As autoridades sanitárias da China anunciaram o primeiro caso de infecção humana da variante H3N8 da gripe aviária no mundo. O infectado em questão é um menino de quatro anos, morador da província central de Henan. Ele desenvolveu febre, entre outros sintomas, no dia 5 de abril. Mesmo assim, as autoridades envolvidas afirmaram que o risco de transmissão em pessoas é baixo.
Nenhum contato próximo foi infectado com o vírus, a criança teve contato com frangos e corvos criados em sua casa, acrescentou a nota enviada para a imprensa.
As autoridades sanitárias chinesas disseram que uma avaliação inicial determinou que a variante ainda não tem a habilidade de infectar efetivamente os seres humanos, e que o risco de uma epidemia em grande escala é baixo.
“Muitas vezes um vírus se espalha para um humano e depois não se espalha mais. Então, um único caso não deve ser motivo de grande preocupação”, explicou o professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global da Universidade de Oxford, Sir Peter Horby.
Muitas variantes diferentes de gripe aviária estão presentes no território chinês, e algumas delas, de maneira esporádica, infectam indivíduos, normalmente os mais suscetíveis trabalham com aves. No ano passado, as autoridades sanitárias do país afirmaram que tinham populações imensas de aves selvagens criadas para consumo, possibilitando um ambiente ideal para que vírus aviários se misturem e sofram mutações. A vigilância maior sobre a influenza aviária em pessoas também significa que mais infecções estão sendo identificadas.
Variante H3N8
A variante H3N8 foi detectada anteriormente em outros lugares do mundo em cavalos, cachorros, pássaros e focas, mas nenhum caso de H3N8 em humanos havia sido reportado até esse comunicado.
Segundo o especialista em gripe do Royal Veterinary College, na Grã-Bretanha, Nicola Lewis, análises da sequência do genoma inteiro indicam que o vírus H3N8 neste caso humano é um rearranjo, com genes de vírus que foram detectados anteriormente em aves domésticas e selvagens.
“O vírus exige vigilância ampliada. Sua implicação na pandemia de gripe de 1889, conhecida como gripe russa, foi “uma grande preocupação pelo risco do vírus”, informou o vice-chefe da unidade de virologia do Instituto Pasteur, no Camboja, Erik Karlsson.
As enormes populações chinesas de aves de criação e selvagens de muitas espécies fornecem um ambiente ideal para que os vírus aviários se misturem e sofram mutações. Alguns infectam esporadicamente pessoas, geralmente aquelas que trabalham com aves.
As infecções em humanos, embora raras, podem levar a mutações adaptativas que potencialmente permitem que esses vírus se espalhem mais facilmente em mamíferos.
O pesquisador John McCauley, diretor do Centro Mundial para Influenza da Organização Mundial da Saúde, afirmou que o caso é “incomum e está sendo investigado pela OMS e seus homólogos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação”.
Surtos de gripe aviária
Especialistas lembram que a transmissão generalizada e o número recorde de surtos de gripe aviária em aves em todo o Reino Unido, Estados Unidos e Europa este ano foi motivo de preocupação, uma vez que aumentou a oportunidade para os vírus aviários se misturarem e sofrerem mutações e para infectar humanos.
“Precisamos aumentar a vigilância de influência globalmente de forma bastante concentrada agora. Além do H3N8, vimos diversos outros novos eventos de transmissão da gripe de aves para pessoas nos últimos anos, incluindo H5N8 na Rússia e H7N9 e H10N3 na China”, disse a professora assistente do centro de ciências e segurança da saúde global da Universidade de Georgetown, Alexandra Phelan.
No Reino Unido, por exemplo, os consumidores não podem mais comprar ovos caipiras, com as aves não sendo permitidas ficarem ao ar livre desde novembro devido a cerca de 100 surtos de gripe aviária. No entanto, houve menos de cinco casos de transmissão de ave infectada para humano registrados no Reino Unido. O mais recente caso aconteceu em janeiro deste ano, quando um homem foi infectado pelos patos que mantinha dentro de sua casa .
A epidemiologista da Université Libre de Bruxelles, na Bélgica, Marius Gilbert, alertou que um novo vírus deve sempre ser analisado com muito cuidado, “especialmente quando é rearranjado, pois pode ter capacidade imprevisível em termos de transmissão e virulência na população humana”.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
3 abr. 2024 
5 min. 
