Os tumores glômicos são raros e caracterizados por alterações microvasculares mais comumente encontradas na região subungueal dos dedos da mão, embora possam aparecer em uma infinidade de órgãos do corpo humano. Na grande maioria das vezes são benignos, podendo representar 1% a 5% dos tumores de partes moles da mão.
Clínica
Clinicamente, os tumores glômicos da mão se apresentam com dor paroxística, aumento da sensibilidade ao toque e hipersensibilidade ao frio.
O tratamento para essas lesões é a ressecção completa, que tem excelente resultado na melhora da dor. Entretanto, as taxas de recorrência chegam a 20% em alguns estudos, atribuídas a excisão inadequada ou lesões satélites. Foi publicado em agosto na Revista Iberoamericana de Cirugía de la Mano um estudo brasileiro com o objetivo de caracterizar a epidemiologia dos tumores glômicos da mão e relacionar com a taxa de recorrência.
O estudo
O estudo foi desenvolvido no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO), analisando retrospectivamente 68 prontuários diagnosticados com tumores glômicos entre 2000 e 2021, uma amostra extremamente relevante devido a raridade da patologia. Assim, foram coletadas variáveis numéricas e categóricas relacionadas à epidemiologia e recorrência e os resultados avaliados estatisticamente.
Resultados
Dos pacientes inicialmente listados, dois prontuários estavam inacessíveis e foram excluídos do estudo e 14 apresentavam ocorrência em outra localização que não a mão. Quanto aos 52 pacientes com tumores glômicos na mão, 40 (75,5%) casos ocorreram na região subungueal, nove (17,0%), na região polpa, e quatro (7,5%), em outras partes da mão, tendo um paciente acometimento bilateral.
Em relação à etnia, 26 (51,0%) pacientes eram brancos, 14 (27,4%), pardos e 11 (21,6%), pretos. A média de idade da amostra foi de 49 (desvio padrão [DP]: 12,2) anos, com o paciente mais velho tendo 81 anos e o mais novo, 23 anos.
A dor foi o principal sintoma relacionado, e a maioria dos tumores apresentou tamanho entre 5 mm e 1 cm. Entre os 52 pacientes, 11 casos apresentaram recidivas, com tempo médio até o aparecimento de 39,4 meses, mas três delas foram inicialmente operadas em outros hospitais. Nenhuma das variáveis se mostrou preditor de recorrência, embora tenhamos visto que o envolvimento ósseo nas radiografias esteve presente apenas em alguns casos de recorrência.
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Considerações e mensagem prática
A amostra estudada foi grande para esta doença rara, e reforçou resultados prévios quanto à sua epidemiologia. Como 54% dos casos de recorrência ocorreram pelo menos duas vezes (mesmo sendo operadas em um Instituto de referência), é recomendável que as análises genéticas, histológicas e imuno-histoquímicas sejam foco de estudos futuros, bem como a busca por envolvimento ósseo e tendinoso.