Pesquisa abre caminho para o início da produção de leite humano em pó com qualidade nutricional preservada

Uma pesquisa da Universidade Federal de Viçosa pode ampliar a eficiência e a capacidade de produção dos bancos de leite humano do país.

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa (UFV) pode ampliar ainda mais a eficiência e a capacidade de produção dos bancos de leite humano do país.   

O pesquisador Otávio Augusto Silva Ribeiro, durante seu curso de doutorado, constatou que o leite humano ordenhado não conforme (aquele que é descartado pelos bancos de leite pela presença de sujidades/poeiras físicas) pode ser consumido pelos recém-nascidos, após ser processado da maneira correta e ainda ser transformado em pó, sem perder sua qualidade nutricional. 

Otávio Ribeiro, que também é engenheiro de alimentos e professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), explicou que 40% do leite humano ordenhado é descartado por causa de algum tipo de poeira, que pode ser proveniente de pelos da própria mãe ou descamação da pele do seio.

Saiba mais: Doação de leite materno no contexto de pandemia de Covid-19

Na pesquisa, o pesquisador realizou processos de filtração, pasteurização e homogeneização e verificou a qualidade do leite humano ordenhado não conforme por sujeiras físicas. O aspecto nutricional e a segurança, no que diz respeito à ausência de microrganismos contaminantes após pasteurização, também foram analisados. 

O agora doutor Otávio Ribeiro também realizou a quantificação de ácidos graxos livres durante os seis meses de armazenamento visando investigar quantidade de leite perdida na concentração desses ácidos, que têm um papel essencial no desenvolvimento da criança: da formação dos sistemas cognitivo e visual e proteção do organismo até a absorção de cálcio, com auxílio na formação do sistema ósseo. 

As análises concluíram que após o processamento do leite humano ordenhado não conforme por sujeiras físicas manteve as suas características nutricionais, além da sua segurança microbiológica depois da pasteurização. 

E essa descoberta possibilitou uma nova etapa do trabalho: a do beneficiamento para a obtenção de leite humano em pó. Embora já existam estudos nesta direção, o pesquisador explicou que nenhum abrange todas as tecnologias que utilizou até chegar à secagem, dentre elas a homogeneização. 

Durante a pesquisa, foi desenvolvida uma técnica de processamento que adaptou tecnologias já existentes para a utilização no leite humano, como a homogeneização por ultrassom, o spray dryer e a liofilização, para que não houvesse perdas expressivas nos componentes nutricionais. 

E essa técnica desenvolvida resultou em um leite humano homogeneizado em pó que conseguiu manter, praticamente, todas as características nutricionais do leite humano ordenhado.

leite humano

Perspectivas

Para entender a abrangência dos resultados e das perspectivas que se abrem com essa pesquisa, é fundamental ressaltar que os bancos de leite humano são responsáveis pela promoção do aleitamento materno e execução das atividades de coleta, processamento e controle de qualidade do leite humano para distribuição. 

E esses bancos fornecem aos bebês que não podem ir ao seio materno o leite humano ordenhado, que é submetido a um tratamento térmico de pasteurização para a segurança microbiológica, e congelado e armazenado a -18ºC por até seis meses 

Apesar do foco inicial não ter sido esse, a nova técnica pode ser utilizada tanto no leite não conforme quanto no conforme. Isso porque o leite em pó não necessita dos 18 graus negativos de temperatura de congelamento para o seu armazenamento.

Leia também: Consumo de leite materno por prematuros está associado ao melhor desempenho cardíaco?

Além dessa vantagem, o leite pode ser guardado em embalagens a vácuo, que demandam espaços menores e facilitam o transporte para locais com maior demanda. 

As análises do pesquisador Otávio Ribeiro ocorreram na UFV, entre 2017 e 2021, e teve início graças a uma parceria com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), através do coordenador da rBLH-BR, João Aprígio Guerra de Almeira, ex-aluno da UFV, e da responsável pelo Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite Humano, Danielle Aparecida da Silva. 

“Temos muito ainda a conhecer sobre o leite humano e, por isso, é necessária a continuidade de estudos na área”, afirmou Otávio Ribeiro.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED 

Referências bibliográficas:

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.