doenças respiratórias foi tratada com terapia de suporte e antibióticos. No entanto, três pacientes internados na UTIP e em VM qualificaram-se para o uso de remdesivir, disponível apenas para pacientes com infecção documentada e deterioração respiratória que necessitaram de VM, sem doença hepática ou renal concomitante. Todos esses pacientes tratados com remdesivir foram extubados.
  • Dois pacientes apresentaram alterações neurológicas:
    • Um menino de 11 anos de idade, que apresentou febre, cefaleia, confusão mental e convulsão, mas melhorou sem sequelas em curto prazo.
    • Uma menina de 12 anos com paralisia cerebral, que desenvolveu novas crises epilépticas e necessitou de VM, retornando aos seus níveis basais.
  • Alterações laboratoriais:
    • Linfopenia foi observada em 32% dos casos.
    • Procalcitonina ou proteína C reativa elevadas estavam presentes na maioria dos pacientes nos quais os testes foram realizados [6/7 (86%) e (8/10) 80%, respectivamente].
  • Alterações radiológicas:
    • Opacidades bilaterais em radiografia de tórax foram observadas em 5/11 pacientes.
  • Coinfecção viral foi detectada em 2/7 testados para outros vírus (ambos os dois positivos para entero/rinovírus).
  • Durante a segunda metade do período do estudo, uma PCR positiva foi observada em 7 pacientes (32%) que foram hospitalizados por sintomas não relacionados a Covid-19.
    • Quatro pacientes tinham documentação de infecção bacteriana. Um teve diagnóstico de apendicite. Os outros dois apresentavam doenças de etiologia obscura. Um apresentou miosite em antebraço sem formação de abscesso, mas com febre e marcadores inflamatórios elevados, apresentando melhora com antibioticoterapia.
    • Um menino de 6 meses previamente hígido evoluiu com parada cardíaca em casa. O ecocardiograma evidenciou função ventricular gravemente deprimida.
    • Dois pacientes estavam completamente assintomáticos no momento da admissão, mas foram positivos pela PCR, um foi internado por motivos sociais e o outro para quimioterapia de rotina conforme mencionado acima.
  • Não houve nenhum óbito durante o período do estudo.

Mensagem final

Nesse estudo, os pesquisadores descreveram que a maioria dos pacientes crianças hospitalizados não apresentava os sintomas clássicos atribuídos à Covid-19 e a maioria não tinha exposição domiciliar à infecção. Esses dados se mostram diferentes do que tem sido visto em pacientes adultos e pela experiência pediátrica relatada na China. Apesar de ter sido um estudo retrospectivo, com amostra pequena e em um único centro, os resultados reforçam que as diretrizes para testar pacientes pediátricos precisam ser ampliadas, além de que se deve levar em consideração que crianças com outras doenças também podem ser positivos para Covid-19. A importância desse rastreio não é limitada à identificação precoce à admissão, mas também ajudará a prevenir a exposição inadvertida de outros pacientes e profissionais de saúde, auxiliar na coorte de pacientes infectados e ajudar na conservação de equipamentos de proteção.

Referências bibliográficas:

  • Agha R, Kojaoghlanian T, Avner JR. Initial Observations of Covid-19 in US Children [published online ahead of print, 2020 Jul 7]. Hosp Pediatr. 2020;hpeds.2020-000257.

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