Qual manobra recomendar ao paciente em tratamento da VPPB em domicílio?

A VPPB é caracterizada por episódios recorrentes e fugazes de vertigem, com duração curta, geralmente desencadeada por movimentos cefálicos. 

A vertigem paroxística posicional benigna geralmente (VPPB), é causada pelo deslocamento de otoconias no canal semicircular afetado, termo conhecido como canalolitíase. A canalolitíase mais comum é relacionada ao canal semicircular posterior. Atualmente, as terapias de escolha para canalolitíase posterior é o reposicionamento através das manobras de Epley ou manobra de Semont. Ambos são terapias com eficácia nível 1 com taxa de sucesso de 95% se performado corretamente. 

Saiba mais: Vertigem Posicional Paroxística Benigna: atualização e diagnóstico

Qual manobra recomendar ao paciente em tratamento da VPPB em domicílio?

Qual manobra recomendar ao paciente em tratamento da VPPB em domicílio?

Manobra de Epley 

A manobra de Epley consiste na posição sentada com as pernas esticadas ao longo da maca, de forma que o paciente realize as seguintes etapas: (1) rotação cefálica a 45º no sentido do vestíbulo afetado, (2) inclinar o tronco e a cabeça para trás de forma que a cabeça fique suspensa abaixo da linha horizontal do corpo; (3) prosseguir com rotação cefálica em torno de 90º no sentido do vestíbulo não afetado, (4) rotação de todo o corpo para o lado do vestíbulo não afetado e virar a face do paciente para o chão e (5) sentar se novamente com a cabeça rodada a 45º no sentido do vestíbulo não afetado e posteriormente direcioná-la para posição neutra. A compreensão dessa manobra e do movimento das otoconias até o vestíbulo é possível através do vídeo ilustrativo publicado no canal da JAMA no Youtube.

Manobra de Semont-Plus 

Já a manobra de Semont-plus consiste no paciente sentar-se na maca e realizar as seguintes etapas: (1) rodar a cabeça a 45º em direção ao lado não-afetado, (2) deitar o tronco a 150º para o lado afetado e (3) movimentar novamente o tronco a 240º do lado não afetado. A compreensão dessa manobra e do movimento das otoconias até o vestíbulo é possível através desse excelente vídeo ilustrativo no canal da JAMA no Youtube.

A revista JAMA Neurology publicou recentemente um estudo que avaliou a eficácia da realização das manobras para VPPB que são executadas pelo próprio paciente. Confira como foi esse novo estudo: 

Métodos 

O ensaio clínico realizado para avaliar a eficácia dessas manobras, executadas pelos próprios participantes, ocorreu em três centros acadêmicos europeus. O recrutamento ocorreu entre junho de 2020 e março de 2022. 

Foram elegíveis os pacientes inclusos acima de 18 anos com diagnóstico de canalolitíase posterior de VPPB de acordo com os critérios diagnósticos da Classification Committee of Vestibular Disorders of the Bárány Society 2015. Pacientes exclusos foram àqueles não capazes de consentir, abaixo de 18 anos ou que não fossem capazes de performar as manobras do estudo.  

A randomização ocorreu de forma aleatória, na razão 1:1, para grupos de tratamento ou da manobra de Epley (ME) ou manobra de Semont-plus (MS). 

Uma primeira manobra foi realizada por médico de acordo com cada grupo de tratamento. O paciente, simultaneamente, recebia instruções verbais de como realizar adequadamente a manobra. Após 15 minutos da primeira manobra, uma segunda manobra era realizada para avaliar o efeito de manobra única. 

Para as manobras executada por conta própria, os pacientes recebiam instruções escritas com figuras para realização das manobras segundo os grupos. A frequência para realização das manobras ocorria nove vezes ao dia: três pela manhã, três pela tarde e três à noite. 

Além disso, os participantes deveriam preencher um formulário padronizado mencionando sobre os dias que experimentavam vertigens posicionais. Quando ocorria a primeira vez de realizar a manobra diagnóstica e esta não induzir vertigem posicional, o paciente deveria realizá-la por mais dois dias para certificar-se que estava livre dos sintomas vertiginosos. 

O desfecho primário foi o número de dias livres de vertigem posicional, especificamente na manhã. Em relação a desfechos secundários, foi avaliado a taxa de sucesso de uma manobra única quando performada pelo médico no início do estudo. 

Resultados 

Entre os 253 pacientes elegíveis para o estudo, 140 participantes foram randomizados nos grupos: 106 alocados para ME e 108 para MS-plus. Contudo, houve algumas perdas em follow-up, desistências por ansiedade e descontinuação da intervenção por performance errônea das manobras. Sendo assim, um total de 195 participantes foram incluídos na análise (97 para o grupo submetido à manobra de Epley e 98 para o grupo submetido à Semont-plus). A amostra apresentou idade média de 62,6 anos e 64,1% mulheres. 

O tempo médio de dias livres de ataques de VPPB no grupo com manobra de Semont-plus foi de dois dias, enquanto no grupo de Epley modificado foi de 3,3 dias. O teste de Mann-Whitney bicaudal revelou diferença significativa na comparação entre esses grupos (valor p = 0,01). 

Quanto à ausência de vertigem posicional após performance única de manobra terapêutica, o grupo com Semont-plus apresentou melhora em 68.4% enquanto o grupo com Epley em 62.9%. O teste qui-quadrado, contudo, não revelou diferença entre os grupos para esse desfecho secundário (valor p = 0.42). 

Não foram detectados eventos adversos graves em ambos os grupos. 19.6% do grupo com manobra de Epley modificada apresentou náuseas na execução de manobras terapêuticas, enquanto 24.5% do grupo com manobra de Semont apresentaram náuseas significativas. 

Considerações 

Nesse estudo, a manobra de Semont-plus foi efetiva, comparada à Epley modificado, no tratamento de canalolitíase posterior de VPPB. Estudos com comparações diretas prévias entre Manobra de Semont e Manobra de Epley não evidenciaram diferenças quanto à eficácia. 

O estudo apresenta algumas limitações. Como o tratamento era realizado pelo próprio participante no seu domicílio, não havia como monitorar a qualidade das manobras performadas. Além disso, o desfecho primário foi através do preenchimento de dias sem vertigem descritos por meio de questionários auto preenchíveis e com itens subjetivos. Não foi comparada a eficácia das manobras de MS-plus e ME realizadas pelo paciente em relação aos realizados pelos médicos no início do estudo. 

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Conclusão e mensagem prática 

A manobra de Semont-Plus apresentou eficácia, nesse ensaio clínico randomizado europeu, para tratamento de canalolitíase posterior de VPPB quando comparada à manobra de Epley. Dessa forma, recomendá-la na prática clínica no tratamento de VPPB é interessante em virtude do seu benefício e de poucos eventos adversos. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Strupp, Michael, et al. "The Semont-Plus Maneuver or the Epley Maneuver in Posterior Canal Benign Paroxysmal Positional Vertigo: A Randomized Clinical Study." JAMA neurology (2023). doi:10.1001/jamaneurol.2023.1408

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