O paciente em questão encontra-se em um estado hiperadrenérgico, provavelmente secundário ao uso de cocaína, conforme os dados da história clínica. Nesse caso, como o paciente não apresenta dor torácica, ou nenhuma outra forma de complicação, o ideal é apenas manejar os sintomas que são: sintomas de psicose e agitação, taquicardia e hipertensão além de diaforese e tremores.

A cocaína é uma droga estimulante que impede ativamente a recaptação de noradrenalina, levando a um estado hiperadrenérgico temporário. A cocaína ainda atua como um indutor de síntese da enzima calmodulina cinase II o que leva a uma hipertrofia miocárdica e aumenta a presença de cálcio citoplasmático nas células; ambas são consequências que favorecem a precipitação de arritmias. Ainda no miocardiomiócito a cocaína se liga ao canal hERG, que é um canal de potássio retificador retardado do tipo rápido, o que vai gerar uma alteração na despolarização miocárdica. Portanto, deve-se ficar muito atento à interação da droga com outras drogas e fármacos que interferem no intervalo QT.

O uso episódio da droga gera estados de hiperexcitação autonômica temporários, mas o uso recorrente gera alterações estruturais cardíacas importantes. Essas alterações remodelam o miocárdio e podem causar arritmias fatais bem como aumentar o risco de isquemia miocárdica.

O manejo inicial dos sintomas deve ser realizado utilizando benzodiazepínicos. Em casos em que não haja complicações específicas (síndrome coronariana aguda, arritmias específicas) devem ser a droga de predileção. Entre os benzodiazepínicos o que tem melhor perfil de resposta para esses casos é o lorazepam, com nível 1A de evidência. O uso do benzodiazepínico habitualmente é suficiente para o controle da hipertensão e taquicardia nesses casos, auxiliando também na agitação psicomotora e sintomas psicóticos mais brandos.

As demais drogas citadas não tem eficácia evidente para o abuso de cocaína, e podem ser úteis em contextos de comorbidades específicos, porém não para a abordagem inicial. Em relação ao betabloqueador as evidências ainda se mantém controversas, não sendo totalmente claros os benefícios frente aos riscos para precipitação de síndrome coronariana aguda, e portando deve ser evitado.